sábado, 30 de abril de 2022

VERSUS: A IGREJA E O MUNDO SÃO INIMIGOS MORTAIS

A origem de toda a decadência dos valores cristãos da atual geração está irremediavelmente vinculada ao conceito falso e apóstata de que é possível uma reconciliação plena e eficaz entre as coisas de Deus e as coisas do mundo. Esse pensamento norteia grande parte do clero e uma imensa maioria dos leigos católicos e alimenta os princípios pervertidos do liberalismo, do ecumenismo, do indiferentismo e do materialismo tóxico.

Não se colhem frutos bons de árvores más. Não rebentam frutos bons de sementes podres. Não há nenhuma possibilidade de se reunir, num mesmo cesto, as graças de Deus e os pecados dos homens. Não existe possibilidade alguma de se camuflar ou extirpar a inimizade irreconciliável entre o mundo e a Igreja de Cristo, porque este confronto intenso e duradouro foi explicitado e imposto por Deus desde o princípio da criação:

'Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar' (Gn 3,15)

Há e haverá sempre uma guerra inevitável e tremenda nesta vida entre duas raças - os filhos da Mulher (Nossa Senhora) e, portanto, os descendentes de Nosso Senhor Jesus Cristo e os filhos da serpente (satanás) que vivem e morrem apenas pelas coisas do mundo. Os primeiros labutam no espaço de uma vida confinada entre o efêmero e o eterno com Deus, incensados pela oração, penitência, perseverança e pela fé. Os filhos do mundo respiram e trabalham em favor da insensatez e da insanidade do mundo, submersos pelo indiferentismo da eternidade e moldados pelos atalhos fáceis e diabólicos do prazer, do livre manuseio e usufruto do corpo e das ideias, do dinheiro, do poder, da ambição desenfreada, do culto da libertinagem, do desvario da criatura feita e moldada pela própria criação.

Essa guerra é contínua e tende a ficar cada vez maior em dois momentos: quando o mal se arvorar de possuir todas as mentes ou quando o bem se acovardar em todos os corações. O reino do anticristo será o momento do apogeu destas duas condições conjugadas. No primeiro caso, nunca na história humana, o demônio se sentiu tanto à vontade para possuir e dominar todas as mentes: heresias, blasfêmias e falsas ideologias campeiam livremente sem freios e com afagos diversos, induzindo a condição humana ao aniquilamento espiritual pela defesa intransigente e a prática criminosa do aborto, da ideologia de gênero, do ateísmo militante, do aviltamento das boas obras. Por outro lado, o bem se retrai, se envergonha da verdade, se acovarda da luta, se beneficia do comodismo, se ilude com a cumplicidade:

Quando veio a primeira chuva, disseram que tinha sido um acaso.
Quando veio a segunda chuva, acharam apenas uma coincidência.
Quando veio a terceira chuva, fingiram que nem se molharam.
Quando veio a primeira tempestade, comportaram-se como se fosse apenas mais uma chuva.
Quando ventos ruinosos e terríveis inundações se juntaram à tempestade, acharam tudo ainda muito normal.
Quando veio, enfim, o dilúvio,
não acharam e nem pensaram mais nada,
porque estavam todos mortos*.


O preço da cumplicidade é a morte de todos. Porque, não havendo possibilidade de amizade entre Deus e o mundo, quem se coloca em favor do mundo impõe-se como inimigo de Deus, como 'adúltero' da verdade, nas palavras perturbadoras de São Tiago:

'Adúlteros, não sabeis que o amor do mundo é abominado por Deus? Todo aquele que quer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus' (Tg 4,4).

Na epístola, São Tiago assevera que o amor ao mundo constitui abominação a Deus, que os amigos do mundo são adúlteros e inimigos de Deus. Esta é a premissa que conforma e molda a sã doutrina católica, a pedra angular que fundamenta a Igreja de Cristo. Se essa igreja abandona esta premissa e passa a interagir amigavelmente com o mundo, ela tende a tornar-se refém do mundo, a adulterar a Verdade que a proclama como única, santa, apostólica e verdadeira, a voltar-se contra Deus e a preparar com tapete vermelho os terríveis tempos da chegada do anticristo nesta terra.

* livre exercício pelo autor do blog da ideia central de um famoso poema de Maiakóvsky

sexta-feira, 29 de abril de 2022

O ANTICRISTO SERÁ O APOGEU DE TODA APOSTASIA

Está escrito que 'virá uma apostasia e que o homem do pecado será revelado'. Em outras palavras, o Homem do Pecado nasce de uma apostasia, ou pelo menos chega ao poder por meio de uma apostasia, ou é precedido por uma apostasia, ou não existiria se não fosse por uma apostasia. Assim diz o texto inspirado. Observemos agora como é possível apreciar no curso da história, de que forma a ação da Providência nos permite interpretar a profecia.

Em primeiro lugar, temos uma interpretação no episódio de Antíoco anterior aos eventos contemplados na profecia. Os israelitas, ou pelo menos um grande número deles, abandonaram a sua religião sagrada e só então foi permitido ao inimigo entrar em cena. Temos também o caso do imperador apóstata Juliano, que tentou subjugar a Igreja por meio da astúcia e reintroduzir o paganismo. Há que se notar que foi precedido e inclusive criado pela heresia, por aquela primeira grande heresia que perturbou a paz e a pureza da Igreja.

Cerca de quarenta anos antes de se tornar imperador, surgiu a infame heresia ariana, que negava que Cristo fosse Deus. Perpassou como um câncer entre os chefes da Igreja, de tal forma que, pela traição de uns e pelos erros de outros, chegou a dominar o cristianismo. Os poucos homens santos e crentes, testemunhas da Verdade, gritaram com admiração e terror, em face da apostasia, que o Anticristo estava próximo. Eles o chamaram de 'o precursor do Anticristo'. E certamente a sua sombra chegou. Juliano foi educado no coração do arianismo por alguns de seus principais apoiadores. Seu tutor foi aquele Eusébio de quem seus partidários tomaram o nome; no devido tempo, ele caiu no paganismo e tornou-se um cruel perseguidor da Igreja.

Terceiro, outra heresia surgiu com consequências muito mais duradouras e de longo alcance. Era de dupla natureza, de duas cabeças, por assim dizer: nestorianismo e eutiquismo, aparentemente opostos, mais unidos em torno de um objetivo comum: negar de uma forma ou de outra a realidade da encarnação de Cristo, buscando destruir a fé dos cristãos, não menos objetivamente e ainda mais insidiosamente do que a heresia de Ário. Espalhou-se pelo Oriente e pelo Egito, corrompendo e envenenando aquelas Igrejas que haviam sido outrora as mais florescentes, as primeiras moradas e os baluartes da verdade revelada. Desta heresia, ou pelo menos por meio dela, surgiu o impostor Maomé e o seu credo. Aqui está, portanto, outra Sombra do Anticristo em particular.

Quanto ao quarto e último exemplo, que pude tirar da geração que imediatamente precedeu a nossa, limitar-me-ei a observar que, à semelhança dos exemplos citados, a Sombra do Anticristo surgiu de uma apostasia, de um abandono da fé em favor das doutrinas infiéis, de uma apostasia sem dúvida das mais iníquas e blasfemas que o mundo conheceu [refere-se à revolução Francesa]. 

Todos esses exemplos levantam as seguintes questões: o inimigo de Cristo e da sua Igreja surgirá em um momento de inequívoco afastamento de Deus? Não há razão para temer que essa apostasia esteja gradualmente sendo preparada, aumentando e se consolidando em nossos dias? Não há neste exato momento um esforço especial de quase todos para prescindir da religião, mais ou menos evidente neste ou naquele lugar, mas mais visível e significativamente naquelas regiões mais civilizadas e poderosas? 

Não existe um consenso recente de que uma nação não tem nada mais a ver com religião, que é algo que diz respeito apenas à consciência individual? O que é o mesmo que dizer que podemos deixar a Verdade desaparecer da face da terra sem fazer nada para impedi-lo. Não existe um movimento vigoroso e unificado em todos os países, destinado a privar a Igreja de Cristo de seu poder e posição? Não há um esforço febril e permanente para se livrar da necessidade da religião nos negócios públicos, por exemplo, a tentativa de desconsiderar a necessidade de juramentos com a desculpa de que são sagrados demais para os assuntos da vida cotidiana, em vez de se buscar garantir que fossem feitos com maior reverência e cuidado? Não há uma tentativa de se educar sem religião, ou seja, colocando todas as formas de religião no mesmo nível? 

Não há uma tentativa de reforçar que a temperança e todas as demais virtudes que dela decorrem persistem sem religião, por meio simplesmente de critérios sociais e naturais? De se fazer da conveniência e não da verdade o objetivo e a norma das decisões do Estado e a constituição das leis? Fazer da quantidade, e não da Verdade, o critério para sustentar ou não determinado artigo de fé, como se as palavras das Escrituras fossem sustentadas pela opinião da maioria? Privar a Bíblia do seu sentido verdadeiro e nos induzir a pensar que esse sentido pode ter cem significados, todos igualmente verdadeiros; ou seja, o que na verdade implica não ter significado algum, ser letra morta, que pode ser posta de lado? Substituir a religião como um todo, na medida em que é externa e objetiva, e expressa em leis e palavras escritas, por algo meramente subjetivo e delimitado pelos nossos próprios sentimentos e, deste modo, produzir algo tão instável e tão desordenado, que consistiria basicamente em destruir a religião por completo?

(Excertos da obra 'Cuatro sermones sobre el Anticristo', do Cardeal John Newman)

quinta-feira, 28 de abril de 2022

28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT

  

Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho.

Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia.

Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre elas o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece. Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de ti que ignoro de mim. É certo que agora vemos como em espelho e obscuramente, ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de ti, estou mais presente a mim do que a ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir. Mas aí está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la. Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio dia diante de tua face'.

(Santo Agostinho)

terça-feira, 26 de abril de 2022

A BÍBLIA EXPLICADA (XXIV): OS 4 PECADOS QUE CLAMAM AO CÉU POR VINGANÇA

 

São quatro os pecados que clamam ao Céu por vingança: assassinato intencional, sodomia, opressão dos pobres e fraude aos trabalhadores em seus salários. Esta categoria de quatro pecados graves não constitui uma classe dos piores pecados possíveis, pois nenhum deles se opõe diretamente a Deus, mas são pecados que tendem a provocar a ira de Deus de uma forma diversa daquela que seria atribuída à sua ira divina contra muitos outros pecados. As Sagradas Escrituras mencionam estes pecados como uma classificação à parte e imperativos a Deus por vingança:

'O Senhor disse [a Caim]: 'Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. De ora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu sua boca para beber de tua mão o sangue do teu irmão' (Gn 4, 10-11).

'Vamos destruir este lugar [Sodoma], visto que o clamor que se eleva dos seus habitantes é enorme dian­te do Senhor, o qual nos enviou para exterminá-los' (Gn 19, 13).

'O Senhor disse: Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço os seus sofrimentos' [Ex 3,7].

'Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos' [Tg 5,4].

Nos quatro pecados mencionados acima, a ofensa se opõe diretamente à natureza e aos instintos naturais e, portanto, à ordem que, neste mundo, Deus teve o supremo cuidado de estabelecer. Assim, o homicídio doloso se opõe diretamente à soberania de Deus, que é o único senhor da vida; a sodomia é uma perversão do verdadeiro instinto sexual natural, destinado a perpetuar a raça; a opressão dos pobres extingue o sentimento de piedade arraigado no coração humano; e a fraude aos trabalhadores dos seus salários se opõe ao instinto social que salvaguarda a propriedade dos membros do corpo político. Todos estes pecados clamam ao Céu por vingança porque se opõem diretamente contra a obra da Criação e tendem à destruição da raça humana.

[Excertos da obra 'Moral and Pastoral Theology', Rev. Henry Davis, 1943; com base em publicação original pelo blog Rorate Caeli)

segunda-feira, 25 de abril de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: CONHECIMENTO DIVINO


Deus se compraz em fazer a alma interior ver as coisas como Ele mesmo as vê. Ele revela os seus segredos aos seus amigos e tanto mais claramente quanto mais os ama. A primeira coisa que Ele ensina com precisão e clareza absolutamente novas é como o mundo da natureza se manifesta, com as suas belezas, as suas perfeições, a variedade dos elementos que o compõem e a sua perfeita harmonia na unidade. Os céus se tornam um livro que expõe a Sabedoria, o Poder e a Bondade de Deus: os céus descrevem a glória de Deus (Sl 19,1)

Então o mundo da graça se ilumina e se torna para a alma interior um espetáculo sempre novo e sempre encantador. Como é bela, de fato, a obra de Deus nas almas! Quanta paciência à espera delas, quanta misericórdia para acolhê-las, quanta delicadeza para sublimá-las, quanta generosidade para amá-las! Parece que tudo foi feito e manifestado para uma única alma: a Santíssima Trindade; Jesus, o Verbo Encarnado; a Igreja, a sua obra e a sua Esposa; os sacramentos; a graça; a humanidade e o próprio mundo material: 'Deus coopera todas as coisas para o bem daqueles que o amam' (Rm 8, 28). É isso que a alma interior contempla depois de descobri-la em sua vida pessoal e na vida dos outros.

Mas o que Deus quer revelar à alma em primeiro lugar é Ele mesmo. Embora nem sempre todos os véus da fé possam desvanecer, os que permanecem não perturbam as relações da alma com o seu Deus. A alma está com Deus como se o pudesse contemplar e, quão maior é o recolhimento com que o acolhe vivo em seu coração, mais se deleita e mais o possui. Esta posse consciente é em si uma espécie de conhecimento quase experimental de Deus, tal como se pode ter de um fruto que, obscuro à primeira vista por uma percepção debilitada, pôde enfim ser saboreado em toda plenitude. As duas fontes de conhecimento combinadas de um mesmo objeto imprimem à alma uma santa alegria, como um prenúncio da felicidade eterna.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

domingo, 24 de abril de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Dai graças ao Senhor porque Ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!' (Sl 117)

 24/04/2022 - Segundo Domingo da Páscoa

22. 'MEU SENHOR E MEU DEUS!' 


O segundo domingo do tempo pascal é consagrado como sendo o 'Domingo da Divina Misericórdia', com base no decreto promulgado pelo Papa João Paulo II na Páscoa do ano 2000. No Domingo da Divina Misericórdia daquele ano, o Santo Padre canonizou Santa Maria Faustina Kowalska, instrumento pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo fez conhecer aos homens Seu amor misericordioso: 'Causam-me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia'.

No Evangelho deste domingo, Jesus já havia se revelado às santas mulheres, a Pedro e aos discípulos de Emaús. Agora, apresenta-Se diante os Apóstolos reunidos em local fechado e, uma vez 'estando fechadas as portas' (Jo 20, 19), manifesta, assim, a glória de Sua ressurreição aos discípulos amados. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 19) foi a saudação inicial do Mestre aos apóstolos mergulhados em tristeza e desamparo profundos. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 21) vai dizer ainda uma segunda vez e, em seguida, infunde sobre eles o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23), manifestação preceptora da infusão dos demais dons do Espírito Santo por ocasião de Pentecostes. A paz de Cristo e o Sacramento da Reconciliação são reflexos incomensuráveis do amor e da misericórdia de Deus.

E eis que se manifesta, então, o apóstolo da incredulidade, Tomé, tomado pela obstinação à graça: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei' (Jo 20, 25). E o Deus de Infinita Misericórdia se submete à presunção do apóstolo incrédulo ao lhe oferecer as chagas e o lado, numa segunda aparição oito dias depois, quando estão todos novamente reunidos, agora com a presença de Tomé, chamado Dídimo. 'Meu Senhor e meu Deus!' (Jo 20, 28) é a confissão extremada de fé do apóstolo arrependido, expressando, nesta curta expressão, todo o tesouro teológico das duas naturezas - humana e divina - imanentes na pessoa do Cristo.

'Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' (Jo 20, 29) é a exclamação final de Jesus Ressuscitado pronunciada neste Evangelho. Benditos somos nós, que cremos sem termos vistos, que colocamos toda a nossa vida nas mãos do Pai, que nos consolamos no tesouro de graças da Santa Igreja. E bem aventurados somos nós que podemos chegar ao Cristo Ressuscitado com Maria, espelho da eternidade de Deus na consumação infinita da Misericórdia do Pai.