segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: À SOMBRA DA EUCARISTIA

A alma interior, abençoada por ser amada profundamente por Jesus Cristo quer, por sua vez, ser testemunha da afeição que dedica a Ele. Sabe que Ele habita no Tabernáculo. E, impulsionada pelo amor, ela se põe em oração diante dEle todas as noites para O louvar, mortificar e adorar, no silêncio do coração.

A alma interior recolhe-se em si, fecha a porta do santuário e fica completamente só em presença de Deus. A alma está verdadeiramente face a face com o seu Deus que permanece, antes de tudo, como uma presença divina nos corações. Parece à alma, e é verdade, que ela não precisa fazer mais nada senão uma coisa: amar. E assim ama por horas sem se cansar. Se pudesse, ficaria ali para sempre, para amar para sempre.

Enquanto a alma interior dialoga com Jesus, ao pé do Tabernáculo, a lembrança de suas ações do dia lhe vem à mente. Ela se pergunta se procedeu bem em tudo. Certifica-se das faltas que lhe escaparam no momento da ação. Reconhece que não disse bem aquela palavra, não executou bem determinada ação, não aceitou com alegria aquele sofrimento ou aquela contradição. E reconhece então que carece de graça aos olhos de seu Amado Salvador. 

Ela se dá conta de suas imperfeições: tem algumas manchas nas mãos e no rosto. E isso lhe causa dor,  principalmente por Ele, que merecia ser mais amado e melhor servido. Lágrimas de arrependimento sobem do coração aos seus olhos. Compreende que, para reparar isso, é preciso amar muito mais. E, sob o aguilhão da dor, seu amor por Jesus é vivificado, torna-se mais forte e mais ardente do que nunca; sua chama é purificadora. E assim como o fogo faz desaparecer os menores vestígios de ferrugem, o ardor da caridade apaga também as menores imperfeições. A alma interior não ignora que isso ocorre e, assim, se alegra profundamente. E ela fica imersa então em uma paz perfeita.

O que pode ser mais suave para a alma interior do que a sombra de Jesus-Hóstia? É ali que a alma deve reclinar-se; é ali que Ele a espera em silêncio. Sim, há uma sombra espiritual na Custódia, tal como também está no Tabernáculo. Mas nem todo mundo a vê e nem todos se  recolhem sob o influxo dela. Mas quem nela se deleita, sabe os frutos que se colhem. No silêncio e na paz, alimenta-se a alma de um pão substancial, que é o próprio Cristo Jesus. E, pouco a pouco, a própria alma se transfigura por este alimento divino no próprio Jesus.

Sua aparência permanece a mesma ou quase a mesma, mas o que há de mais íntimo e profundo nela torna-se algo muito diferente. É Ele quem agora pensa, fala e trabalha por ela; é Ele quem vive por ela. Poderia haver algo mais suave para a alma do que se ver assim transformada no seu próprio Salvador, à sombra da Hóstia?

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)