terça-feira, 20 de dezembro de 2016

E O SANGUE DE SÃO GENNARO NÃO SE LIQUEFEZ!

San Gennaro (São Januário) nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C e, após sua ordenação como sacerdote no ano 302, foi empossado como bispo de Benevento. Em 304, sob a violenta perseguição aos cristãos promovida pelo imperador romano Diocleciano,  foi preso e conclamado a renunciar à fé cristã sob ameaça de martírio. Impassível diante destas ameaças, foi lançado em fornalha ardente e depois à flagelação em arena por feras famintas, escapando ileso de ambas as provações. Sob as ordens raivosas do pró-consul Timóteo, o santo foi então decapitado em Puzzoles, junto com outros mártires cristãos, no dia 19 de setembro de 305. Segundo a tradição, uma piedosa mulher recolheu o sangue que vertia do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benevento.

No ano de 432, os restos mortais do santo foram transladados para Nápoles, sua cidade natal e em 820, levados para Benevento para, em 1497, retornarem definitivamente para Nápoles, incluindo a custódia contendo a porção recolhida do sangue do bispo mártir, endurecido e na forma de fragmentos. Em 16 de dezembro de 1631, a população de Nápoles invocou a proteção do milagre do sangue de São Gennaro para passar incólume às ameaças das lavas e cinzas de uma grande erupção do Vesúvio, ocorrida naquela data. Esta proteção repetiu-se em outras ocasiões de erupções do vulcão situado muito próximo à cidade de Nápoles (como em 1707 e 1944, por exemplo). 

Desde 1659, o fenômeno da liquefação desse sangue é rigorosamente registrado (já são mais de 10.000 registros), ocorrendo sistemática e periodicamente em três datas específicas: em 19 de setembro, festa do martírio do santo; no sábado que antecede o primeiro domingo de maio, aniversário da primeira transladação e em 16 de dezembro, data da erupção do Vesúvio. Em pouquíssimas ocasiões, sempre associadas a eventos futuros negativos, o sangue não se liquefez. O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro (a maior com 60 centímetros cúbicos e a menor com 25 centímetros cúbicos); o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior e, na menor, encontra-se disperso em fragmentos.

(liquefação do sangue ocorrida em 19 de setembro de 2016)

A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento das ampolas. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito, com variações de tonalidade que vão de um vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior. Comprovações científicas demonstram tratar-se de sangue humano. Outros aspectos são bastante mais inexplicáveis: ocorrem variações de peso e de volume da massa sanguinolenta, embora esteja lacrada em ampolas hermeticamente fechadas.

(liquefação do sangue NÃO ocorrida em 16 de dezembro de 2016)

Em 16 de dezembro agora, o sangue não se liquefez, a primeira interrupção do fenômeno desde 1980. Com efeito, naquele ano, em 19 de setembro, o sangue não se liquefez e, cerca de dois meses depois, em 23 de novembro de 1980, um terremoto devastou a região da Irpinia, vizinha a Benevento, afetando 280.000 pessoas e causando quase 3.000 mortes. Outras datas recentes em que isto não ocorreu foram nos anos de 1973 (uma epidemia de cólera assolou a cidade de Nápoles) e 1939 e 1940 (anos do início e da entrada da Itália, respectivamente, nos conflitos da Segunda Guerra Mundial). E, para nossa consternação, dos cristãos de Nápoles e do mundo inteiro, o sangue de São Gennaro não se liquefez mais uma vez!