San Gennaro (São Januário) nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C e, após sua ordenação como sacerdote no ano 302, foi empossado como bispo de Benevento. Em 304, sob a violenta perseguição aos cristãos promovida pelo imperador romano Diocleciano, foi preso e conclamado a renunciar à fé cristã sob ameaça de martírio. Impassível diante destas ameaças, foi lançado em fornalha ardente e depois à flagelação em arena por feras famintas, escapando ileso de ambas as provações. Sob as ordens raivosas do pró-consul Timóteo, o santo foi então decapitado em Puzzoles, junto com outros mártires cristãos, no dia 19 de setembro de 305. Segundo a tradição, uma piedosa mulher recolheu o sangue que vertia do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benevento.
No ano de 432, os restos mortais do santo foram transladados para Nápoles, sua cidade natal e em 820, levados para Benevento para, em 1497, retornarem definitivamente para Nápoles, incluindo a custódia contendo a porção recolhida do sangue do bispo mártir, endurecido e na forma de fragmentos. Em 16 de dezembro de 1631, a população de Nápoles invocou a proteção do milagre do sangue de São Gennaro para passar incólume às ameaças das lavas e cinzas de uma grande erupção do Vesúvio, ocorrida naquela data. Esta proteção repetiu-se em outras ocasiões de erupções do vulcão situado muito próximo à cidade de Nápoles (como em 1707 e 1944, por exemplo).
Desde 1659, o fenômeno da liquefação desse sangue é rigorosamente registrado (já são mais de 10.000 registros), ocorrendo sistemática e periodicamente em três datas específicas: em 19 de setembro, festa do martírio do santo; no sábado que antecede o primeiro domingo de maio, aniversário da primeira transladação e em 16 de dezembro, data da erupção do Vesúvio. Em pouquíssimas ocasiões, sempre associadas a eventos futuros negativos, o sangue não se liquefez. O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro (a maior com 60 centímetros cúbicos e a menor com 25 centímetros cúbicos); o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior e, na menor, encontra-se disperso em fragmentos.
(liquefação do sangue ocorrida em 19 de setembro de 2016)
A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento das ampolas. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito, com variações de tonalidade que vão de um vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior. Comprovações científicas demonstram tratar-se de sangue humano. Outros aspectos são bastante mais inexplicáveis: ocorrem variações de peso e de volume da massa sanguinolenta, embora esteja lacrada em ampolas hermeticamente fechadas.
(liquefação do sangue NÃO ocorrida em 16 de dezembro de 2016)
Em 16 de dezembro agora, o sangue não se liquefez, a primeira interrupção do fenômeno desde 1980. Com efeito, naquele ano, em 19 de setembro, o sangue não se liquefez e, cerca de dois meses depois, em 23 de novembro de 1980, um terremoto devastou a região da Irpinia, vizinha a Benevento, afetando 280.000 pessoas e causando quase 3.000 mortes. Outras datas recentes em que isto não ocorreu foram nos anos de 1973 (uma epidemia de cólera assolou a cidade de Nápoles) e 1939 e 1940 (anos do início e da entrada da Itália, respectivamente, nos conflitos da Segunda Guerra Mundial). E, para nossa consternação, dos cristãos de Nápoles e do mundo inteiro, o sangue de São Gennaro não se liquefez mais uma vez!