Vexilla Regis constitui um dos mais belos hinos da liturgia da Igreja. O hino é de autoria de São Venantius Fortunatus (530-609), bispo de Poitiers, que o escreveu em homenagem à recepção solene de um fragmento da Santa Cruz, enviada à Rainha Radegunda pelo Imperador Justino II e sua esposa, a Imperatriz Sofia, de Bizâncio. O hino é cantado pela Igreja nos dias solenes da Semana Santa e na festa da Exaltação da Santa Cruz, com a exclusão feita comumente das estrofes II, IV e VII. Alguns dos versos originais do hino foram substituídos pelo Papa Urbano VIII em 1632, para a incorporação do mesmo no Breviário Romano (estes versos estão assinalados em itálico na tradução abaixo, feita pelo autor do blog).
Vexilla regis prodeunt,
fulget crucis mysterium,
quo carne carnis conditor
suspensus est patibulo
[qua vita mortem pertulit
et morte vitam protulit]*
Avançam os estandartes do Rei:
refulge o mistério da Cruz:
o Criador da carne, pela carne,
é suspenso no madeiro
[a Vida sustou a morte
e a morte fez surgir a vida]
Confixa clavis viscera
tendens manus, vestigia
redemptionis gratia
hic inmolata est hostia
Com o lado transfixado
e com mãos e pés estendidos,
a Vítima é oferecida em sacrifício
pelo preço da nossa Redenção
Quo vulneratus insuper
mucrone diro lanceae,
[Quae vulnerata lanceae
mucrone diro criminum]*
ut nos lavaret crimine,
manavit unda et sanguine
Aquele, ferido no lado
pela ponta afiada de uma lança,
[Da ferida pela lança
aberta por ponta afiada,]
para lavar nossos pecados,
fez jorrar sangue e água
Inpleta sunt quae concinit
David fideli carmine,
dicendo nationibus:
regnavit a ligno Deus
Cumpriu-se de forma precisa
a profecia fidedigna que Davi
fez anunciar às nações:
Deus fez da Cruz o seu trono
Arbor decora et fulgida,
ornata regis purpura,
electa, digno stipite
tam sancta membra tangere!
Ó Madeiro formoso e refulgente,
ornado com a púrpura do Rei,
cujo tronco foi digno de sentir
o toque de membros tão nobres!
Beata cuius brachiis
pretium pependit saeculi!
statera facta est corporis
praedam tulitque tartari
[tulitque praedam tartari]*
Lenho bendito de cujos braços
pendeu a restauração do mundo:
e que serviu de berço para o Corpo
que arrebatou as vítimas do inferno
Fundis aroma cortice,
vincis sapore nectare,
iucunda fructu fertili
plaudis triumpho nobili
Verte pela casca um aroma,
suave como o sabor do néctar
inebriante como maduro fruto,
que exala um triunfo excelso
Salve ara, salve victima
de passionis gloria,
qua vita mortem pertulit
et morte vitam reddidit
Louvor ao Altar, Louvor à Vítima
da glória da Paixão,
pela qual a Vida sustou a morte
e a morte fez restaurar a vida.
O Crux ave, spes unica,
hoc Passionis tempore!
piis adauge gratiam,
reisque dele crimina
Salve, ó Cruz, única esperança,
neste tempo da Paixão
aumenta a graça aos justos
e perdoa os pecados dos ímpios
Te, fons salutis Trinitas,
collaudet omnis spiritus:
quos per Crucis mysterium
salvas, fove per saecula. Amen.
[quibus Crucis victoriam
largiris, adde praemium. Amen]*
Ó Trindade, fonte de toda salvação!
Que todo espírito vos louve
para que, pela mistério da Cruz,
sejam salvos para a graça eterna. Amém.
[e que, pelo triunfo da Cruz,
alcancem o prêmio eterno. Amém.]
(* versos alterados pelo papa Urbano VIII)