domingo, 15 de setembro de 2013

REVELAÇÕES DE DEUS PAI (III)

No batismo, a luz da fé vos é dada na força do Sangue do Meu Filho. Associada à luz da razão, ela vos alcança a vida para a verdade. Esta iluminação revela ao homem a transitoriedade das realidades terrenas, que passam como o vento. Tal atitude supõe todavia, que tenhais consciência da própria fraqueza, tão inclinada a rebelar-se, já que existe nos vossos membros uma lei perversa (Rm 7,23), que vos leva a revoltar-vos contra Mim, vosso Criador. Tal 'lei' não obriga ninguém a pecar contra sua vontade, todavia combate contra o espírito. 

Permiti semelhante lei, não para serdes vencidos, mas a fim de provar vossas virtudes. É nas situações adversas que às virtudes são experimentadas. A sensualidade opõe-se ao espírito; é através dela que o homem comprova seu amor por Mim, o Criador, opondo-se às suas tendências, derrotando-as. Quis Eu ainda essa perversa lei para que o homem fosse humilde. De si mesma, a sensualidade não conduz ninguém ao pecado, mas induz ao reconhecimento do próprio nada; revela a fragilidade do que é terreno. 

É preciso que a inteligência humana, sob a luz da fé, reconheça tal coisa; trata-se justamente daquela 'iluminação geral' de que falei, indispensável para todos os que desejam participar da vida da graça aproveitando os efeitos da morte do Cordeiro Imolado. Ela é necessária para todos, qualquer que seja o estado de vida; é a iluminação da 'caridade comum', universal. Todos [os cristãos] devem possuí-Ia sob pena de serem condenados; quem não a tem não está na graça divina; desconhece o pecado e suas causas.

Toda obra boa será remunerada, como todo mal terá seu prêmio. Quando praticada no estado de graça, a boa obra merece o céu; quando feita em pecado, embora sem merecimento, terá sua paga de várias maneiras: umas vezes, concedo vida mais longa ou inspiro a Meus servidores contínuas orações em favor, com as quais tais pessoas se convertem; outras vezes, em lugar de vida mais longa e das orações, concedo bens materiais.

O cristão que possui bens, deve usufrui-los na humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria.Dou-vos os bens para o uso. Tanto possuis, quanto concedo; tanto conservais, quanto permito; e tanto permito, quanto julgo útil à vossa salvação. Tal há de ser a vossa atitude quanto ao uso dos bens materiais.Assim fazendo, o cristão obedece aos mandamentos - amando-Me sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - e conserva o coração desapegado das riquezas, afetivamente, como nada possuindo. Não se apega aos bens, não os possui em oposição aos Meus desígnios. Possui externamente, ao passo que seu íntimo é pobre. Tais pessoas, como disse, eliminam o veneno do egoísmo. São os cristãos da 'caridade comum'. Os bens materiais são bons em si mesmo; foram criados por Mim, bondade infinita. Os homens hão de usá-los como lhes aprouver, mas no temor e no amor autênticos.

Os cristãos não devem virar escravos dos prazeres sensíveis. Se querem ter posses, façam-no; mas como dominadores dela, não como dominados. O afeto do coração deve estar em Mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo. Não tenho preferência por pessoas ou posição social, somente pelos desejos do coração. Quem afastar de si o apego desregrado e se orientar para Mim na caridade e no santo temor, tal pessoa poderá escolher o estado de vida que quiser. Em qualquer um deles alcançará a vida eterna.

Suponhamos que seja mais perfeito e mais agradável a Mim que o homem viva interior e exteriormente despojado dos bens materiais.Se uma pessoa não sentir a coragem de abraçar tal perfeição devido a alguma fraqueza pessoal, que permaneça 'na caridade comum' [aqueles que seguem a Cristo obedecendo os mandamentos] qualquer que seja seu estado de vida. Em Minha bondade dispus que assim fosse para que nenhuma pessoa viesse a desculpar-se por pecados cometidos em determinadas situações.Ninguém poderá dar desculpa, Sou condescendente com as tendências e fraquezas humanas.

Se as pessoas desejam viver no mundo, possuir bens, ocupar altas posições sociais, casar-se, ter filhos, trabalhar por eles, façam-no. É lícito viver em qualquer posição social; contanto que se evite o veneno da sensualidade, o qual pode conduzir à morte perpétua. Se prestares atenção verás que quase todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Disto nasce o orgulho de quem pretende ser maior que os outros, a injustiça para consigo mesmo e o próximo. A riqueza empobrece e destrói a vida da alma, torna o homem cruel consigo mesmo, prejudica sua dignidade espiritual infinita, faz amar as coisas transitórias.

Todos têm obrigação de amar-Me, Bem infinito. Com a riqueza, o homem perde o gosto pela virtude, o amor da pobreza, o domínio sobre si, torna-se escravo dos bens materiais. Ao amar realidades inferiores a si, torna-se insaciável. Só a Mim deve o homem servir; Sou seu fim último. Quantos perigos enfrenta o homem, por terra e por mar, a fim de adquirir riqueza e poder voltar a sua cidade natal entre satisfações e honras; já para conseguir a virtude, é incapaz do menor esforço, não aceita dificuldade alguma! E dizer que as virtudes são a riqueza da alma.

Caridade comum - os que seguem a Cristo obedecendo os mandamentos. Diz Meu Filho no Evangelho que 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que o rico entrar na vida eterna' (Mt.19,24) e referia-se àqueles que possuem ou desejam possuir riquezas com desordenado e pecaminoso apego a elas. Afirmei também existirem pobres que, se pudessem, possuiriam com desordenado apego o mundo inteiro. Também eles não passarão pela porta estreita e baixa [agulha]. Se não se abaixarem até o chão, se não dominarem o próprio apego, se não dobrarem humildemente a cabeça, como poderão atravessá-la? Outra porta não existe que conduza à vida eterna. Pelo contrário, é larga aquela que conduz à eterna condenação (Mt.7,13).

As realidades terrenas são menores que o homem; para ele foram criadas, não vice-versa. Por tal motivo os bens materiais não o satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de Mim, e sofrem. Querem saber como sofrem? Quando alguém perde algo com que se identificara seu apego, o faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos, com os bens materiais. Eles se materializam. Uns se identificam com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns se afastam de Mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro. Todos eles, assim, se nutrem de bens terrenos.

Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. Passam como o vento. São perdidas por ocasião da morte e de outros acontecimentos por Mim dispostos. Diante de tais perdas, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação se compara à desordenada afeição à posse. Todos estes carregam a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem diversificadamente doentes e, se não se corrigirem, vão para a morte eterna. São homens feridos pelos espinhos das contradições a torturarem-se interna e externamente. E, ainda por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, sem nada merecer; é sem paciência que padecem estes males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor.

É preciso encher a alma de virtudes, sob o alicerce da caridade. Agulhas eram portas secundárias das cidades antigas, cercadas de muros, a fim de se evitar invasões. Essas portas baixas e estreitas serviam apenas para circulação de pessoas. Quando alguma caravana chegava fora de horário, os camelos para entrarem na cidade tinham que ser descarregados e ainda pelo impedimento da altura, entravam ajoelhados. Em matéria de virtudes, necessita-se da perseverança. Quem não persevera, jamais realiza seus desejos, levando a termo o que começou

O Meu Filho como Ponte possui três degraus. No primeiro degrau, o cristão se afasta da afeição terrena, despoja-se dos vícios; no segundo, adquire as virtudes; no terceiro, goza a paz. No primeiro o homem se comporta como servo assalariado; no segundo, como servo fiel; no terceiro, como filho, ou seja, como pessoa que Me ama sem interesses pessoais. São três estados que podem acontecer em diversas pessoas ou sucessivamente numa única pessoa. Acontecem ou podem acontecer numa mesma pessoa quando ela progride esforçadamente, aproveitando o tempo, e passa do estado servil ao liberal e do liberal ao filial. Temos assim o amor servil, o amor interesseiro e o amor de amizade.

Relativamente ao modo como se chega ao amor amizade e filial, dá-se da seguinte maneira: inicialmente imperfeito, o homem vive no temor servil; com perseverança e esforço, chega ao amor interesseiro das consolações (espirituais) no qual se compraz olhando-Me como algo útil para si mesmo. Tal é o roteiro de quem deseja chegar ao amor amizade e filial. Este último é o amor perfeito; com ele se alcança a herança do reino. O amor filial inclui o amor-amizade; nesse sentido, se passa do amor amizade ao amor filial. Mas qual é a estrada? Vou dizê-lo. Toda perfeição e virtude procede da caridade; a caridade alimenta-se da humildade; a humildade nasce do auto-conhecimento e da vitória sobre o egoísmo da sensualidade. Para se atingir o amor filial é necessário, pois, perseverar na cela [senda] do auto-conhecimento. Nesta cela, o homem conhecerá o Meu perdão através do Sangue de Cristo, atrairá sobre si pelo amor, a Minha caridade, procurará destruir em si toda má vontade espiritual e temporal.

A fé viva consiste na prática perseverante das virtudes, em não voltar atrás por motivo algum, em não deixar a oração jamais - exceto por obediência ou caridade - pois nenhuma outra razão existe. É na oração contínua, fiel e perseverante, que todas as virtudes são adquiridas. Mas é preciso perseverar, nunca a deixar: nem por ilusão do diabo, nem por fraqueza pessoal, qual sejam os pensamentos e impulsos íntimos, nem por conselhos 'alheios'. Como é agradável ao orante e a Mim a prece feita na cela do auto-conhecimento. Comprazer-se - sentir prazer; temor servil - medo dos castigos infernais. Ali o homem crê e ama na abundância do Meu amor que, em Meu Filho, tornou-se visível e provado no Sangue.

Sangue que inebria a alma, reveste-a com as chamas do Amor Divino, eucaristicamente a alimenta. Foi na despensa da hierarquia eclesiástica que Eu guardei o Corpo e Sangue do Meu Filho, perfeito homem e perfeito Deus, pois entreguei aos sacerdotes, a chave do Sangue, a fim de que O distribuíssem. Tal alimento fortifica de acordo com o amor de quem o recebe, seja sacramentalmente, seja espiritualmente. Sacramentalmente, na comunhão eucarística; espiritualmente, ao se comungar pelo desejo da Eucaristia ou meditando-se a Paixão de Cristo Crucificado. Em qualquer oração, a pessoa deve começar pela vocal, passando depois à mental. Faça-o logo que sentir o espírito bem disposto. Tal maneira de agir conduzirá o orante à perfeição do amor. Quanto mais o homem desvencilhar sua afeição e prendê-la a Mim, mais Me conhecerá, mais Me amará, mais Me experimentará. Como vês, não é pela quantidade de palavras que se chega à oração perfeita, mas pelo amor e conhecimento de Mim e de si mesmo, cada um desses conhecimentos completando o outro.

Nas orações, concedo consolações de diversas maneiras: uma vez será contentamento, outra vez arrependimento que agita interiormente, vezes há que Me torno presente na alma sem que ela o perceba, pois faço estar no espírito a pessoa de Meu Filho de vários modos: ora sentirá na profundidade da alma grandíssimo prazer, ora nem O perceberá, como se poderia esperar. Sabes o que faço para tirar o homem da imperfeição? Costumo permitir-lhe pensamentos molestos e aridez espiritual, deixando-o como que abandonado por Mim, sem nenhuma consolação. A pessoa já não se sente do mundo, que de fato abandonou, nem lhe parece que está vivendo em Mim. Uma única fonte de paz lhe resta: a certeza de não querer ofender-Me.

Quanto à vontade que constitui como que a porta de entrada da alma, não permito que se abra ante os inimigos; seja os demônios, como os demais adversários, poderão penetrar por outros setores, mas não pela vontade, que é a porta principal da cidade da alma. Como defensor está o livre-arbítrio. Só ele pode deixar ou não que alguém passe. As portas que dão ingresso ao interior do homem são muitas. As principais são três: a memória, a inteligência e a vontade. Delas, somente uma se abre quando quer e serve de defesa para as outras, é a vontade. Com sua permissão, o primeiro inimigo a entrar é o egoísmo. Os outros vêm depois: a inteligência se obscurece; a memória dá acolhida ao ódio, e faz lembrar as ofensas recebidas e se opõe à caridade pelo próximo; a memória recorda, também, os prazeres ilícitos. Depois de abertas essas portas, escancaram-se os portões dos sentidos, que refletem em si o amor desordenado e as más ações.

O olho ocupa-se em ver coisas que não devem; por sua volubilidade, vaidade, desonestidade, capta a morte para a própria pessoa e para os demais. Oh, olho infeliz! Eu te fiz para ver o céu, as belezas da criação, Meus mistérios, e tu te fixas na lama, na baixeza, à procura da morte! O ouvido compraz-se em assuntos desonestos ou fica à espreita de notícias, a fim de se emitir julgamento; no entanto, Eu o dei ao homem, para escutar Minha palavra e tomar conhecimento das necessidades alheias. Quanto à língua, criei-a para anunciar Minha palavra, confessar as culpas e promover a salvação dos homens; mas dela serve-se a pessoa para reclamar de Mim, seu Criador, e para prejudicar o próximo. Murmura contra ele, diz que suas ações são más, blasfema, dá falso testemunho, põe em perigo a si mesmo e os demais com palavras desonestas, diz frases ofensivas que, como punhais, ferem os corações, provocando raiva. Como são numerosos os pecados - homicídios, desonestidades, rancores, ódios, perda de tempo - provocados pela língua.

O olfato também peca por desordenado prazer de sentir perfumes; se for cheiro de alimento, dá origem a gula, e a insaciável procura de comida, seja pela quantidade, seja pela qualidade, a fim de satisfazer o estômago. Quem abre este portão da alma, infelizmente não percebe que a gula incentiva a sensualidade e conduz à corrupção. As mãos foram feitas para prestar serviço ao próximo e socorrê-lo com esmolas, mas são usadas para furtar e praticar ações desonestas. Os pés têm a função de conduzir o homem a lugares santos e úteis, seja para si, como para os outros, com vistas à Minha glória e louvor; no entanto, são usados para ir-se a lugares escusos, onde conversas e divagações corrompem as pessoas. Recordei tudo isto, filha querida, para que possas chorar ao ver a cidade da alma em tão grave situação, a fim de que sintas o mal que entra no homem pela porta principal da vontade.

Entretanto, como disse antes, não permito que os males entrem livremente no homem pela vontade, mas podem fazê-lo pelas outras faculdades. Assim consinto que a inteligência seja invadida por pensamentos ruins, que a memória pareça esquecer de Mim, que todos os sentidos se vejam sacudidos por lutas diversas. Tudo isto, porém, não produz morte à alma. De Minha parte, não quero tal morte; só mesmo se a pessoa a quiser, livremente. Todas essas sensações ficam na periferia da cidade da alma, não penetram em seu interior. A menos, repito, que a pessoa o queira. 

Qual é o motivo que deixo o homem cercado por tantos inimigos? Certamente, não para que perca a graça; mas para que veja quanto Sou misericordioso. Quero que confie em Mim, não em si mesmo; que se refugie em Mim e não seja negligente. Sou seu defensor, o Pai bondoso que deseja a sua salvação. Quero recordar-lhe: de Mim recebeu o ser e os demais benefícios. Sou a sua vida. Como reconhece a pessoa tal situação e Minha providência nessas dificuldades? Aguardando a grande libertação, pois não a deixo permanentemente em tal estado; as dificuldades vão e voltam conforme julgo necessário. Às vezes, quando a alma pensa estar no inferno, repentinamente vê-se livre, como que no paraíso, sem nada ter feito pessoalmente, sente-se na paz; tudo que vê fala-lhe de Deus; inflama-se de amor ao tomar consciência do que realizei, retirando-a da tempestade sem nenhum esforço seu. A iluminação foi repentina devendo-se unicamente ao Meu inestimável amor. Providenciei as suas necessidades no momento certo quando já não aguentava mais. Mas por que não interviera Eu antes, libertando a alma das dificuldades, nos momentos em que se dedicava à oração e aos outros exercícios? Porque, sendo imperfeita, iria atribuir aos seus esforços pessoais o que não lhe pertencia. 

Como percebes, é através de muitos combates que o homem imperfeito tende à perfeição. Neles, a alma experimentará Minha providência, percebendo concretamente realidades em que antes somente acreditava. Dou-lhe a certeza da experiência, graças a qual adquire o amor perfeito e supera o amor imperfeito. Costumo também dar a Meus servidores júbilo espiritual e visões. Se alguém unicamente se preocupar na obtenção de tais favores, acabará por cair na amargura e no tédio no momento que notar sua ausência progressiva; cada vez que Eu não os der, julgarão que perderam a graça. Já afirmei que costumo visitar e ausentar-Me do homem no tocante às consolações - sem prejuízo do estado de graça - a fim de levar à pessoa à perfeição. Em tais circunstâncias, muitos mergulham na tristeza e sentem-se no inferno, porque não mais experimentam os prazeres da mente, substituídos pelos tormentos das tentações. 

Nesta situação pode o demônio se apresentar em forma de luz. Costuma ele tentar os homens de acordo com as disposições espirituais que neles encontra. Por tal motivo, ninguém deve desejar satisfações e visões espirituais; aspire-se somente pela virtude. Na humildade, cada um se julgue indigno de tais coisas; se as receber, comporte-se segundo a caridade. O diabo é capaz de mostrar-se numa figura de luz, por vários modos, na alma de quem gulosamente sonha com visões. Dessa maneira, ele usa o anzol do prazer espiritual para atrair a alma, e prendê-la em suas mãos. Se Me perguntares: 'Qual é o sinal que nos indica que 'a visita' é do diabo e não Minha?' Respondo: 'Se for o demônio em forma de luz, sua presença inicialmente produzirá alegria, mas pouco esta irá desaparecendo, até transformar-se em tédio, trevas e remorso de consciência. Ao contrário, se for uma 'visita' Minha, no começo a pessoa sentirá temor, um temor santo que depois lhe dará alegria, segurança e uma feliz prudência que, refletindo, não duvida'. Realizo todas essas coisas por amor; quero que o homem progrida na humildade, na perseverança; quero ensinar-lhe a não ditar regras, a não considerar as consolações com uma finalidade.

Quero que alicerce em Mim a sua virtude; que aceite os acontecimentos e Meus dons com humildade. Quero que acreditem no seguinte: que concedo as consolações espirituais de acordo com as necessidades da sua santificação e aperfeiçoamento. Quero que, além de ti, muitas outras pessoas - como servidores Meus - ao ouvir tais coisas sejam levados a orar obrigando-Me a usar de misericórdia para com o mundo e para com a hierarquia da Santa Igreja pelo qual tanto suplicas. Como deves recordar, afirmei que escutaria vossos pedidos, confortar-vos-ia nas lutas, faria frutificar vossos desejos, enviando pastores bons e santos para a reforma da Santa Igreja. Disse que não é pela guerra, pela espada e pela crueldade que isto acontecerá, mas com a paz, a tranqüilidade, as lágrimas e suores dos Meus servidores.

Eis a razão por que vos coloquei a trabalhar por vós mesmos, pelos demais cristãos e pela hierarquia da Santa Igreja. Não cesseis de oferecer-Me o incenso perfumado de vossas preces pela salvação da humanidade! Quero perdoar o mundo, quero lavar a face da Santa Igreja com vossas orações, suores e lágrimas. Costuma o homem cair em pecado mortal embora nenhuma força externa, graças à sua liberdade, o possa obrigar, incluindo a própria fraqueza. Pelo pecado mortal a pessoa perde a graça batismal; como remédio, o Pai deixou a penitência [confissão], que constitui um perene batismo no Sangue. Ela é recebida mediante a contrição e confissão dos pecados aos ministros; possuindo a chave do Sangue; eles, pela absolvição, O derramam na face da alma. Sendo impossível a confissão, basta a contrição interior, pois com ela o Meu Espírito vos dá o Meu perdão. Mas, se a confissão for possível, quero que a façais; não recebe o perdão aquele que, podendo fazê-lo, não a procura.

Paciência, fortaleza, perseverança - eis as três virtudes alicerçadas na caridade, e iluminadas pela fé, que fazem o homem andar na verdade, sem trevas. O desejo santo eleva os perfeitos; já ninguém os consegue destruir: nem os demônios com suas tentações, nem os homens com seus ataques. O mundo, ao persegui-los, na realidade os teme. Os perfeitos tornaram-se pequeninos pela humildade; costumo permitir dificuldades para fortalecê-los e engrandecê-los diante de Mim e do mundo. Podes comprová-lo em Meus santos: como se fizeram pequeninos por Minha causa, Eu os engrandeci em Mim e na Igreja, sendo seus nomes sempre lembrados; escrevi seus nomes no Livro da Vida. 

Uma coisa é certa: ninguém entra na vida eterna se não for obediente (Mt 19,17). A obediência foi a chave que abriu a porta do céu, da mesma forma como a desobediência de Adão a fechara. O sinal indicador de que possuis a obediência é a virtude da paciência; se não a tens, a impaciência o dirá. Impelido pela Minha grande caridade, tomei nas Mãos a chave da obediência e a entreguei a Meu Filho. Desempenhando a função de porteiro; Ele reabriu a porta do céu. Sem tal chave e tal Porteiro, ninguém ali conseguiria entrar. Cada um tem consigo a obediência de Cristo. Embora tenha Ele aberto a porta do céu ocorre que cada um, pela fé e pelo amor, use tal chave para destrancar aquela porta.

Criei-vos sem vossa colaboração; não pedistes para existir; mas, sem vossa participação, não vos salvarei. É de vosso interesse caminhar pela obediência na mensagem do Meu Filho sem interrupções, sem amar os bens passageiros. 'Param' aqueles que seguem o homem velho, o primeiro Adão, que jogou na lama do pecado a chave da obediência, que a quebrou pela soberba, que a arruinou com o egoísmo. Depois veio Meu Filho, tomou-a nas mãos, retirou-a da lama, purificou-a na chama do amor, lavou-a com Seu Sangue, endireitou-a e com ela destruiu os vossos pecados no próprio Corpo.

Da mesma forma como o homem destruíra a obediência pela sua liberdade, Cristo livremente a reformou pela graça. Ó homem cego, estragaste a chave de obediência e não te preocupas em restaurá-la. Achas que a desobediência conseguirá abrir a porta do céu sendo ela que o fechou? Julgas que o orgulho é capaz de conduzir-te ao céu, sendo ele que de lá caiu? Imaginas ir às núpcias ligado pelas correntes do pecado? Ou crês possível abrir a porta celeste sem chave alguma? Não creias; estaria enganada a tua imaginação! É preciso que te libertes; livra-te do pecado pela confissão, contrição, propósito de não mais pecar. Somente assim atirarás num canto a roupa suja e, com a fé e a obediência, abrirás aquela porta. Amarra à sua cintura tal chave com o cordão da humilhação e do desprezo por ti mesmo e pelo mundo, a fim de que não a percas. Dependura-a no cinturão que é Minha vontade de que deves estar cingido. Todos são postos a trabalhar na vinha da obediência, cada um a seu modo; todos terão a sua paga não pelo que fez ou pelo tempo de serviço, mas na proporção do quanto amou.

Quem começou primeiro não receberá mais que o companheiro que veio depois, assim como mostra o Evangelho (Mt 20,1-16), na passagem em que Jesus narra a parábola dos operários ociosos, enviados pelo Senhor ao trabalho de sua vinha. O patrão deu o mesmo salário aos que haviam começado na aurora e aos demais que se apresentaram às seis, nove, doze, quinze horas e ao entardecer. Meu Filho quis revelar que não sereis premiados de acordo com a duração e o tempo de trabalho, mas de acordo com o amor. Desde o início do mundo até agora, Minha providência cuida e continuará a cuidar das necessidades e salvação dos homens. Realiza tal obra por formas diversas, conforme parecer melhor a Mim, médico verdadeiro e justo, ante vossas enfermidades. Para quem a acolhe, Minha providência jamais faltará.

Não reconheço os que Me imploram sem a prática da virtude, sem a vivência da justiça. Ao confiar em Mim e ao servir-Me, necessariamente o homem tem que renunciar a si e ao mundo, tem de não apoiar-se na própria fraqueza. A esperança humana é mais ou menos perfeita conforme o amor da pessoa; será igualmente nessa medida que cada um terá a experiência da Minha Providência. Aqueles que Me servem e só em Mim confiam, experimentá-la-ão mais profundamente do que as almas cuja esperança se fundamenta em interesses e compensações

A pessoa insensata não percebe que vivo em contínuos cuidados pelo mundo, em geral, e por cada homem em particular, de acordo com as suas necessidades. Aos homens em particular, ajo conforme quero: acontecerá a vida ou a morte, a fome ou a sede, mudanças de posição social, nudez e calor, injúrias, caçoadas e traições. Permito que as pessoas digam e façam tudo isso. Não procede de Mim a malícia da vontade, presente naqueles que praticam o mal e injuriam; mas de Mim recebem o ser e a existência. Sem dúvida, não lhes dou o ser para que pequem contra Mim e o próximo; dou-o para o serviço e o amor. Permito o mal a fim de que o ofendido prove a sua paciência ou a adquira.

Também não deixo, de proteger bondosamente as pessoas. Faço a terra produzir frutos, tanto para o pecador como para o justo (Mt 5,45), propiciando o sol e a chuva para as lavouras. Algumas vezes, o pecador recebe até mais do que o justo. Ajo assim, para dar maiores riquezas espirituais ao justo que, por Meu amor, despojou-se de bens materiais e mesmo da vontade própria.

Diretamente para a alma, deixei na Santa Igreja os sacramentos. Eles são o alimento da alma; a alma é incorpórea e vive da Minha Palavra, ao passo que o pão material destina-se ao sustento do corpo; neste sentido, afirmou Meu Filho no Evangelho, 'não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai de Mim' (Mt 4,4). 'Vive' a alma, quando segue por intenção íntima a mensagem da Minha Palavra encarnada. É essa palavra que dá a vida no Sangue através do sacramentos; enquanto espirituais, eles se destinam à alma. Quando são recebidos apenas materialmente, não produzem a vida da graça. Os sacramentos supõem que o homem os receba com disposições espirituais de desejo santo. Ora, este não provém do corpo, mas da alma. Em tal sentido afirmei que os sacramentos são 'espirituais' e destinam-se à alma, que é incorpórea. Embora ministrados através do corpo, quem os recebe é o desejo da alma. 

Enquanto estás no mundo, sempre vos é possível progredir e merecer. Para isso Eu vos purifico quanto ao egoísmo espiritual e sensível, podando-vos com sofrimentos para que produzais frutos. O sofrimento é ainda um sinal, serve de prova, nele o homem revela o grau de perfeição ou imperfeição em que está. Filha querida, tal é Minha providência em favor dos homens, atuada em situações infinitas e por admiráveis modos. Os maus não a percebem, por que as trevas não Me compreendem (Jo 1,5); mas é percebida por quem tem a fé, perfeita ou imperfeita que seja, de acordo com a iluminação que recebeu. Após ter recebido a precedente iluminação geral, o cristão não deve-se dar por satisfeito.

Enquanto viveis neste mundo, podeis, e deveis progredir. Se alguém estaciona, por isto mesmo retrocede. É necessário crescer naquela iluminação recebida com a graça, ou superar o que é imperfeito para atingir a perfeição. De fato, existe uma segunda iluminação para quem aspira à perfeição. Ela é dupla para aqueles que se elevaram do comum comportamento do mundo. Cada pessoa recebe tal luz conforme suas aptidões e disposições. Como acréscimo à luz da razão, a inteligência é iluminada por uma luz infusa proveniente da graça. Foi com esta segunda luz infusa e sobrenatural que os Doutores da Igreja e demais Santos conheceram a verdade, transformando a escuridão em claridade. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é melhorar ou completar a revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em uma determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos, à Igreja. Esta é a Verdadeira Doutrina da Igreja.

(Final)
(Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena)