segunda-feira, 6 de março de 2023

'EIS AÍ A TUA MÃE!'

Quem quer que considere o grau sublime de dignidade e de glória a que Deus elevou a augustíssima Virgem Maria, facilmente pode compreender que vantagem traz à vida pública e privada o contínuo desenvolvimento e a sempre mais ardente difusão do seu culto. De fato, Deus escolheu-a desde a eternidade para vir a ser Mãe do Verbo, que se encarnaria; e, por este motivo, entre todas as criaturas mais belas na ordem da natureza, da graça e da glória, Ele a distinguiu com privilégios tais, que a Igreja com razão aplica a ela aquelas palavras: 'Saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de toda criatura (Ecli 24, 5). Quando, pois, se iniciou o curso dos séculos, aos progenitores do gênero humano, caídos na culpa, e aos seus descendentes, contaminados pela mesma mancha, ela foi dada como penhor da futura reconciliação e da salvação.

Depois, o Filho de Deus, por sua vez, fez sua santíssima Mãe objeto de evidentes demonstrações de honra. De feito, durante a sua vida privada, Ele escolheu-a como sua cooperadora nos dois primeiros milagres por Ele operados. O primeiro foi um milagre de graça, e teve lugar quando, à saudação de Maria, a criança exultou no seio de Isabel; o segundo foi um milagre na ordem da natureza; e teve lugar quando, nas bodas de Caná, Cristo transformou a água em vinho. Chegado, depois, ao termo da sua vida pública, quando estava em via de estabelecer e selar com o seu sangue divino o Novo Testamento, Ele confiou-a ao seu Apóstolo predileto, com aquelas suavíssimas palavras: 'Eis aí tua mãe!' (Jo 19, 27).

Portanto, nós, que, embora indignamente, representamos na terra Jesus Cristo, Filho de Deus, enquanto tivermos vida nunca cessaremos de promover a glória dela. E, como sentimos que, pelo peso grande dos anos, a nossa vida não poderá durar ainda muito, não podemos deixar de repetir a todos os nossos filhos e a cada um deles em particular as últimas palavras que Cristo nos deixou como testamento, enquanto pendia da cruz: 'Eis aí tua Mãe!'. Ó como nos consideraríamos felizes se as nossas recomendações chegassem a fazer com que cada fiel não tivesse na terra nada mais importante ou mais caro do que a devoção a Nossa Senhora, e pudesse aplicar a si mesmo as palavras que João escreveu de si: 'O discípulo tomou-a consigo' (Jo 19, 27).

(Excertos da Encíclica Augustissimae Virginis Mariae, do Papa Leão XIII)