Quinta Objeção* do crente: apresentar um texto das Sagradas Escrituras que prove que São Pedro foi bispo de Roma.
O bom crente pede em 5º lugar um texto que prove que São Pedro foi bispo de Roma. Muito bem! Em troca, eu peço ao crente um texto que prove que São Pedro não foi bispo em Roma (gratis affirmatur; gratis negatur), porque o que afirma sem prova é refutado sem prova. Além disso, peço também um texto que prove que Lutero esteve na Alemanha – que foi padre, apóstata, amasiado e pai dos protestantes. Procure bem este texto, sim?
Responderá talvez o crente que tais fatos provam-se pela história, e não pela Bíblia, e diria bem, apesar de protestante. Sim, as verdades históricas devem ser demonstradas pela história. Se meu crente tivesse refletido um pouco, teria compreendido logo que a presença de uma pessoa num lugar, sua ação, sua influência é, antes de tudo, um fato histórico que se deve provar pelos historiadores e não pela Bíblia.
Eu podia limitar-me a esta prova geral, entretanto quero não somente responder ao seu 'desafio', mas quero ainda mostrar perante todos a ignorância supina, a má fé e a falsidade dos protestantes. Para isso provarei a estadia de São Pedro em Roma, pela história e pela Sagrada Escritura. Peço ao amigo crente depor um instante seus preconceitos e seu ódio sectário, pra seguir a argumentação, e depois criar coragem de reconhecer a verdade que brilhará a seus olhos, qual meio-dia. São Pedro esteve em Roma, foi o primeiro bispo em Roma – e morreu martirizado em Roma. Eis três verdades que vou provar, tanto histórica como biblicamente.
I. Prova histórica
Um fato histórico prova-se pelo testemunho dos historiadores imparciais, e o mais possível próximos dos fatos que narraram. Pois bem: existe uma série ininterrupta de testemunhos do século III até aos apóstolos e isso sem uma voz discordante. Em Cartago e em Corinto, em Alexandria e em Roma, na Gália como na África, no Oriente como no Ocidente, a viagem de São Pedro a Roma é afirmada unanimemente, como fato sobre o qual não pairou nunca a mínima dúvida.
No século III temos, entre outros, São Cipriano (258) que diz: 'Vagando a sede de Fabiano, isto é, 'a sede de Pedro' e da dignidade da cátedra sacerdotal, foi Cornélio criado bispo' (Ep. Ad Antonium). Orígenes (254) diz: 'São Pedro, ao ser martirizado em Roma, pediu e obteve fosse crucificado de cabeça para baixo' (Com. in Genes, t. 3). Clemente de Alexandria (215) diz: 'Marcos escreveu o seu Evangelho a pedido dos Romanos que ouviram a pregação de Pedro' (Hist. Ecl. VI, 14). Tertuliano (c. 222), por sua vez, diz: 'Nero foi o primeiro a banhar no sangue o berço da fé. Pedro, então, segundo a promessa de Cristo, foi por outrem cingido quando o suspenderam na cruz' (Scorp. C. 15).
No século II abundam igualmente provas. Santo Irineu (202) escreve na sua grande obra 'contra as heresias': Mateus, achando-se entre os hebreus, escreveu o Evangelho na língua deles, enquanto Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja' (L. 3, c. 1, n. 1, v. 4). Dionísio (171) escreve ao papa Sotero: 'São Pedro e São Paulo foram à Itália, onde doutrinaram e sofreram o martírio no mesmo tempo' (Evas. Hist. Eccl. II 25).
Do século I convém destacar, Santo Inácio (107), Bispo de Antioquia, que conviveu longos anos com os apóstolos. Condenado por Trajano, fez viagem para Roma, onde foi supliciado, tendo escrito antes uma carta aos Romanos onde diz: 'Tudo isso eu não vos ordeno como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, e eu sou um condenado' (Ad Rom, c. IV). Clemente Romano (101), 3º sucessor de São Pedro, conheceu-o pessoalmente em Roma. É, por isso, autoridade de valor excepcional. Eis o que escreve: 'Ponhamos diante dos olhos os bons apóstolos Pedro e Paulo. Pedro que, pelo ódio iníquo, sofreu; e depois do martírio, foi-se para a mansão da glória. A estes santos varões, que ensinavam a santidade, associou-se grande multidão de eleitos, que, supliciados pelo ódio, foram entre nós de ótimo exemplo'.
Eis provas irrefutáveis, historicamente certas, 'da permanência de São Pedro em Roma'. Os historiadores e testemunhas citados: São Cipriano, Orígenes, Clemente, Tertuliano, Santo Irineu, Dionísio, Santo Inácio e Clemente Romano, são reconhecidos, pela crítica moderna, como autoridades dignas de fé. Nenhum protestante imparcial teve a ousadia de contestá-los; só os nossos ignorantes, que entretanto se dizem luminares, tem o topete de impugnar tais testemunhos. Prova de que não conhecem nem história, nem exegese, nem religião.
Citei só testemunhos anteriores a Lutero, para mostrar a imparcialidade dos historiadores, que não tinham de defender a religião contra os protestantes ou outros hereges; mas apenas de expor um fato conhecido e admitido por todos. E notem que Inácio e Clemente Romano nos são testemunhos coevos. É, pois, um fato certo que São Pedro esteve em Roma e foi ali martirizado sob o reinado de Nero. Nenhum historiador, até aos protestantes, isto é, durante 1500 anos, o contesta; ao contrário: para todos eles é um fato notório e público.
Pobre ódio protestante, que cega os seus adeptos e leva-os a todos os absurdos: repetindo velha lenga-lenga, sem fundamento e sem exame. Estuda um pouco, amigo, e havendo mais luz na inteligência, haverá menos fanatismo, menos petulância no procedimento. Com Deus não se brinca! E nem se brinca com a história, desde que é certa e averiguada por testemunho digno de fé.
II. São Pedro, 1º bispo de Roma
Continuemos o mesmo assunto, dando-lhe agora a extensão necessária: 'São Pedro esteve em Roma' é historicamente certo e notório; 'São Pedro foi o primeiro Bispo de Roma: é o que vamos provar agora. O fato da permanência de São Pedro em Roma seria já uma prova suficiente, pois, sendo apóstolo e chefe dos apóstolos, claro é que São Pedro, desde que fundara, com São Paulo, a Igreja de Roma, era o seu primeiro Bispo.
Citemos, entretanto, para satisfazer os mais exigentes, umas provas históricas. Podia citar muitas longas passagens de Santo Irineu, Caio, São Cipriano, São Optato, Santo Agostinho, São Jerônimo, Sulpício Severo, que atestam unânimes o episcopado romano do príncipe dos apóstolos. Limitemo-nos a umas curtas citações: Caio, falando de São Vitor, Papa, diz: 'Desde Pedro, ele foi o décimo terceiro Bispo de Roma' (ad Euseb. 128). São Jerônimo: 'Simão Pedro foi a Roma e aí ocupou a cátedra sacerdotal durante 25 anos' (De viris ill. 1,1). Santo Agostinho: 'São Lino sucedeu a São Pedro (Epist. 53).
Sulpício Severo, falando do tempo de Nero, diz: 'Neste tempo, Pedro exercia em Roma a função de Bispo' (His. Sacr., n. 28). Santo Irineu: 'Os apóstolos Pedro e Paulo fundaram a Igreja, e o primeiro remeteu o episcopado a Lino, a quem sucedeu Anacleto e depois Clemente'. Eusébio, em sua história, diz: Linus primus post Petrum, Lino foi o primeiro após Pedro, que exerceu o episcopado na Igreja Romana (Hist. Eccles. 104). Eis de novo citações positivas, claras, e de autores dos primeiros séculos, que merecem fé.
Convém notar ainda que todos os catálogos de Bispos de Roma, organizados segundo os documentos primitivos, pelos antigos escritores, colocam invariavelmente o nome de Pedro à frente de todos; com ele abrem a lista nunca interrompida de sucessão episcopal de Roma (Ler sobre isso: Pe. Leonel Franca, Igreja, Reforma e Civilização) Eis, pois, outro fato claramente provado: 'São Pedro foi o primeiro Bispo de Roma'. Para rejeitar este fato histórico é preciso rejeitar a autoridade de todos os historiadores dos primeiros séculos e o testemunho de quase todos os santos Padres da Igreja, cujos escritos são admitidos pela mais áspera crítica. Negando este fato, pode-se, com mil vezes mais razão, negar a existência de César, de Napoleão, de Lutero, de Colombo e de tantos outros vultos históricos.
III. Prova bíblica
Passemos agora à prova bíblica da mesma verdade, isto é, ao testemunho do próprio São Pedro. São Pedro remata a sua primeira epístola com estas palavras: 'Saúda-vos a Igreja eleita que está em Babilônia e Marcos, meu filho' (I Pedro 5,13). Os protestantes de má fé, que só procuram na Bíblia o que lhes dá no gosto, nem procuram qual é essa Babilônia de que se trata, e onde está situada uma tal Babilônia. O exegeta consciencioso, ao contrário, examina as palavras, o contexto, para ver em que sentido, ou natural ou metafórico, devem ser tomadas.
Pois bem, caros protestantes, aqui a palavra Babilônia é tomada metaforicamente e significa Roma, como vou prová-lo. São Pedro, como chefe dos cristãos, que o governo perseguia em toda parte, era o objeto de uma vigilância contínua, de modo que era obrigado a esconder-se e a mudar de vez em quando de residência. Escrevendo pois aos cristãos e podendo as cartas cair nas mãos de traidores, não convinha assinalasse o nome da cidade onde residia; por isso adotou o nome de Babilônia, em lembrança da antiga capital dos sírios, e também para exprimir a corrupção da grande metrópole romana.
Eis a asserção: É preciso agora prová-la: o tal texto exige pois uma dupla prova: (i) que Babilônia significa Roma; (ii) que Marcos acompanhou São Pedro, que estava em Roma. Provadas estas duas asserções, a citação bíblica tem toda a sua força de argumento insofismável. Havia nesse tempo duas Babilônias: a Babilônia do Egito e a Babilônia da Assíria. A primeira só existiu de nome, era um simples presídio militar, e nenhum apóstolo fundou lá uma Igreja. Não pode, pois, tratar-se deste lugar. A segunda não era mais senão uma simples ruína, sem habitantes, como afirmam historiadores pagãos desse tempo, como Estrabão, Plínio e outros – Magnum desertum, diz Estrabão (Geog, s. 18, c. 1).
Não pode, pois, tratar-se nem de uma nem de outra destas Babilônias em ruínas, onde nunca pisou um apóstolo. Fica, pois, o sentido metafórico da palavra, que significa a metrópole romana, ou a cidade de Roma. Tal é o sentido que de todo tempo os sábios, sejam católicos ou protestantes, tem atribuído a este texto de São Pedro. Vou prová-lo, de novo, para não deixar a menor escapatória à má fé dos biblistas, procurando dar-lhes assim umas noções de exegese que não possuem, e mostrar-lhes que a Bíblia, para ser compreendida, precisa, não de uma simples leitura, mas sim de um estudo sério e paciente. Procurem, pelo menos, aproveitar das investigações e dos estudos dos católicos, como nós aproveitamos dos estudos sérios dos protestantes sinceros.
IV. São Pedro, 1º Papa em Roma
Continuemos a explicação do texto de São Pedro, já citado: 'Saúda-vos a Igreja eleita que está em Babilônia (Roma) e Marcos, meu filho' (I Ped 5,13). Babilônia aqui significa Roma: todos os antigos intérpretes o afirmam unânimes: Pápias, Eusébio, Clemente, São Jerônimo, etc. Não pode ter outra significação, visto não haver cidade com o nome de Babilônia, onde foram os apóstolos, e ainda, como vou mostrá-lo logo, porque Marcos, companheiro de São Pedro, estava em Roma, neste tempo.
Escutemos a esse respeito um sábio protestante, cuja obra acabo de ler (Smith, Dictionnary of the Bible): 'Em apoio de que a Babilônia significa tropicamente Roma' - diz ele - 'cita-se uma tradição narrada por Eusébio, com a autoridade de Pápias e Clemente de Alexandria, para mostrar que a epístola de São Pedro foi escrita em Roma figurada por Babilônia. Ecumênio e São Jerônimo afirmam a mesma coisa'. 'Esta opinião' - continua Smith - 'é hoje geralmente adotada (is the opinion generally adopted now) e é sufragada por Grotius, Lardner, Cave, Hates, etc.' (todos protestantes notáveis).
O próprio Renan, apesar da sua impiedade, é obrigado a adotar esta opinião: 'No fim de desnortear as suspeitas da polícia de Roma', diz ele, 'Pedro, para designar Roma, escolhe o nome da antiga capital da impiedade asiática: Babilônia' (Renan, Anticristo, p. 122). Aliás era costume corrente, entre os judeus, apelidar de Babilônia a cidade dos Césares, e o mesmo costume tinha-se transmitido entre os cristãos. A observação é de um exegeta notável dos costumes hebraicos e da interpretação de Talmud: Judaeis solemne erat Romam Babylonem vocare (Chr. Schoetgen, Hor. Hebr., p. 1050). Este autor cita vários textos dos rabinos em apoio desta asserção. Eis, pois, outro fato fora de dúvida para quem sabe refletir e estudar: São Pedro escreveu a sua epístola de Roma.
Uma outra prova desta asserção clara, positiva, e sem escapatória, é a segunda parte do texto citado: Saúda-vos (junto com a Igreja) Marcos, meu filho (I Ped 5,13). Ora, Marcos nessa época achava-se em Roma, e não em Babilônia, é absolutamente certo, como o diz abertamente São Paulo, em suas epístolas escritas durante o primeiro cativeiro nesta cidade: 'Saúda-vos Aristarco e Marcos, primo de Barnabé I' (Col 4, 10). 'Saúda-te Marcos' (Filip 5,24). Eis o que é claro e positivo, Marcos, estando em Roma, em contato com São Paulo, e saudando os fieis junto com São Pedro: 'Saúda-vos Marcos, meu filho', prova claramente que São Pedro escreveu de Roma, que por tropo ele chama de Babilônia.
V. Prova evangélica
E nem é tudo. O exame interno do nosso segundo Evangelho, em admirável consonância com os mais antigos testemunhos históricos, atesta que Marcos escreveu o seu Evangelho em Roma, sintetizando nele a pregação de São Pedro, príncipe dos apóstolos. Pápias, Justino, Irineu, Orígenes, Clemente, depõe contestes em favor desta verdade. Eis pois a tese claramente provada. São Pedro esteve em Roma, foi o primeiro bispo de Roma e escreveu de Roma a sua primeira epístola às diversas igrejas no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, como o papa dirige hoje ao mundo católico suas encíclicas doutrinais.
E a linguagem de São Pedro é a de um príncipe dos apóstolos, de um chefe de Igreja, em outros termos: do primeiro papa: 'Pedro, apóstolo de Jesus Cristo...graça e paz vos seja multiplicada' (I Pedro 1, 1-2). Terminemos, pois, repetindo bem alto que São Pedro foi o primeiro chefe, o primeiro papa, nomeado pelo próprio Jesus Cristo, residindo em Roma, onde até hoje residem os seus sucessores. É a grande prova da verdade da religião católica. A instrução divina do episcopado é claramente afirmada na Escritura: 'Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho, sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentares a Igreja de Deus a qual santificou pelo seu próprio sangue' (At 20,28). No apocalipse, São João se dirige a sete bispos da Ásia Menor.
'Sem bispos, sem sacerdotes e sem diáconos, não há Igreja', diz muito bem Santo Inácio de Antioquia (Ad Trall. 1,2). O grande Leibniz, pondo a verdade acima dos preconceitos do protestantismo, escreve: 'Não pode haver dúvida que o episcopado e o sacerdócio sejam de instituição divina e fornecem o distintivo da Igreja divina. Combater esta verdade é combater a Igreja e a Escritura' (Syst, theol., p. 302). Bastaria isto para mostrar a um protestante sincero que ele trilha um caminho errado. O protestantismo, sem hierarquia, sem bispos, sem sacerdotes, sem chefe religioso, não pode ser a religião verdadeira, porque está em completa oposição com a organização feita por Jesus Cristo e claramente indicada na Escritura.
Eis pois bem provado – e só um fanatismo cego e ignorante não o compreenderá – que São Pedro esteve em Roma; foi Bispo de Roma, foi o primeiro Papa, nomeado por Cristo. No capítulo seguinte – em resposta à 6ª objeção – provarei que os papas são os legítimos sucessores de São Pedro. Pobre protestante, abra os olhos enquanto é tempo, e deixe de combater uma verdade refulgente como o sol em pleno dia.
* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.