... SEJA UM HOMEM VIVENDO PARA A ETERNIDADE
Ontem, hoje e amanhã. Oferendas de um tempo que passa com medição prevista e contada. A litania das horas tem começo, meio e fim: o ontem, o hoje e o amanhã que não vai mais existir. O tempo que passou pode ter, como perspectiva, apenas a reflexão dos caminhos andados e as coisas feitas e não feitas. Somos senhores do hoje, deste minuto que se esvai como a água que escorre entre os dedos. Somos homens de amanhãs eternos.
Somos chamados a pensar e a viver com os olhos e a alma voltados para a eternidade. O amanhã tornado hoje sem ontem ou anteontem. Sobreviventes do tempo, como criaturas imortais junto de Deus ou como exilados para sempre num mundo de trevas e de dor infinita. Santo Agostinho clamava: 'Ó eternidade! Ó eternidade, quem pensa em ti e não se converte a Deus, perdeu a fé ou a razão!' Perdeu a fé, perdeu a razão, perdeu o tempo, perdeu a vida, perdeu a alma, perdeu tudo!
No momento em que a morte fechar para nós a cortina do tempo, não há mais mudança, nem livre arbítrio, nem amanhã. E tudo o que seremos na eternidade, está moldado no homem eterno que nascer naquele dia tremendo, naquela manhã cinzenta ou naquela madrugada fria. Não há mais o domínio tangível do espaço e do tempo, não cabe mais os assomos da graça ou a perplexidade dos sentidos, basta-nos o nada absoluto como herança das moradas eternas. Céu, Inferno, Purgatório. Essa é a realidade que conta, essa é a nossa história humana que fica, que perpassa, que vence o mundo e o tempo. Essa é a nossa eternidade.
A criatura de Deus nascida com os poderes divinos da razão e da vontade ousou assumir para si a razão e a vontade como próprio Criador. E, nesse desvario, sucumbe aos desvãos das crenças mais infames e diabólicas sobre a sua própria natureza: já não são homens e mulheres, mas seres sexuais e assexuados de toda sorte; não mais famílias e comunidades, mas egos infernizados dos delírios da fama, poder, riqueza e prazer a todo custo; não mais a vida caseira e costumeira, mas o arrebatamento de uma cultura universal adestrada aos valores impostos pelo sistema dominante, às custas do empoderamento tosco de minorias; não mais o zelo da caridade e do recolhimento, mas a rebeldia a tudo e a perda de todas as referências morais vigentes. O ser humano rebelado contra o Criador e as criaturas e, ainda mais, contra si mesmo.
Para ser um homem eterno... seja um homem vivendo para a eternidade. Que molde a sua vida pequena com a dimensão da eternidade. Que tenha o Céu como único zelo, o Céu por razão, o Céu como destino e como herança. Não, este mundo não é uma casa, é uma hospedaria; o mundo não é uma fonte de alegrias e nem uma taça de prazer; o mundo não é a praça de nossos sonhos, mas atalhos de muitos desencontros. Descartamos meditar sobre a eternidade sem tempo, enquanto nos agarramos ao mundo que nos descarta no tempo. O preço do mundo é um tempo que nos é dado e que nos será tirado, pois tem como frutos a velhice, a perda da saúde e a morte. Para todos e em tudo, com mais ou menos tempo.
Seja, homem de uma vida que almeja ser eterno, um homem que viva para a eternidade. Um cristão no mundo, à espera da grande travessia para o encontro definitivo da criatura com o seu Criador, com Deus em tudo e em todos. Com os olhos na eternidade, você será um homem melhor, você viverá uma vida melhor. As práticas do bem e da caridade serão mais fáceis, o amor ao próximo será um dom natural. Viva a eternidade na terra, agora, no hoje, no único momento em que se pode ser o senhor do tempo. Para que o ontem tenha sido caminho para o Céu. Para que o amanhã seja o dia perpétuo da alma com Deus.