A vida de Germaine Cousin* (1579 - 1601) é um mistério insondável dos desígnios divinos sobre a natureza da dor e do sofrimento nesta terra. Na percepção humana, é praticamente inconcebível a dimensão de tanto abandono e sofrimento que podem ser padecidos por uma criança inocente. E, quando descobrimos então que uma Cinderela realmente existiu, nos prostramos silenciados diante a realidade do mal.
Germana* nasceu na aldeia de Pibrac, perto de Toulouse, na França em 1579. Nasceu com a mão direita deformada e padecia de tuberculose linfonodal, uma doença caracterizada por alterações da pele e das mucosas e por tumefações ganglionares, que vai lhe impor uma saúde debilitada por toda a vida. Com a morte prematura da mãe e uma nova união do pai, viveu sob a autoridade, o desprezo e os maus-tratos de uma madrasta particularmente cruel, que a relegou a uma condição servil de trabalho escravo e a humilhações de toda ordem. Dormia sob uma escada no celeiro, fazia todo o trabalho servil na casa e ainda cuidava do rebanho de ovelhas da família sendo mantida, assim, o tempo todo, longe do convívio dos seus irmãos e irmãs. Tudo isso sob a complacência do pai que ignorou todos os seus sofrimentos. Não parece o retrato de uma personagem do reino da fantasia muito conhecida? Mas a maldade existe também em escala inimaginável no mundo real e Germana era um triste exemplo dessa realidade cruel.
E não há príncipes encantados nessa história. Germana aceitou cada minuto de uma vida de absoluta entrega a Deus pela via da santificação, moldada pela oração, humildade, caridade e sofrimento. E seus feitos foram tão espantosos quanto a sua história de vida e, no quase anonimato de uma aldeia francesa do século XVI, Deus a contemplou com milagres portentosos. Eis aqui três deles:
Ela costumava deixar o rebanho de ovelhas (para ir à missa diária) sob a guarda da Providência divina (e nunca perdeu nenhuma ovelha). Para acessar a igreja, ela tinha que transpor um pequeno riacho que cortava a aldeia. Num certo dia muito chuvoso, porém, o riacho se transformara num caudal violento, sem possibilidade de passagem, o que levara alguns camponeses a observar de perto a cena incomum. Germana nem sequer diminuiu o passo ao se aproximar da enchente e, quando tocou a água, sob a estupefação dos presentes, as águas simplesmente se separaram e ela atravessou o riacho a pé enxuto, numa simulação espantosa da abertura das águas do Jordão para a passagem da Arca da Aliança. Alcançada a margem oposta, as águas desabaram novamente ao curso tumultuado da enchente.
Germana vivia o mandamento da caridade. Em certa ocasião, colocou alguns pedaços de pão no avental para distribuir aos pobres. Acuada no caminho pela madrasta, foi acusada de roubo à vista dos presentes na rua, sendo ordenada aos gritos para abrir o avental e apresentar publicamente a todos os produtos do seu roubo. Ao fazer isso, em vez de pães, o avental guardava flores, muitas flores, impossíveis de cultura e colheita naquela época, então o auge do inverno. A pequena pastora reproduziu em Pibrac o milagre de Santa Isabel da Hungria no século XIII! Em outra ocasião, Deus a permitiu simular um evento de Nosso Senhor, ao reproduzir o milagre da multiplicação dos pães.
Numa certa noite de 1601, dois monges em viagem foram forçados a passar a noite em uma floresta perto de Pibrac. De repente, foram despertados por um cortejo de anjos que, envolvidos por uma luz resplandecente, movia-se em direção ao povoado. Pouco depois, o cortejo retornou da mesma forma pela floresta, trazendo agora, entre eles e em destaque, a figura de uma virgem com uma coroa de flores na cabeça. Ao chegarem ao povoado, ficaram sabendo então da história de Germana, que havia falecido no celeiro naquela noite, aos 22 anos de idade. Como no conto de fadas, a Cinderela da vida real era alçada a ser princesa nos Céus.
A partir de então, inúmeras curas milagrosas foram atribuídas a Germana e a sua fama de santidade se espalhou rapidamente, atingindo outro patamar quando o seu corpo incorrupto foi exumado, 43 anos após a sua morte, o que deu início ao processo diocesano de beatificação e canonização da humilde pastora. Foi beatificada em 1854 e, em 1867, foi declarada santa pelo papa Pio IX, que hoje veneramos como Santa Germana de Pibrac. Suas relíquias repousam na basílica erigida em sua homenagem em Pibrac. É a padroeira da Diocese de Toulouse e modelo particular de santidade para as crianças e jovens que sofrem ou sofreram maus-tratos e humilhações.
(Basílica de Santa Germana em Pibrac)
* pronuncia-se Germéne Cuzán; em português Germana de Pibrac
SANTA GERMANA DE PIBRAC, ROGAI POR NÓS!
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