quinta-feira, 6 de maio de 2021

VERSUS: CONTOS DA MORTE X CÂNTICOS DA MORTE

'... A partir do momento em que entreis no reino animal, a lei universal da morte toma, subitamente, uma medonha evidência. Uma força, ao mesmo tempo escondida e palpável, se mostra continuamente ocupada em colocar em evidência o princípio da vida por meios violentos. Em cada grande divisão da espécie animal, ela escolheu certo número de animais que ela encarregou de devorar os outros. Assim, há insetos presas, peixes presas, aves presas, répteis presas e quadrúpedes presas. Não há um instante qualquer onde o ser vivo não seja devorado por outro. Acima dessas numerosas raças de animais, está colocado o homem, cuja mão destrutiva não poupa nada do que vive. Ele mata para se alimentar; ele mata para se vestir; ele mata para se adornar; ele mata para se defender; ele mata para atacar; ele mata para se instruir; ele mata para se divertir; ele mata por matar. Esse rei, soberbo e terrível, precisa de tudo, e nada lhe resiste.

Ele sabe quanto a cabeça do tubarão ou do cachalote lhe fornecerá de barris de óleo; seu alfinete aguilhoa, sobre o papelão em museus, a elegante borboleta que ele surpreendeu durante o voo no topo do monte Branco ou do Chimboraço; ele empalha o crocodilo; ele embalsama o colibri; à sua ordem, a cascavel vem morrer no licor que a conserva e a mantém intacta aos olhos de um longo séquito de observadores. O homem pede tudo: ao cordeiro, suas entranhas para fazer retinir sua harpa; à baleia, suas barbas para sustentar o espartilho da jovem virgem; ao lobo, seu dente mais mortífero, para polir as obras mais leves da arte; ao elefante, seus marfins para adornar o brinquedo de uma criança. Suas mesas estão cobertas de cadáveres... Mas esta lei se deterá ao homem? Não, sem dúvida. Contudo, qual ser exterminará aquele que extermina todos? Ele; é o homem que está encarregado de degolar o homem'.

(Joseph-Marie de Maistre, escritor e filósofo francês)


'Louvado seja Deus, meu Senhor, por todas suas criaturas! especialmente por nosso irmão, o sol, que nos dá o dia e a luz. Radiante e belo em seus esplendores, ó meu Deus! Ele é vossa imagem!

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nossa irmã, a lua e pelas estrelas! É Ele quem as formou no céu, tão brilhantes e tão límpidas!

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nosso irmão, o vento, pelo ar nublado ou sereno, por todos os tempos pelos quais ele dá subsistência à todas as criaturas!

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nossa irmã, a água, que é humilde e útil, preciosa e casta!

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nosso irmão, o fogo, pelo qual, iluminas as trevas, e que é belo, forte e poderoso!

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nossa irmã, a terra, que, por sua ordem, nos sustenta e nos alimenta, produzindo os frutos, as flores e as ervas!

Louvado seja Deus, meu Senhor, naqueles que perdoam por seu amor e naqueles que suportam o sofrimento e a tribulação! Felizes aqueles que perseveram na paz; eles serão coroados pelo Altíssimo.

Louvado seja Deus, meu Senhor, por nossa irmã, a morte, da qual nenhum homem vivo pode escapar! Ela é boa. Ela nos retira do exílio; ela nos devolve à nossa pátria.

Ai daqueles que morrem no pecado mortal! Felizes aqueles que repousam, Senhor, fiéis à vossas santas vontades! A segunda morte, que é a única verdadeira, não os atingirá jamais'.

(São Francisco de Assis)

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