A palavra escândalo, em sentido próprio, significa obstáculo. Em linguagem teológica, significa a palavra, ação ou omissão, que é para o próximo ocasião de pecado. O escândalo diz-se direto, quando premeditada e deliberadamente se intenta o pecado do próximo; indireto, quando embora não se intente o pecado do próximo, suficientemente se prevê que as nossas palavras, ações ou omissões o induzirão a pecar.
Há escândalo direto quando se induz o próximo ao mal, aconselhando, ajudando, mandando, aprovando ou aplaudindo. Quem deliberadamente induz o próximo a pecado grave, peca gravemente contra a caridade e contra o preceito ou virtude a cuja violação o induz. Quem aconselhar outro a cometer um furto, deve na confissão declarar 'induzi o meu próximo a furtar', e acrescentar logo a qualidade e a quantidade do furto.
O proprietário que, sem justo motivo, induz os criados ou operários a trabalhar ao domingo e dias de festa, peca, e deve dizer na confissão que obrigou os seus servos ou empregados a trabalhar em dia de festa de preceito. É evidente que uma coisa é induzir o próximo a roubar e outra a jurar falso; uma coisa é levá-lo a trabalhar ao domingo; outra violar a castidade; e, por isso, na confissão deve-se declarar qual a espécie de pecado que se induziu alguém a cometer.
Há escândalo indireto quando, não havendo intenção de induzir o próximo a pecar, faz-se ou se omite, sem justo motivo e causa suficiente, qualquer coisa que se prevê irá servir de ocasião de pecado ao nosso semelhante. É escândalo indireto falar mal dos superiores eclesiásticos e civis; porque de tais palavras decorre, nos que as ouvem, o desprezo da autoridade e, com o desprezo, a perda de influência da mesma autoridade e o desprestígio da religião.
Dá ocasião ao pecado, e por isso escandaliza, quem distribui maus livros ou imagens indecentes. Este escândalo será direto ou indireto, segundo houve ou não intenção de induzir os outros a pecar ou apostatar da fé. Se houve tal intenção, além do pecado de escândalo, também se pecou contra a caridade num caso e, no outro, contra a fé.
O escândalo indireto também pode nascer do mau exemplo. De fato, não poucas vezes o nosso mau exemplo arrasta os outros ao mal e enfraquece ou pelo menos leva a apagar, nas almas débeis e frouxas, todo o temor ao pecado. Essas almas facilmente raciocinam dessa forma: 'Se os outros não fazem caso desse ou daquele pecado, para que hei de eu ser escrupuloso onde os outros não veem motivo de reparo? Não serei eu o primeiro nem o último a fazer isto'. É, pois, inegável a sedução e perniciosa influência do mau exemplo. Essas almas tenras e débeis nunca cometeriam tais pecados, se não fossem os maus exemplos que lhes foram dados.
Trabalhar nos dias de festa sem necessidade e em lugar onde todos podem ver ou transgredir publicamente o preceito da abstinência, é dar ocasião de que outros cometam as mesmas faltas e, por isso, é escândalo. É também escândalo pronunciar más palavras, rogar pragas diante de crianças, porque tomam daí ocasião de as aprender e de contrair o mau costume de as repetir.
Outra coisa será transgredir os citados preceitos ou pronunciar essas más palavras diante de cristãos fervorosos que, com certeza, não se deixarão arrastar pelo mau exemplo; ou de maus cristãos que, sem o mau exemplo, já transgridem esses preceitos e já têm o mau costume de profanar os nomes santos. Nestes casos, o mau exemplo não seria ocasião de pecado e, por isso, não se juntaria o pecado de escândalo aos pecados que foram cometidos.
A vida da alma é muito mais nobre e preciosa do que a do corpo. Se temos obrigação de não danificar a esta, muito mais a temos de não prejudicar aquela. Portanto, falta-se ao amor do próximo se, sem motivo, se lhe dá ocasião de pecar. Dar ocasião a faltas leves dos outros, é pecado venial. Se não se advertiu na malícia de um ato gravemente escandaloso, o pecado será ainda leve. E quem não conhece nem sabe que dá escândalo, não comete pecado algum. É necessário evitar o escândalo a todo o custo, e não dar ao próximo ocasião de pecado, nem mesmo venial. Se, para tanto, fosse preciso omitir uma ação por si mesma indiferente, ou mesmo boa, ou até às vezes prescrita pela Igreja, teríamos obrigação de omiti-la para evitar o escândalo.
Vejamos alguns exemplos: uma pessoa sabe, por experiência, que sua presença num passeio público em determinadas circunstâncias é ocasião de pecado grave para outra. A caridade cristã exige-lhe que durante algum tempo não apareça em tal passeio, se o puder fazer sem grave incômodo. Disse 'por algum tempo', e 'sem grave incômodo', porque ninguém está obrigado a privar-se de um passeio honesto por muito tempo, o que de per si seria incômodo grave e um sacrifício extraordinário que Deus não exige de nós para evitarmos os pecados dos outros.
Animado de sincero e ardente desejo de perfeição, desejarias receber frequentemente os sacramentos, mas prevês que o teu procedimento dará motivo a escárnios contra a religião e a calúnias contra ti ou outras pessoas. Que fazer? Procura, se podes, com prudentes e ajuizadas observações, prevenir o escândalo. Se nada conseguires, podes deixar os sacramentos, se prevês que será este o meio eficaz de evitar o escândalo. Mas isto uma ou duas vezes, e não por muito tempo, porque a caridade bem ordenada começa por nós; e seria loucura, a pretexto de não prejudicar a alma do próximo, causar grave dano espiritual a ti mesmo. Do mesmo modo, para evitar o escândalo e a ocasião certa de alguém cometer pecado grave, por exemplo, contra a castidade, poderás uma vez por outra deixar de assistir à missa de obrigação. E, se para evitar o escândalo se vai até omitir obrigações, com maior razão se deverá ir até omitir certas ações por si mesmas indiferentes ou até mesmo boas.
No caso de haver motivos justos e particulares para fazer qualquer coisa de que o próximo se vai escandalizar, devemos explicar o motivo do nosso procedimento ou, se for possível, esperar melhor ocasião para fazermos o que desejávamos. É dia de abstinência e vais comer carne publicamente porque estás dispensado do preceito; então tens de explicar, aos que estão presentes, os motivos do teu proceder. Impossível seria, mesmo com a melhor boa vontade, evitar ao próximo toda a ocasião de pecado. Nunca faltarão olhos perversos que vejam ou finjam ver ocasião de pecado nas mais santas das nossas ações.
O Divino Salvador foi acusado de escandaloso pelos judeus; e os fariseus até dos seus milagres a favor dos que sofriam, tomavam como motivo de escândalo. Para evitar escândalos assim, seria preciso, como disse São Paulo aos coríntios, andar fora deste mundo. De nenhum modo, por exemplo, estarás obrigado a sujeitar-te às exorbitantes exigências de um artista ou operário, embora prevejas que vai romper em pragas e imprecações. Ao prejuízo que irias sofrer, acresceria ainda dar razão para que, numa vez seguinte, pudessem mais exorbitar. Os pais podem e devem corrigir seus filhos, mesmo quando preveem que se vão zangar ou ficarem amuados. Antes esses seus arrebatamentos ou amuos do que ficarem com o caminho aberto para faltas mais graves.
E para terminar, advertimos que nem sempre o autor do escândalo indireto está obrigado na confissão a declarar expressamente que escandalizou. Acusa-se alguém, por exemplo, de ter dito palavras obscenas diante de crianças. Não precisa de dizer mais nada; já assim vai tudo confessado, pois sempre as crianças se escandalizam quando ouvem conversas desonestas. Também, pela mesma razão, não é obrigado a declarar o pecado de escândalo quem se acusa de ter trabalhado publicamente no domingo.
'O que escandalizar a um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que se lhe dependurasse ao pescoço uma mó e o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! Ai daquele homem por quem vem o escândalo!' (Mt. 18,6-7) Duras e terríveis estas palavras do Salvador, sempre todo mansidão e doçura! Pensa, porém, no que é o escândalo e nas suas terríveis consequências, e compreenderás a dureza do seu falar.
O escandaloso é um verdadeiro assassino, como diz Santo Agostinho: 'quem dá escândalo é um assassino', porque mata a vida da alma. Por isso a Escritura chama ao demônio 'homicida desde o princípio'. O demônio foi o primeiro sedutor e o pai de todos os sedutores e escandalosos, seus instrumentos e auxiliares em tudo são semelhantes, quando procuram arrastar à perdição as almas puras e inocentes.
Um só pecado de escândalo pode ser causa da ruína espiritual de centenas de pessoas. Escandalizaste a uma pessoa, esta a outra, e assim por diante; e foi o teu pecado a causa remota de todos estes pecados. Sucederá até, que, morto o escandaloso, sepultado de há muito, esquecido pelos homens o seu nome, continue ainda a ser causa da ruína de muitas almas. A semente por ele lançada à terra germinou, cresceu e produziu frutos de morte eterna, entre os homens!
Não te iludas, parecendo-te que o escândalo é coisa de pouca monta; nem o consideres ser coisa leve. Examina com cuidado se tens dado escândalo, onde e de que modo. Suposto mesmo que não tenhas sido absolutamente responsável diante de Deus porque não advertiste no pecado ou nas suas consequências, procura reparar do melhor modo possível, e evitar completamente para o futuro, todo o escândalo: 'Não percas aquele por quem Cristo morreu' (Rm 14,15). Se conheceres que alguém arma ciladas à tua virtude, ou que sua amizade é perigosa para a tua alma, foge com o maior cuidado, porque também Jesus Cristo morreu por ti sobre a Cruz.
Aquele que, sem justo motivo, deu ao próximo ocasião de pecar, está obrigado a reparar, quanto puder, o dano espiritual que lhe causou. Se, por tua culpa, alguém se apartou do caminho do bem, cuida por todas as maneiras de o trazer de novo à virtude, exortando-o, instruindo-o, orando por ele e dando-lhe bom exemplo. Que ele veja, nas tuas palavras e obras, que repudias todo o mal que fizeste e dele estás arrependido de todo o teu coração.
O melhor meio de reparar o mal será a tua conversão de pedra de escândalo que eras, pelo teu mau exemplo, em pregador mudo, mas eloquente da virtude pela tua vida exemplar e verdadeiramente cristã. Nas dúvidas que te ocorrerem sobre qualquer ponto em particular, aconselha-te com o teu confessor.
(Excertos da obra 'O Cristão no Tribunal da Penitência', do Pe. Frutuoso Hockenmaier)