sexta-feira, 26 de abril de 2019

10 REGRAS PARA SERVIR A DEUS*

*(São Tomás de Villanova)

PRIMEIRA REGRA

Convém, perante todas as coisas, amar a Deus e ao próximo e guardar sua Lei cumprindo seus mandamentos, porque nisto está a vida; e cessar de pecar, determinando-se não cometer um pecado mortal, procurando se exercitar em toda virtude, guardando seu amor de tal maneira que a só Deus ame e nele só se empregue continuamente.

SEGUNDA REGRA

Remediar a vida passada, confessando-se geralmente e esquadrinhando com grande diligência sua consciência, satisfazendo ao Senhor com muita dor e lágrimas, e com muita vergonha e humilhação, pensando na cegueira passada, e tratando em sua memória a história da sua vida perdida, e chorando e doendo-se muito dela; e para mais satisfação, tomando alguma aspereza de jejuns, ou vigílias, ou disciplinas, ou silício que aflija a carne e façam vingança do deleite passado; e este exercício durará algum tempo, porque se aquele for bem feito não cairá em outro erro. Para deixar de pecar, ajudará ao princípio a abstinência, a solidão e clausura, silêncio, oração, ocupação, vigília, consideração da morte e do Juízo, do Céu e do Inferno.

TERCEIRA REGRA

Fugir a conversações de mundanos, que afogam o espírito e o bom desejo da alma devota. Procurar alguma conversação de alguma pessoa verdadeiramente espiritual, em quem more Deus, porque, como um carvão aceso acende outro, assim um coração aceso e inflamado em espírito inflama a outro.

QUARTA REGRA

Fugir e menosprezar todos os prazeres passados e deleites mundanos e vãos, e procurar descobrir outros deleites interiores, muito maiores e mais perfeitos, do espírito e do entendimento, os quais dão maior fartura à alma e fazem parecer criancices aqueles carnais (isto faz a contemplação profunda com oração e lição); e o mesmo digo de todas as riquezas, faustos, honras, favores deste mundo, e procurar muito ter o coração limpo de toda afeição temporal e desocupado de todo amor apaixonado de criatura, porque Nosso Senhor lhe enche de seu sagrado Espírito; porque este preciosíssimo bálsamo não cabe em vasos sujos, nem dará Nosso Bom Senhor suas pérolas aos porcos, pois o vedou a seus discípulos. Pelo qual cumpre em grande maneira a toda pessoa que pretende ser espiritual ter muito grande cuidado e diligência sobre seu Coração e apetites e desejos e pensamentos desordenados; porque seria sem isto por demais trabalhar.

QUINTA REGRA

Limpar muito a miúdo sua consciência, de oito em oito dias, ou ao menos de quinze em quinze, confessando e comungando com muita devoção; porque assim se alcança a graça para perseverar e ter grande fortaleza e firmeza no bom princípio e começo.

SEXTA REGRA

Ter em casa um oratório muito devoto, que convide a estar nele, para conversar com Deus e desocupar-se para o seguir, porque aqui se há de fundir como em crisol, para sair com o fogo do Espírito Santo. Aqui se alcança todo o bem. O que há de fazer no oratório é procurar dom de lágrimas, chorando seus pecados e recogitando sua vida passada. Tomar-se conta como vive agora, ver-se e olhar-se como em espelho, se aproveita ou não; ordenar sua vida para diante; pensar devotamente na Paixão e nos outros mistérios de nossa Redenção; dar graças a Deus pelos benefícios gerais, como é a criação do mundo e a Redenção do gênero humano, e pelos particulares. Contemplar o engano do mundo, a brevidade da vida, a eternidade da Glória ... assim se alcança graça, pureza, devoção, dom de lágrimas, luz, conhecimento da verdade, espírito e todas as virtudes e riquezas espirituais; assim faz o homem seu trabalho para que foi criado...  Muito o cristão tem de se empregar bem nisto e viver consigo e não andar desterrado fora de si e desterrado em ocupações vãs e sem fruto, que perecem e são danosas para a alma. Neste oratório, que se gaste o mais tempo que se puder para se furtar ao mundo e às atividades de sua pessoa e de sua casa.

SÉTIMA REGRA

Guardar a língua e o coração, e ter muito grande conta com seus pensamentos e desejos e palavras, sacudindo logo do seu coração todos os pensamentos vãos e nocivos. Ouvir muito e falar pouco e sobretudo pensado. Fugir de toda murmuração e mau juízo de outro. Não se ocupar em ler, nem contar, nem ouvir atos de outros, nem ser curioso de saber vidas alheias.

OITAVA REGRA

Ter cuidado de não perder o tempo, recordando-se sempre que deste momento de vida depende a eternidade futura de Glória; e ter por grande perda perder uma hora, na qual se pode ganhar tanto bem perpétuo.

NONA REGRA

Procurar crescer em toda virtude, olhando como em espelho as virtudes dos outros e procurando-os imitar; porque nas virtudes está o alicerce de todo bem. Ser piedoso, manso e sofrido, amoroso e caritativo com os pobres, de boa conversação, sem prejuízo de ninguém; fazer bem a todos e mal a ninguém, nem em juízo, nem por palavra, nem por obra. Sofrer fraquezas alheias, não criminar os pecados, senão com piedade rogar a Deus pelos que erram.

DÉCIMA REGRA

Tomar conta de todo o dito, exortando-se e repreendendo algo, animando-se de cada dia ser melhor e ir adiante, não esquecendo-se jamais; porque no fazer assegura a Glória que por ela espera, e que semeia nesta vida para colher na outra fruto sempiterno. E porque todo nosso aproveitamento depende da graça do Senhor, sempre cumpre pedir com instância saúde, socorro e luz para conhecer o bem, e graça para lhe amar, e forças para lhe seguir e perseverar; porque pouco aproveitará esta escritura se não favorece a graça do Senhor para por por obra o que a letra ou escritura nos ensina.

SÍNTESE GERAL

Primeira regra: guardar a Lei de Deus e deixar de pecar.
Segunda regra: satisfazer pelos pecados passados com dor e penitência.
Terceira regra: fugir da amizade de mundanos.
Quarta regra: menosprezar ao mundo e seus deleites.
Quinta regra: limpar a miúdo sua consciência, confessando e comungando.
Sexta regra: ter oratório para servir a Deus, conversando com Ele.
Sétima regra: guardar a língua e o coração.
Oitava regra: não perder o tempo.
Nona regra: crescer em virtude.
Décima regra: tomar conta do que aproveita.

(São Tomás de Villanova)