quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (192/194)

 

192 . SACERDOTE MÁRTIR

Santo era aquele sacerdote (cônego de Vich). Foi condenado à morte tão somente pelo 'crime' de ser sacerdote, porque os comunistas espanhóis tinham ódio mortal aos ministros de Cristo. Saiu para a morte... 

Tinha já diante dos olhos o pelotão de milicianos que o haveriam de matar. Ele está calmo: tem a paz da al. Pode-se dizer que um gozo celestial se espelha em seu semblante. Abriu a boca e disse então: 'Milicianos, três graças pedi a Deus durante a minha vida: a graça de ser sacerdote, a de morrer mártir e a de ser a minha morte a salvação de algum de meus assassinos. Consegui a primeira. Agora morro mártir de minha fé e de amor a Jesus Cristo. E, neste momento, peço-lhe que me conceda a última: que algum de vós se salve pelos méritos do sangue que vou derramar por amor de Deus.

Quando acabou de falar, um dos seus assassinos ajoelhou-se arrependido e quis ser assassinado e martirizado ao lado daquele sacerdote que até à hora da morte era tão santo e generoso.

193. TUDO PELO CÉU

São Martinho era naquele tempo um soldado. Encontrava-se com um pobre desnudo, que lhe pede uma esmola: dá-lhe a metade de sua capa... Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de generosidade!

A. São João de Deus encontrou um pobre cheio de chagas e horrível de ver. Tomou-o sobre os seus ombros, levou-o a seu hospital e al, o curou com carinhos quase maternais. Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de caridade!

B. Santo Isidoro, lavrador, ia para a roça. Arava a terra dura, recolhia os feixes à eira e com o calor do verão batia o trigo e dormia ao relento. Em meio de suas ocupações elevava o coração a Deus. Pelos séculos dos séculos gozará da recompensa dessas fadigas suportadas com paciência...

C. Santa Zita servia na casa de uma distinta senhora. Ia à fonte buscar água, varria a casa, acendia o lume na cozinha, aguentava as insolências de sua patroa e remendava os seus próprios e pobres vestidos. Enquanto suas mãos trabalhavam, seu coração orava. Pelos séculos dos séculos gozará a recompensa dessas humilhações dos serviços domésticos.

D. São Bento José Labre pedia esmola de porta em porta. Comia a mísera comida que lhe deitavam na pobre escudela. Levava aos ombros um saco e suas vestes eram um mosaico de mal costurados remendos. Onde dormia? Num palheiro. Onde descansava de suas longas caminhadas? À sombra de alguma árvore ou à beira dos caminhos. Onde rezava? Sua vida de peregrino era uma oração contínua. Pelos séculos dos séculos gozará de seu surrão de pobreza, do ladrar dos cães e do desprezo dos homens que passavam ao seu lado.

Qual é a vossa vida? Quais as vossas ocupações? O que importa é que penseis no céu, suspireis pelo céu e pelo céu e para o céu trabalheis, porque somente assim gozareis dos méritos de vossas obras pelos séculos dos séculos.

194. 'MÃE, TENHO DEZESSEIS ANOS!...'

Monsenhor Bougaud, um dos mais ilustres escritores franceses do século passado, fala-nos de uma senhora católica, com quem se passou o triste acontecimento que vamos transcrever. Tinha aquela senhora um filho. Nos primeiros anos educou- o cristãmente. Ensinava-lhe as rezas, levava-o à igreja, dava-lhe conselhos. Aos doze anos o menino entrou no Instituto de França.

Antes não tivesse entrado! Que se viu ali? O que ouviu naquela escola? A mãe julgava-o ainda um rapaz piedoso e honesto. Mas não era assim. Como havia de sê-lo, se em casa tivera sempre diante dos olhos os exemplos perversos do pai e no Instituto vivia no meio dos amigos mais ímpios e dissolutos? A mãe sonhava ainda; sonhava que o seu filho (com aqueles dezesseis anos que começavam a despertar no coração loucuras de libertinagem) era ainda uma alma de fé. 

Chegou um dia de grande festa religiosa. Pela manhã disse-lhe a mãe:
➖ Filho, queres ir comigo à igreja? Farás tua confissão e comungarás comigo...
Ao que o rapaz respondeu fria e secamente:
➖ Mãe, já tenho dezesseis anos!... Já não creio em Deus, nem nessas coisas.

Que golpe, que facada no coração daquela pobre mãe! Daquele tempo a esta parte são muitos os jovens como aquele, os operários e todos em geral que se multiplicam como larvas de insetos nos charcos de água podre. Só uma graça extraordinária de Deus os poderá arrancar desses charcos!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)