quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DA VIDA ESPIRITUAL (105)

Você, amigo de longa data, lamentava a pouco o fato de já não ser tão moço e que as tarefas do dia-a-dia lhe pareciam cada vez mais demoradas e mais cansativas... eis o preço que o tempo nos cobre sob a ótica puramente humana: menor vigor físico, maiores limitações para tudo. O avanço do tempo que não pára está diante de todos: as árvores perdem seus frutos e folhas, o sol se põe a cada dia, a morte de um parente ou de um velho conhecido, o limo que cobre as paredes assim como o matagal envolve por completo a velha casa em ruínas... E, ainda na nossa pobre ótica humana, lamentamos a sua passagem como símbolo da nossa própria morte que se aproxima, da perda dos bens e da juventude quase esquecida... Mas o tempo é o caminho que nos leva às eternas latitudes de Deus, às moradas sem fim das bem aventuranças, ao derradeiro aconchego da casa paterna. Como cristãos no mundo, os dias que se vão não são frutos perdidos e nem aves de arribação: são as contas do rosário que Deus perpassa à espera de cada um de nós; os dias que se passaram não são mato seco para ser queimado, mas pedras preciosas que pavimentam caminhos para a eternidade. Os dias que morrem, na verdade não morrem nunca: são simplesmente a certeza definitiva de que ainda somos peregrinos a caminho de casa.

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