Alívio às Santas Almas pelo Santo Sacrifício da Missa - Madre Inês e Irmã Serafina - Rainha Margarida da Áustria e o Arquiduque Alberto - Padre Mancinelli e o Manto da Caridade
Acabamos de falar da eficácia do Santo Sacrifício para aliviar as pobres almas. Uma fé viva neste mistério consolador inflama a devoção dos verdadeiros fiéis e suaviza a amargura da dor da perda. A morte privou-os de um pai, de uma mãe, de um amigo? Voltem os seus olhos lacrimosos em direção ao Altar, que lhes oferece o meio de testemunhar o seu amor e a sua gratidão para com os seus queridos defuntos. Daí resulta as numerosas missas que podem mandar celebrar; daí também esse afã de assistir ao Santo Sacrifício de Propiciação em favor dos defuntos.
A Venerável Madre Inês de Langeac, religiosa dominicana de quem já nos referimos antes, assistia à Santa Missa com a máxima devoção e incentivava as suas religiosas a um fervor semelhante. Dizia-lhes que este Divino Sacrifício era o ato mais santo da religião, a obra de Deus por excelência, e recordava-lhes a Sagrada Escritura: 'Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!' (Jr 48,10).
Uma irmã da comunidade chamada Serafina faleceu; ela não tinha prestado atenção suficiente aos conselhos salutares da sua Superiora e foi condenada a um Purgatório severo. Madre Agnes soube disso por revelação. Num êxtase, foi levada em espírito ao lugar da expiação e viu muitas almas no meio das chamas. Entre elas, reconheceu a Irmã Serafina que, por meio de penosos lamentos, implorava a sua ajuda. Tocada pela mais viva compaixão, a caridosa Superiora fez tudo o que estava ao seu alcance: durante oito dias, jejuou, comungou e assistiu à Santa Missa em intenção da querida irmã falecida. Enquanto rezava, entre lágrimas e suspiros, implorando a Divina Misericórdia por meio do precioso Sangue de Jesus, para que Ele tivesse a bondade de livrar a sua querida filha daquelas terríveis chamas e admiti-la ao deleite da sua presença, ela ouviu uma voz que lhe disse: 'Continue a rezar; a hora da libertação dela ainda não chegou'. Madre Agnes perseverou na oração e, dois dias depois, enquanto assistia ao Santo Sacrifício, no momento da elevação, viu a alma da Irmã Serafina elevar-se ao Céu num êxtase de alegria. Esta visão consoladora foi a recompensa da sua caridade e a inflamou ainda mais na devoção pelo Santo Sacrifício da Missa.
As famílias cristãs, que possuem um espírito de fé viva, têm o dever, segundo a sua categoria e os seus meios, de mandar celebrar um grande número de missas pelos defuntos. Na sua santa liberalidade, esgotam os seus recursos para multiplicar os sufrágios da Igreja e assim aliviar as almas santas. Conta-se na Vida da Rainha Margarida de Áustria, esposa de Filipe III que, no dia de suas exéquias, se celebraram na cidade de Madri quase mil e cem missas pelo repouso da sua alma. Esta rainha tinha pedido por mil missas no seu último testamento e o Rei mandou acrescentar este número para vinte mil. Quando o arquiduque Alberto morreu em Bruxelas, a piedosa Isabel, sua viúva, mandou celebrar quarenta mil missas pelo repouso da sua alma e, durante um mês inteiro, ela própria assistiu com a maior piedade às dez missas de cada dia (Padre Mumford, 'Caridade para com os Falecidos').
Um dos modelos mais perfeitos de devoção ao Santo Sacrifício da Missa e da caridade para com as almas do Purgatório, foi o Padre Júlio Mancinelli, da Companhia de Jesus. As missas oferecidas por este digno religioso - diz L. Rossignoli (Merv 23) - pareciam ter uma eficácia toda especial para o alívio dos fiéis defuntos. As almas apareciam-lhe frequentemente para implorar o favor de uma única Missa.
César Costa, tio do Pe. Mancinelli, era arcebispo de Cápua. Um dia, encontrando o seu santo sobrinho muito mal vestido, apesar do mau tempo, deu-lhe, com a maior caridade, uma esmola para que comprasse um manto. Pouco tempo depois, o arcebispo faleceu; e o padre, ao sair para visitar os doentes, envolto no seu novo manto, encontrou o seu falecido tio a vir em sua direção, envolto em chamas e a pedir-lhe que lhe emprestasse o seu manto. Assim que o padre concedeu e o arcebispo vestiu o manto, as chamas extinguiram-se de imediato. O Pe. Mancinelli compreendeu que aquela alma estava a sofrer no Purgatório e que pedia a sua ajuda, em troca da caridade que tivera para com ele. Pegando então o manto, prometeu rezar pela pobre alma sofredora com todo o fervor possível, especialmente junto do altar.
Este fato foi noticiado internacionalmente e produziu uma impressão tão salutar que, após a morte do padre, foi representado em uma pintura que se conserva no Colégio de Macerata, a sua terra natal. O Padre Júlio Mancinelli é visto no altar, vestido com as vestes sagradas, um pouco elevado acima dos degraus do altar, para significar o arrebatamento com que foi favorecido por Deus. Da sua boca saem faíscas, emblema das suas orações ardentes e do seu fervor durante o Santo Sacrifício. Sob o altar, vê-se o Purgatório e as almas que recebem o benefício dos seus sufrágios. Por cima dele, dois anjos derramam de vasos esplendorosos uma chuva de ouro, significando as bênçãos, as graças e os privilégios concedidos às pobres almas em virtude do Santo Sacrifício. Vemos também o manto e uma inscrição em verso, que traduzida diz assim: 'Ó veste milagrosa, dada como proteção contra a severidade do frio e que depois serviu para temperar o calor do fogo. É assim que a caridade atua, dando calor ou refrigério, segundo os sofrimentos que alivia'.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.