sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLVI)

Capítulo V

Consolação das Almas - A Santíssima Virgem como Mãe das Almas do Purgatório - Padre Jerônimo Carvalho - Beato Renier de Citeaux

As almas do Purgatório recebem também grande consolação por meio da Santíssima Virgem. Ela não é a Consoladora dos Aflitos? E que aflição pode ser comparada à das pobres almas do Purgatório? Ela não é a Mãe da Misericórdia? E não é para essas santas almas sofredoras que ela deve mostrar toda a misericórdia do seu coração? Não devemos pois estranhar que, nas Revelações de Santa Brígida, a Rainha do Céu se dê o belo nome de 'Mãe das Almas do Purgatório'. 'Eu sou' - disse Nossa senhora àquela santa - 'a Mãe de todos aqueles que estão no lugar de expiação e minhas orações mitigam os castigos que  lhes são infligidos por suas faltas'.

A 25 de outubro de 1604, no Colégio da Companhia de Jesus de Coimbra, o Padre Jerônimo Carvalho faleceu em odor de santidade, com a idade de cinquenta anos. Este admirável e humilde servo de Deus sentiu uma viva apreensão pelos sofrimentos do Purgatório. Nem as cruéis macerações que infligia a si mesmo várias vezes ao dia, sem contar aquelas induzidas a cada semana pela memória da Paixão, nem as seis horas que dedicava de manhã e à noite à meditação de temas sagrados, pareciam suficientes a ele para protegê-lo do castigo que ele imaginava esperar após a morte. Mas um dia a Rainha do Céu, a quem ele manifestava uma terna devoção, condescendeu em consolar o seu servo com a simples certeza de que ela era uma Mãe de Misericórdia para os seus queridos filhos no Purgatório, tanto como para os da terra. Difundindo mais tarde esta consoladora doutrina, o santo homem deixou escapar acidentalmente, no ardor de suas palavras, esta revelação: 'Ela mesma me disse isto'.

Conta-se que um grande servo de Maria, o Beato Renier de Citeaux, tremeu ao pensar em seus pecados e na terrível Justiça de Deus após a morte. Em seu temor, dirigindo-se à sua grande protetora, a quem chamava de Mãe de Misericórdia, foi arrebatado em espírito e viu a Mãe de Deus suplicando ao seu Filho em seu favor. 'Meu Filho' - dizia ela - 'cuida dele com misericórdia no Purgatório, porque ele humildemente se arrepende de seus pecados'. 'Minha Mãe' - respondeu Jesus - 'coloco a causa dele em tuas mãos', significando dizer que se fizesse segundo o desejo da sua Mãe. O Beato Renier compreendeu então, com indescritível alegria, que Maria obtivera a sua isenção do Purgatório.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)