Capítulo LII
Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - Jubileu do Papa Leão XIII e a Solene Comemoração dos Defuntos
Temos assistido com que vivo e santo entusiasmo a Igreja celebrou o Jubileu Sacerdotal do seu venerado pontífice, o Papa Leão XIII. Os fieis de todas as partes do mundo foram a Roma, pessoalmente ou de coração, para oferecer as suas homenagens e presentes aos pés do Vigário de Jesus Cristo. Toda a Igreja Militante rejubilou-se então em meio às suas longas provações.
A Igreja Triunfante no Céu participou desta alegria pela canonização e beatificação de um grande número de seus gloriosos membros. Não era apropriado, portanto, que a Igreja Padecente também participasse desse momento? Nossos queridos irmãos do Purgatório deveriam ser esquecidos? Aquelas almas tão queridas ao coração de Jesus não deveriam experimentar também os felizes efeitos daquela gloriosa solenidade?
Leão XIII entendeu que sim. Sempre guiado pelo Espírito Santo, ao atuar como Pastor Supremo, o Papa, por meio de Carta Encíclica datada de 1º de abril de 1888, decretou que, em todo o mundo cristão, deveria haver uma solene Comemoração dos Defuntos no último domingo do mês de setembro. Recordando com que amor admirável a Igreja Militante manifestou a sua alegria, e como a Igreja Triunfante se alegrou com ela, 'para coroar, em certo sentido' - diz o nosso Santo Padre - 'esta exultação geral, desejamos cumprir, como perfeitamente possível, o dever de nossa caridade apostólica, estendendo a plenitude dos infinitos tesouros espirituais àqueles filhos amados da Igreja que, tendo morrido a morte dos justos, deixaram esta vida de combate com o sinal da fé, e tornaram-se ramos da videira mística, embora não lhes seja permitido entrar ainda na paz eterna até que tenham pago o último centavo da dívida que devem à justiça infinita de Deus.
'Somos movidos a isso tanto pelos desejos piedosos dos católicos, a quem sabemos que nossa resolução será particularmente querida, quanto pela intensidade agonizante das dores sofridas pelas almas que partiram; mas somos especialmente inspirados pelo costume da Igreja, que, em meio às solenidades mais festivas do ano, não esquece a santa e salutar comemoração dos mortos para que sejam libertados de seus pecados'.
'Por esta razão, uma vez que é certo da doutrina católica que as almas detidas no Purgatório são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis, e especialmente pelo augusto Sacrifício do Altar, pensamos que não podemos dar nenhuma promessa mais útil nem mais desejável de nosso amor do que multiplicando por toda parte, para mitigação de suas dores, a pura oblação do Santo Sacrifício de nosso Divino Mediador'.
'Portanto, designamos, com todas as dispensas e derrogações necessárias, o último domingo do mês de setembro próximo como dia de ampla expiação; dia em que será celebrada por nós, e também por nossos irmãos, os Patriarcas, Arcebispos, Bispos e todos os outros Prelados que exercem jurisdição em uma diocese, cada um em sua igreja patriarcal, metropolitana ou catedral, uma Missa especial pelos defuntos, com toda a solenidade possível, e segundo o rito indicado pelo missal para a Comemoração de todos os Fieis Defuntos. Aprovamos que o mesmo se faça nas igrejas paroquiais e colegiadas, tanto seculares como regulares, contanto que não seja omitido o ofício próprio da missa do dia em todos os lugares onde tal obrigação exista'.
'No que diz respeito aos fieis, exortamo-los vivamente, depois de terem recebido o Sacramento da Penitência, a alimentarem-se devotamente com o pão dos anjos em sufrágio pelas almas do Purgatório. Por nossa autoridade apostólica, aos fiéis que o fizerem, concedemos a indulgência plenária, a ser aplicada às almas defuntas, e o favor do altar privilegiado a todos aqueles que, como dissemos acima, participarem da celebrarão desta Missa'.
'Assim, as almas santas, que expiam os danos de suas faltas ainda pendentes por aquelas dores agudas, receberão alívio especial e eficaz, graças à Hóstia Salvadora que a Igreja Universal, unida à sua Cabeça visível e animada com o mesmo espírito de caridade, oferecerá a Deus, para que Ele os admita na morada da consolação, da luz e da paz eterna'.
'Deste modo, veneráveis irmãos, concedemos-vos afetuosamente no Senhor, como penhor destes dons celestiais, a bênção apostólica para vós, para todo o clero e para todas as pessoas confiadas aos vossos cuidados. Dado em Roma, sob o selo do Pescador, na solenidade da Páscoa do ano de 1888, décimo primeiro do nosso Pontificado'.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.