Vosso olhar, meu Deus, não é apenas agradável: é benéfico. Ele não nos acha bons apenas, ele nos torna bons. Olhar com amor e criar e enriquecer as vossas criaturas é sempre a mesma coisa para Vós, meu Deus. Que o vosso olhar se digne a voltar-se para a minha alma e nela pousar suavemente... Nada me agrada mais do que saber que estou sob a atenção dos vossos olhos. Parece-me assim que devo ter sempre o mais profundo respeito e a mais humilde modéstia. Quanta luz não encontro no vosso olhar! Ele ilumina o meu caminho, me ensina o verdadeiro valor das coisas e me faz ver se elas podem ser meios ou obstáculos para mim. E, por outro lado, me permite levar essa luz a outras pessoas. Sem ela, eu não seria mais do que escuridão. Ó, bendito olhar do meu Deus, queria vos ter fixado em mim para todo o sempre!
Vosso olhar, ó meu Deus, não é um olhar externo para a minha alma; é interior, no mais íntimo de mim. A alma tem a impressão de ser devassada pelo vosso olhar de dentro para fora. Isso é a verdade. Esse olhar sois Vós, ó meu Deus, que faz morada em minha alma e que a ilumina ao mesmo tempo em Vós, nela mesma e em todas as coisas. A alma está consciente dessa luz interior que se assemelha a um cristal muito puro que, exposto diretamente ao sol, torna-se cintilante pelos raios luminosos, e sabe disso. Mas essa é ainda uma comparação muito tênue porque a alma é espírito e Deus é espírito. E nada pode dar sequer uma ideia aproximada do que acontece na dimensão da luz, quando Deus invade uma alma e a toma para si. Ele, que é a verdade absoluta! Bem aventurada é a alma sem defeito e sem mancha que os raios divinos podem iluminar em plenitude! E como é suave ver a Deus em si mesmo assim! Já é um prenúncio do Céu...
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I - O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)