Nada é tão doce para o coração da alma interior, ó meu Deus, do que ouvir-Vos elogiar a sua própria beleza. E não é por vaidade de sua parte; não, de jeito nenhum. Ela sabe muito bem que tudo o que possui provém de Vós. O que a agrada é apenas Vos agradar. O que ela ama é Vos amar. Toda alma que compreende o que sois não possui outra ambição senão essa: atrair o Vosso olhar e o reter em si como pleito de sua beleza infinita.
Depois de tanto empenho e tanta dedicação, eia que a obra está concluída: e Vós a contemplais com agrado, como obra do Artista Divino, perfeita e bela. Este louvor, tão precioso, é dirigido a cada alma que entra no Céu. Mas tanto amor não pode, às vezes, esperar por esse momento e precisa ser manifestado à alma o quanto antes. É difícil para Deus ficar inerte e em silêncio. Ele então se expressa numa frase, mas com que palavras: 'Como és bela, minha alma amada! - Tota pulchra es, amica mea - como a coisa mais bela do mundo. Eu preciso te dizer isso, não tenho receios de te dizer isso, porque é verdade e o teu coração está pronto para ouvir. Sim, Eu, o teu Deus, o digo e não duvides sequer disso por um instante: és tão bela como a verdadeira beleza e assim sempre serás. Alegra-te por isso'.
Além disso, há um entonação na voz divina que não pode enganar. A emoção que domina a alma até o mais íntimo de si só pode provir de Vós, ó meu Deus. Somente Vós podeis agir assim no íntimo da alma. Só Vós podeis derramar tanta paz, tanta segurança, tanto júbilo interior. Uma árvore é conhecida pelos seus frutos e o trabalhador é conhecido pelas suas obras.
Da graça divina, pode-se dizer que a alma 'é mais bela que a beleza'. Há um encanto infinito nela. Quando perscruta e assume uma alma, Ele a comunica esse encanto delicado, penetrante, delicioso, indefinível. Essa graça é toda feita de doçura, de harmonia, de transparência e de claridade, mas também temperada e provada. Nada é imposto, nada é violento, nada é forçado. Ele exerce o seu domínio de forma suave e imperceptível, envolvendo a alma num espírito de paz, silêncio e santidade. A alma se enleva sem esforço e sem fadiga, esquecendo-se de tudo e de si mesma, para ser mais sensível à graça. Ela se sublima na sua modéstia. Sim, a graça divina é, com efeito, 'mais bela que a beleza'.
Mas a beleza e a graça de uma alma interior harmonizam-se muito bem com a força. A alma interior é um dínamo que luta e continua a lutar o bom combate. É uma alma apta a conquistas, que refreia a ação dos demônios e de todos os seus infelizes prisioneiros. Uma alma interior causa mais dano aos Vossos inimigos, ó meu Deus, do que mais de cem almas moldadas pela tibieza. Ela vale por um exército, mas que não combate sozinha. Vós a assistis sempre com bons soldados, com valorosos soldados. Ela os instrui, ela os molda, elas os impregna com a sua fortaleza. Ela comunica a sua energia a eles, os encoraja na luta e lhes assegura, finalmente, a vitória. Em todos os tempos, Deus envia à Igreja algumas dessas almas singulares, tremendas e temíveis como um exército em batalha, que salvam e salvaram tudo o que parecia já perdido. 'Dai-nos, Senhor, almas verdadeiramente interiores'!
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)