terça-feira, 2 de agosto de 2022

VERSUS: OS SETE GRAUS DA HUMILDADE (I)

I. A renúncia aos bens, a exemplo dos Apóstolos (São Bernardo*)

* (Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993)


'Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento' (Mt 10, 9-10)


Jesus Cristo nasceu pobre, e pobre viveu toda a sua vida; e não pobre, apenas, mas indigente, mendigo, para usarmos a expressão de São Paulo (IICor 8,9). [...] Em Nazaré, Jesus vive de forma pobre: 'uma casa pobre, com uns móveis pobres, assim é o alojamento que o Criador do mundo escolheu'. Ali vive de maneira humilde, ganhando o pão com o suor do seu rosto, trabalhando arduamente, como todos os operários e filhos de operários. Ainda assim, não é verdade que os judeus não acreditavam nEle, e que lhe chamavam 'o filho do carpinteiro'? (Mc 6,3; Mt 13,55). Depois, aparece em público para pregar o Evangelho. Durante esses três últimos anos da sua vida, longe de melhorar a sua forma de subsistência, pratica uma pobreza ainda mais rigorosa, e sobrevive de esmolas.

A um homem que o queria seguir na esperança de passar a viver com maiores comodidades, responde: 'As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça'. Homem, quer Ele dizer, se, por me seguires, pensas que vais conseguir ter uma vida mais abastada, enganas-te, porque eu vim à Terra ensinar a pobreza. Nesse propósito, tornei-me mais pobre do que as raposas e os pássaros, que pelo menos têm abrigos; neste mundo, não tenho de meu a mais ínfima parcela de terra onde possa repousar, e quero que os meus discípulos sejam como Eu. [...] 'Um servo de Jesus Cristo possui a Jesus Cristo e nada mais' - afirma São Jerônimo. Nem sequer deseja possuir o que quer que seja, mas apenas a Jesus. Em suma, Jesus viveu sempre pobre, e pobre morreu: pois não teve de ser José de Arimateia a dar-lhe o túmulo, e outros ainda a fazerem por Ele a esmola de uma mortalha para o corpo?

(Santo Afonso Maria de Ligório)