1. A Igreja Católica deve conceder exéquias eclesiásticas a pecadores públicos e manifestos, que assumiram uma vida notoriamente contrária aos princípios da autêntica fé cristã?
Não. Com uma exceção: a não ser em caso de um sinal ou manifestação explícita de arrependimento do pecador à sua condição de vida anterior.
2. Não existindo tal manifestação de arrependimento, essa concessão pode ser dada mediante atribuição específica de algum sacerdote ou de alguma diocese da Santa Igreja?
Não. Não, sem exceções.
3. Por que não?
Porque este impedimento está explícito no texto do Direito Canônico, por meio do Cân. 1184, que estabelece:
Cân. 1184 — § 1. Devem ser privados de exéquias eclesiásticas, a não ser que antes da morte tenham dado algum sinal de arrependimento: 1.° os apóstatas notórios, os hereges e os cismáticos; 2.° os que escolheram a cremação do corpo próprio, por razões contrárias à fé cristã; 3.° os outros pecadores manifestos, aos quais não se possam conceder exéquias eclesiásticas sem escândalo público dos fiéis.
4. Esses princípios se aplicariam também a uma possível concessão a tais pecadores da chamada missa de sétimo dia?
A não concessão de exéquias eclesiásticas privilegia particularmente a negação das missas exequiais, conforme claramente exposto no Cân. 1185:
Cân. 1185 — Àquele a quem foram recusadas exéquias eclesiásticas, deve também ser-lhe negada qualquer Missa exequial.
5. Assim, um pecador público não pode ser objeto de amparo espiritual pela Igreja Católica?
Podem e devem ser feitas orações e/ou outras intenções privadas em relação à vida de qualquer pessoa, em função do fato de que o julgamento final de cada alma é atributo exclusivamente da infinita justiça e misericórdia de Deus. E porque também são destinadas ao conforto espiritual dos parentes e amigos daquela pessoa. Mas, estas orações e intenções, não podem ser nunca expressas na intenção da alma de um pecador manifesto ou de um herege público na forma de uma missa exequial.
6. É, portanto, inválida a missa exequial nestas condições?
Absolutamente inválida porque as exéquias eclesiásticas, com as quais a Igreja implora o auxílio espiritual
para os defuntos e honra os seus corpos e, ao mesmo tempo, leva aos vivos a consolação da esperança, devem celebrar-se em conformidade com as leis litúrgicas vigentes.
7. A missa exequial realizada nestas condições é apenas inválida?
Não, é muito mais grave do que isso, porque estabelece simultaneamente uma ruptura com a liturgia da Igreja e um espetáculo de escândalo público, além da possibilidade de incorporar um sem número de outros sacrilégios, incluindo manifestações e pronunciamentos totalmente antagônicos à sacralidade da liturgia, bem como comunhões sacrílegas, por exemplo. E, além disso, há todo um potencial ciclo de consequências dos que tendem a explorar o fato de forma a atacar a Santa Igreja, o que potencializa tremendamente a gravidade dessa situação.
8. Mas o pecador impenitente não poderia se salvar no extremo momento da morte?
Possível é porque Deus é Deus. Mas a Igreja é extremamente prudente aos ditames da autêntica fé cristã: quem viveu por livre arbítrio de forma impenitente não pode contestar que a Santa Igreja tome por princípio que se morre como se vive e que, assim, quem vive impenitente morre também de forma impenitente. Os ritos da Santa Igreja não são ecumênicos e são expressamente destinados aos que creem e praticam in totum a doutrina ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
9. Mas a percepção geral atualmente...
Nos tempos atuais, há uma percepção absolutamente falsa e ecumênica de que a salvação é uma coisa fácil e Deus, sendo um abismo de misericórdia, há de salvar todos os homens. A salvação de uma alma é uma luta difícil e obra de uma vida inteira de renúncia ao pecado e de perseverança na graça. Deus é um abismo de misericórdia e um abismo de justiça. A Igreja Católica, ciente disso, tem reiteradamente defendido, seja pela tradição, seja pelos ensinamentos dos Padres da Igreja, que o número dos que se salvam é pequeno, como explicitado cristalinamente pelo próprio Jesus: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita' (Lc 13, 22).
10. O que se pode constatar destes fatos recentes então?
Que o verdadeiro abismo é o pecado. Os que dele se usufruem, nele se refestelam e nele querem aplicar livre e generalizadamente todos os seus arbítrios. E ai daqueles que devendo ser os pastores do rebanho do Senhor e luz do mundo, aliam-se aos lobos por respeito humano, falta de prudência ou simplesmente pelas comezinhas retribuições mundanas. Tornam-se, como outros tantos, iguais pedras de escândalo.