164. AMOR AOS ENFERMOS
Os missionários católicos não encontram campo mais difícil de conquistar para a fé do que entre os maometanos. Quantas experiências não terminaram em sangue? Escolheram, então, o método de praticar a caridade antes de a ensinar. Ante os missionários que curam os enfermos e protegem os infelizes, também o orgulho muçulmano se dobra.
Irmã Rosália, filha da caridade, trabalhava num dispensário. Para extrair os dentes daqueles pobrezinhos, era mister primeiro vencer o horror às pinças, e a lrmã usava das mais carinhosas expressões árabes: Coragem, meu coração, minha alma, meus olhos! E a pobre mulher, depois de curada, retirava-se dizendo: 'Que Alá conserve suas mãos!'
Alguns muçulmanos, que esperavam seu turno, diziam: 'Se todos os infiéis (chamam assim aos cristãos) vão para o inferno, para lrmã Rosália far-se-á uma exceção'. Quando, em Damasco, a religiosa cuidava de um doente, este lhe disse: 'Estou reduzido à última miséria; tenho esposa e filhos e nenhum dos meus pensa em consolar-me. Tu, que és estrangeira, vens à minha pobre casa para me socorrer; tua religião é melhor do que a minha'.
Assistindo a uma jovem muçulmana, Irmã Rosália deu-lhe uma medalha de Nossa Senhora que a enferma beijou e pôs ao pescoço. A Irmã criou coragem e apresentou-lhe um Crucifixo. É coisa inaudita para um muçulmano beijar o Crucifixo... entretanto a jovem o beijou; e os parentes e amigos não só não o impediram, como até o aprovaram. Ó quanto bem se pode fazer, tratando os doentes com amor e com verdadeira caridade cristã...
165. TENS O NOME DE CRISTÃO...
O pobre 'rei de Roma', o pálido filho de Napoleão I, teve que passar na Áustria os poucos anos de sua juventude. Foram dias dolorosos para ele. O ministro Metternich, quando queria mortificá-lo, dizia-lhe que não tinha nada de seu Pai, nada que o fizesse capaz de governar. 'Tens o chapéu, mas não tens a cabeça de teu pai'.
A quantos que se dizem cristãos se poderia repetir a mesma reprimenda: 'Tens o nome, mas não o coração de Jesus Cristo'. Por quê? Porque não ajudas o teu próximo nem te compadeces dele.
166. O QUE FALTAVA ERA A HUMILDADE
Serapião, o famoso santo do deserto, recebeu um dia a visita de certo monge que continuamente se dizia pecador, e pedia-lhe conselhos de perfeição. O santo, depois de havê-lo feito assentar-se à sua mesa, permitiu-se fazer-lhe algumas observações para o bem de sua alma. 'Filho' - disse-lhe com grande mansidão e caridade - 'estás no reto caminho, mas se queres progredir na perfeição, não andes demais por aqui e acolá; fica em tua cela, atende à oração, ao trabalho, ao recolhimento interior, do contrário...'
Não pôde nem acabar a frase, porque o monge ficou pálido, agitado e gritava como um possesso. 'lrmão meu' - disse Serapião - 'o que te falta é a humildade'.
Vá alguém fazer a mesma correção a uma senhora, a uma jovem, e diga-lhe: 'Criatura de Deus, estás sempre fora de casa, de manhã, de tarde e à noite, gastando horas inteiras sem fazer nada, proseando inutilmente...' Então vereis como o tempo esquenta...
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)