quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O SILÊNCIO DO PRESÉPIO


Jesus, ao nascer, escolheu para ermitagem e oratório o estábulo de Belém; quis nascer fora da cidade, numa caverna solitária, para inspirar-nos o amor pela solidão e pelo silêncio. Entremos nessa gruta, lá só acharemos solidão e silêncio: Jesus conserva-se silencioso na manjedoura; Maria e José O adoram e O contemplam em silêncio. Foi revelado à Irmã Margarida do Santíssimo Sacramento, carmelita descalça, apelidada a Esposa do Menino Jesus, que tudo o que se passou na gruta de Belém, mesmo a visita dos pastores e a adoração dos Santos Reis Magos se fez em silêncio.

O silêncio das outras crianças provém da sua impotência; o de Jesus Cristo foi uma virtude. Jesus Menino não fala; mas em seu silêncio, o que Ele não diz? Ó felizes os que se entretêm silenciosamente com Jesus, Maria e José nessa santa solidão do presépio! Os pastores lá passaram poucos instantes e saíram inflamados de amor para com Deus louvando-O e bendizendo-O. Ó feliz a alma que se retira à solidão de Belém para contemplar a divina misericórdia e o amor que um Deus teve e tem para com os homens! Eu a levarei à solidão e falarei a seu coração. Lá o Divino Infante lhe falará não aos ouvidos, mas ao coração, e a convidará a amar um Deus que tão ternamente a ama.

Ao ver a pobreza desse encantador ermitãozinho que fica na gruta gelada, sem lume, tendo apenas uma manjedoura por berço e um pouco de palha por leito; ao ouvir os vagidos e ao ver as lágrimas desse Menino, a inocência mesma; ao refletir que é o seu Deus, como poderia pensar em outra coisa senão em amá-lO? O estábulo de Belém, eis a doce ermida para a alma que tem fé.

Imitemos a Maria e a José que, inflamados de amor, contemplam o adorável Filho de Deus revestido de carne e sujeito às misérias desta vida; o sábio por excelência tornado criança sem palavra; o grande feito pequeno; o Altíssimo tão rebaixado; o Riquíssimo feito tão pobre; o Todo-poderoso feito fraco. Numa palavra, vejamos a majestade divina oculta sob a forma de uma criancinha, desprezada e abandonada por todos, fazendo e sofrendo tudo para se tornar amável aos homens, e peçamos-lhe a graça de sermos admitidos nessa santa solidão; detenhamo-nos lá, lá fiquemos e de lá não saiamos mais. 'Ó bela solidão', exclama São Jerônimo, 'na qual Deus fala e conversa com as almas que ama', não como um soberano, mas como um amigo, como um irmão, como um esposo! Ó que paraíso entreter-se a sós com Jesus Menino na humilde gruta de Belém!

(Excertos da obra 'Encarnação, nascimento e infância de Nosso Senhor' por Santo Afonso Maria de Ligório)