XXX
ATOS EXTERIORES DA RELIGIÃO: ADORAÇÃO. SACRIFÍCIO. OBLACÃO. EXPENSAS DO CULTO. VOTO. JURAMENTO. INVOCAÇÃO DO SANTO NOME DE DEUS
Além dos atos anteriores, que outros tem a virtude da religião?
Todos os exteriores destinados a honrar a Deus (LXXXIV-CXI)*.
Quais são?
Em primeiro lugar, certos movimentos corporais, como inclinação de cabeça, genuflexão, prostrações e, em geral, todos os compreendidos na palavra adoração (LXXXIV).
Em que consiste a sua bondade?
Em que, por meio deles, se honra a Deus com o corpo, e, sobretudo, em que atuam a modo de excelentes auxiliares, para fazer melhor os interiores, quando se praticam como convém (LXXXIV. 2).
Não podemos utilizar mais que o nosso próprio corpo para honrar a Deus com a virtude da religião?
Podemos oferecer-lhe também as coisas exteriores em sacrifício, homenagem e tributo (LXXXV-LXXXVIII).
Se considerarmos o sacrifício no sentido próprio de imolação de uma vítima, quantas formas há na Nova Lei?
Uma só, o sacrifício da Missa, em que, sob as espécies sacramentais do pão e do vinho, se oferece a Deus a única vítima agradável aos seus olhos, imolada no sacrifício da Cruz (LXXXV, 4).
É ato de religião grato a Deus contribuir, conforme o permitam os bens da fortuna, para estabelecer e realçar o culto e sustentar aos seus ministros?
Sim, Senhor (LXXXVI-LXXXVII).
Pratica-se este ato de religião, só quando se dá alguma coisa a Deus ou para o sustento dos seus ministros?
Não só se pratica, dando, como também prometendo coisas do agrado divino (LXXXVIII).
Que nome têm tais promessas?
Chamam-se votos (LXXXVIII, 1, 2).
Há obrigação de cumprir o prometido com voto?
Exceto em casos de impossibilidade ou dispensa, sim, Senhor (LXXXVIII, 3, 10).
Há alguma outra classe de atos externos de religião?
Sim, Senhor; o uso e manejo de coisas destinadas a honrar a Deus (LXXXIX).
Quais são?
Os objetos sagrados e o Santo Nome de Deus.
Que entendeis por objetos sagrados?
Os que, por intermédio da Igreja, receberam de Deus uma benção e consagração especiais, tais como as pessoas consagradas a Deus, os sacramentos, os sacramentais como a água benta, os objetos de piedade e os lugares destinados ao culto (LXXXIX Prólogo).
De que maneira podemos usar o Santo Nome de Deus em sua honra?
Amando-O por testemunha dos nossos assertos e invocando-O, para louvá-Lo e bendizê-Lo (LXXXVIX-XCI).
Como se chama o ato de invocar o Nome de Deus por testemunha do que dizemos ou prometemos?
Chama-se juramento (LXXXIX, 2).
É o juramento ato virtuoso e recomendável?
Somente o é em caso de grande necessidade e usando-o com a mais severa circunspecção (LXXXIX, 2).
Em que consiste a adjuração?
Em invocar o nome de Deus ou de alguma coisa sagrada para obrigar outrem a executar ou desistir de algum propósito (XC, 1).
É lícita?
Feita com o respeito que merece o invocado, sim, Senhor.
É louvável evocar com frequência o Nome de Deus?
Fazendo-o com o devido respeito e veneração, sim, Senhor (XCI).
XXXI
DOS VÍCIOS OPOSTOS À RELIGIÃO: SUPERSTIÇÃO, ADIVINHAÇÃO. DA
IRRELIGIÃO: TENTAR A DEUS, PERJÚRIO E SACRILÉGIO
Que vícios se opõem à virtude da religião?
Há vícios de duas classes; uns opostos por excesso e conhecidos com o nome de superstição e outros por defeito, chamados em geral irreligião (XCII, Prólogo).
Que entendeis por superstição?
Uma aglomeração de vícios que consiste em dar a Deus um culto indigno Dele ou em dar às criaturas o que só a Deus pertence (XCII-XCIV).
Qual é o motivo mais frequente de se cometerem estes pecados?
O desejo imoderado de conhecer o oculto e secreto e o futuro, pelo que se entregam os homens a práticas divinatórias e vãs e ridículas observâncias (XCV - XCVI).
Que excessos abrange a irreligião?
Dois: o de ver com indiferença ou desdém o que se refere ao culto e serviço de Deus e o de abster-se inteiramente de praticar atos de religião.
Reveste o último especial gravidade?
Sim, Senhor; visto como supõe desprezo ou esquecimento desdenhoso Daquele a quem todos os homens estão obrigados a servir e honrar.
Em que forma se propaga hoje em dia este vício?
Em forma de laicismo.
Que entendeis por laicismo?
Consiste o laicismo em por de parte completamente a Deus, já positivamente, perseguindo-o e tratando de expulsá-lo de toda a parte, a Ele, Dono e Senhor de tudo quanto existe, já negativamente, organizando a vida social, familiar ou individual, como se Ele não existisse.
Donde provém o grande pecado do laicismo?
A forma positiva, do ódio e fanatismo sectários; a negativa, de uma espécie de entorpecimento ou estupidez intelectual e moral, na ordem sobrenatural e metafísica.
Temos obrigação de nos opor energicamente e por todos os meios ao laicismo?
Sim, Senhor.
Que outros vícios abrange a irreligião?
O tentar a Deus, e o perjúrio, por opostos ao mesmo Deus e à reverência devida ao seu Santo Nome; o sacrilégio e a simonia, por serem contrários às coisas sagradas (XCVII-XCVIX).
Que entendeis por tentar a Deus?
O pecado que, contra a virtude da religião, cometem os que, sem respeito pela Majestade Divina, pedem e exigem a intervenção de Deus, como pondo à prova a sua onipotência ou a esperam em circunstâncias em que Deus não poderia intervir, sem negar-se a si mesmo (XCVII, 1).
Tentamos a Deus quando confiamos em seu auxílio, sem por de nossa parte o que podemos e devemos?
Sim, Senhor (XCVII, 1, 2).
Que entendeis por perjúrio?
O pecado contra a virtude da religião que consiste em confirmar uma falsidade apelando para o testemunho divino ou negar-se a cumprir o prometido com juramento (XCVIII, 1).
Tem conexões com o perjúrio a invocação irrefletida do nome de Deus, por costume e com qualquer pretexto?
Sem ser propriamente perjúrio, relaciona-se com ele e é, desde logo, intolerável falta de respeito ao Santo Nome de Deus.
Que entendeis por sacrilégio?
Uma profanação de pessoas, lugares ou coisas santificadas e consagradas ao culto e serviço de Deus (XCIX, 1).
É o sacrilégio um pecado muito grave?
Sim, Senhor; porque atentar contra o consagrado a Deus é de algum modo atentar contra o próprio Deus, que por isso impõe aos sacrílegos, os mais severos castigos, ainda neste mundo (XCIX, 2-4).
Que entendeis por simonia?
O pecado especial de irreligião que cometem os que, imitando a impiedade de Simão, o Mago, vilipendiam as coisas sagradas, considerando-as como vulgares mercadorias que os homens podem por à venda e comprar com dinheiro (C, 1).
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)