sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

VERSUS: IGREJA CATÓLICA X IGREJA CATÓLICA


Publicado recentemente em italiano (em 12 de janeiro deste ano), a obra Nient'altro che la Veritá - Nada Além da Verdade - constitui um relato pessoal das experiências do arcebispo Georg Gänswein como secretário pessoal de Bento XVI, que se estende até a morte e o funeral do papa emérito. A obra revela um profundo desentendimento entre os dois pontífices em relação à chamada liturgia extraordinária da Santa Missa.

Num contexto de franca exclusão, o papa Bento XVI praticamente libertou as amarras e as restrições à celebração do chamado Rito Tridentino, com a publicação do motu proprio Summorum Pontificum de 2007, permitindo, a partir de então, a livre manifestação litúrgica da missa na 'Forma Extraordinária' (rito antigo) em complemento às celebrações da missa na 'Forma Ordinária' (rito atual, pós 1962). Em 2021, estas proposições foram duramente rescindidas pelo Papa Francisco no motu proprio Traditiones Custodes (restrições que ficaram ainda mais rígidas posteriormente por meio de deliberações específicas da Congregação para o Culto Divino e os Sacramentos do Vaticano).

Na obra citada, o arcebispo Gänswein revelou que o papa Bento XVI ficou profundamente consternado com essa decisão e que a considerava um grande erro do papa Francisco, pelo que compartilhava a dor de milhares de sacerdotes e leigos católicos apegados ao Rito Antigo e que não encontravam justificativas para essa quase total supressão (tal o nível de limitações e exigências formais que envolvem atualmente a celebração desse rito). Trata-se de um posicionamento dúbio e frontalmente antagônico entre dois pontífices da Igreja, o que é particularmente preocupante.


O cardeal australiano George Pell recentemente falecido (10 de janeiro deste ano), arcebispo-emérito de Sydney e prefeito da Secretaria para a Economia do Vaticano entre 2014 e 2019, foi um dos colaboradores mais próximos do papa Francisco. No último artigo que escreveu antes de sua morte - publicado no periódico The Spectator - criticou duramente o atual documento normativo do presente Sínodo proposto pelo Papa Francisco, que tem sessões finais previstas para serem realizadas em Roma em 2023 e 2024. 

O Cardeal Pell designa o documento básico do atual Sínodo Por uma Igreja Sinodal, que congrega e sistematiza as principais proposições coligidas nas etapas preliminares das discussões, como 'um dos documentos mais incoerentes já enviados por Roma', como um manifesto de  'jargão neomarxista' e 'hostil de maneira significativa para a tradição apostólica'. Foi ainda mais longe, ao caracterizar o projeto deste Sínodo com assertivas duríssimas como  'pesadelo tóxico' e 'um derramamento de boa vontade da Nova Era'. Não é também nem de longe uma crítica qualquer ou uma crítica a mais nestes tempos tremendos para a religião católica, para o papado e para a Santa Igreja de Deus.