sábado, 13 de março de 2021

5 VIAS PRÁTICAS PARA UM BOM EXAME DE CONSCIÊNCIA

I. Exame pelos pensamentos, palavras e ações

Pensamentos: consenti em pensamentos contrários à fé ou à Providência de Deus? Tive ódio a alguém? Desejei ou me deleitei em alguma coisa impura?

Palavras: falei palavras más? Jurei falso? Tive conversações desonestas? Atribuí ao próximo algum crime, ou revelei, sem motivo, aquilo que devia estar oculto? Tenho mentido?

Ações: trabalhei ou fiz trabalhar nos dias santificados? Deixei de ouvir Missa em dia de preceito? Respeitei meus pais e superiores? Desobedeci-lhes? Tenho cometido algum excesso nas comidas, bebidas, jogos e divertimentos? Olhei, com mau fim ou detidamente, objetos perigosos? Fiz alguma coisa indecente? Tirei alguma coisa alheia ou defraudei o próximo?

II. Exame pelos mandamentos e obrigações do próprio estado

Primeiro Mandamento: neguei ou pus em dúvida alguma coisa das que Deus revelou e a Igreja nos ensina? Tenho dito palavras contra a fé? Tenho guardado ou lido livros proibidos, romances obscenos, ou jornais contrários à religião ou aos seus ministros? Desconfiei de Deus? Queixei-me da sua Providência? Ignoro a doutrina cristã? Falei mal da religião ou de seus ministros? Consenti em usar alguma coisa supersticiosa como benzeduras, feitiços, orações extravagantes etc.? Acreditei em sonhos, dias felizes, cartas, leituras da mão, etc.?

Segundo Mandamento: pronunciei com pouco respeito o nome de Deus, de Maria Santíssima, ou dos santos? Jurei falso? Cumpri os votos e promessas?

Terceiro Mandamento: trabalhei ou fiz trabalhar nos dias santos, sem causa justa? Ouvi a Santa Missa? Cometi alguma irreverência na Igreja?

Quarto Mandamento: honrei aos meus pais e superiores? Murmurei deles, tendo-lhes respondido mal, ou dito palavras injuriosas? Obedeci-lhes? Prestei-lhes auxílio quando se achavam em necessidade?

Quinto Mandamento: perdoei a quem me ofendeu? Tive ódio a alguém? Desejei algum mal? Disse palavras ofensivas? Briguei? Excedi-me nas comidas e bebidas prejudicando a minha saúde?

Sexto e nono Mandamentos: tenho consentido deliberadamente em algum mau pensamento? Desejei fazer alguma coisa impura? Estive entretendo em algum prazer indevido? Tive conversações desonestas? Tenho lido ou guardado algum livro ou estampa indecente? Tive olhares perigosos? Pratiquei comigo ou com outrem alguma ação impura? Dei algum escândalo?

Sétimo e décimo Mandamentos: cobicei os bens do próximo? Roubei, defraudei ou retive o alheio? Tenho pagado no prazo marcado as minhas dívidas? Tenho causado algum dano ou prejuízo? Enganei ao próximo nas compras ou vendas?

Oitavo Mandamento: fiz juízo temerário? Descobri, sem causa, algum pecado grave e oculto do próximo? Levantei falso testemunho? Menti?

Em relação aos mandamentos da Igreja:

Ouvi Missa inteira e com atenção todos os dias de preceito? Fui causa que outros a não ouvissem ou a ouvissem mal? Cumpri os preceitos da confissão e comunhão? Fiz o jejum e a abstinência?

Em relação às obrigações do próprio estado:

Um casado examinará: se ama sua mulher. Se a tem injuriado com palavras. Se a tem ofendido com ações. Se lhe tem sido fiel.
Uma casada: se ama seu marido. Se o tem ofendido com palavras ou obras. Se lhe tem sido fiel e obediente.
Os pais: se têm educado religiosamente seus filhos. Se os vigiam, procurando saber o que fazer, onde vão e como se comportam. Se os têm corrigido. Se lhes dão bom exemplo. Se os tratam com dureza excessiva, amaldiçoam ou rogam pragas contra eles. Se procuram que assistam às Missas e rezas da Igreja e recebam os santos sacramentos amiúde.
Os superiores, de qualquer classe que sejam, poderão fazer a si mesmos idênticas interrogações a respeito dos seus súditos: examinarão também se os fazem trabalhar além do que é justo e se lhes pagam os ordenados.
Um moço examinará: se fugiu ou se se afastou das companhias, diversões e convivências perigosas. Se se ocupa no estudo ou trabalho. Se obedece os conselhos e avisos de seus superiores.
Uma moça examinará: se faltou à modéstia ou escandalizou pelo modo de vestir, brincar ou outros movimentos do corpo. Se procura ou conserva amizades que a põem em perigo de ofender a Deus. Se tem cuidado das coisas da sua casa.
Um empregado: se murmurou de seus patrões ou os desrespeitou. Se cumpriu suas ordens. Se os defraudou nalguma coisa. Se cuidou bem de seus interesses.
Um negociante: se falsificou os gêneros. Se cometeu alguma fraude nas compras e vendas. Se fez algum contrato usurário, ilícito etc.
Um fabricante: se impediu que os operários fossem à missa nos dias santos. Se os fez trabalhar nos dias santos. Se os fez trabalhar mais do que era justo ou além do contrato. Se permitiu na fábrica conversas indecentes. Se consentiu nalguma desordem.
Um médico: se visitou os doentes com a frequência necessária. Se, nos casos difíceis, descurou o estudo e as consultas. Se procurou que os doentes recebessem os sacramentos, quando os julgava em perigo de vida.

III. Exame pelos sete vícios capitais

Soberba:  é um apetite desordenado de ser preferido aos outros. São filhas deste vício a jactância, vanglória, as brigas, a discórdia, desobediência. Julguei eu ser mais do que realmente sou, pelos dons da natureza ou da graça? Pretendi ser mais do que os outros? Tratei com atenção e respeito aos mais velhos e superiores? Tratei com doçura aos meus iguais? Procurei a minha honra, gabando-me de alguma coisa? Tive complacência ou vanglória da pessoa, sangue, qualidades, empregos ou riquezas? Cobicei honras ou empregos elevados? Deixei-me levar da vaidade? Apeguei-me ao meu próprio juízo, preferi o meu parecer ao alheio, ou não cedi nas disputas? Desprezei os outros? Fiz zombaria de alguma pessoa? Obedeci a meus superiores?

Avareza: é um apetite desordenado das riquezas. Cobicei o alheio? Retive o alheio contra a vontade do dono? Usei mal das riquezas, ou não dei esmola quando o exigia a caridade? Procurei os bens da terra com demasiado afã, ou pus neles o meu coração? Por causa do dinheiro, disse mentiras nos negócios, ou cometi fraudes, enganos, perjúrios, violências? Fiz boas obras por interesse temporal? Deixei alguma obra do divino serviço por cobiça ou para acrescentar riquezas?

Luxúria: é um apetite desordenado dos prazeres sensuais. Consenti em algum pensamento contra a castidade? Pensei com prazer nos pecados passados, ou desejei cometê-los outra vez? Disse alguma palavra ou tive alguma conversa contra a virtude angélica? Como me comportei nos olhares? Faltei à modéstia? Estive em alguma ocasião, baile, teatro ou reunião, em que pudesse manchar a minha alma com algum pensamento, palavra ou ação má?

Ira: é um apetite desordenado de vingança. Tive ódio a meu próximo, propósito de vingar-me, desejo de que lhe acontecesse algum mal? Entristeci-me com o bem alheio, e consenti em desejos de vingança? Disse alguma injúria a meu próximo, ou murmurei dele? Roguei pragas, proferi maldições? Tive contendas ou disputas? Perdoei as injúrias? Em minhas doenças, tive impaciência ou desejei ver-me livre delas contra a vontade de Deus? Desejei a mim ou a outros a morte? Maltratei os animais?

Gula: é um apetite desordenado de comer e beber. Comi carne nos dias proibidos? Guardei os jejuns da Igreja ou aqueles a que sou obrigado por voto? Comi ou bebi demais? Comi ou bebi só por gulodice?
Inveja: é uma tristeza desordenada do bem de outrem. Alegrei-me com o mal alheio, ou dei lugar à tristeza, quando vi a outrem na prosperidade? Senti e mostrei desgosto de ouvir os louvores do próximo, ou diminuí os louvores que outros lhe teciam? Odeio aos outros, porque me igualam ou avantajam em prosperidade e estimação? Tive inveja dos bens do próximo, ou de suas honras, dignidades, amizades, formosura, ciência ou virtudes?

Preguiça: é uma tristeza, tédio ou aborrecimento dos exercícios de piedade. Fugi da virtude por temor dos trabalhos e dificuldades? Deixei-me levar da negligência em praticar coisas árduas no serviço divino? Deixei-me vencer pela tibieza na observância dos mandamentos ou dos deveres do meu estado? Fui inconstante nas boas obras, ou as não acabei, podendo? Desconfiei nas tentações? Tive rancor ou ódio contra as pessoas boas, porque a sua virtude era para mim uma exprobação? Perdi o tempo? Empreguei-o em distrações, conversações inúteis, jogos, etc.?

IV. Exame pelos cinco sentidos

Visão: olhei para coisas formosas, vãs ou perigosas, só por vaidade, sensualidade e curiosidade? Olhei com imodéstia, liberdade ou desedificação dos outros? Fitei os olhos nalgum objeto mau ou perigoso? Olhei com leviandade de uma para outra parte?

Ouvido: apliquei os meus ouvidos a escutar conversas vãs ou curiosas, procurei notícias inconvenientes, lisonjas, louvores próprios ou murmurações? Deixei de ouvir conversações boas, sermões etc., ou os ouvi de má vontade? Recebi bom os avisos ou correções?

Língua: falei de Deus com pouco respeito? Falei da vida alheia? Descobri os defeitos do próximo? Falei alguma palavra grosseira ou não conforme ao meu estado e profissão? Fui sincero e claro com o meu diretor e confessor?

Examinem-se também os pecados cometidos com o gosto, o olfato o tato.

V. Exame pelas potências da alma

Entendimento: fui negligente em aprender a doutrina e as coisas necessárias para salvar-me? Penso frequentemente em Deus e no bem da minha alma? Afasto a minha imaginação de representações inconvenientes ou de ideias perigosas? Procurei saber alguma coisa má, inútil ou superior às minhas forças? Detive-me, propositalmente, em maus pensamentos? Sou contumaz, teimoso em minhas opiniões, ou desprezador das alheias? Julguei ou suspeitei temerariamente dos defeitos ou ditos dos outros? Segui as máximas ou ditames do mundo e da carne? Fui inconstante nos meus bons propósitos?

Memória: lembro-me com frequência dos benefícios de Deus, de seus preceitos, avisos e inspirações?  Tenho presentes os propósitos e os deveres para com Deus, para com o próximo e para comigo mesmo? Esqueci os meios de me santificar?

Vontade:  sujeitei a minha vontade cumprindo com prontidão e alegria os mandamentos de Deus, da Igreja e as ordens dos superiores? Procurei fazer a vontade alheia, desde que nisso não houvesse pecado? Tive má intenção nas boas obras, buscando-me a mim nelas, bem como fazer o meu gosto e vontade? Acaso me apropriei dos talentos, obras e coisas como se as não houvesse recebido de Deus?

(texto publicado originalmente em http://www.saopiov.org/)

sexta-feira, 12 de março de 2021

ORAÇÃO AO SANTO ANJO DO HORTO

Eu te saúdo, Santo Anjo, que consolastes Jesus no Monte das Oliveiras. Tu consolastes meu Senhor Jesus Cristo em sua agonia.

Contigo louvo a Santíssima Trindade, que te escolheu dentre todos os Anjos, para consolar e fortalecer a quem é Consolo e Fortaleza de todos os aflitos e que diante dos pecados do mundo e, de modo especial, diante dos meus pecados, repleto de dor, caiu ao solo.

Pela honra que recebeste e pela disponibilidade, humildade e amor com que ajudaste a santa humanidade de meu Salvador Jesus, eu te peço um arrependimento perfeito dos meus pecados. Consola-me na tristeza que atualmente me aflige e em todas as outras penas que vão sobrevir, especialmente na hora da minha agonia. Amém. 

(Oração de Bento XV, papa da Igreja, 1914 - 1922)

quinta-feira, 11 de março de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Não vos deixeis iludir, meus irmãos. Se alguém seguir a um cismático não herdará o reino de Deus. Se alguém seguir o caminho da heresia, não se encontrará de acordo com a Paixão de Cristo. Tende o cuidado de tomar parte numa só Eucaristia. Porque uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um é o cálice do seu Sangue e um o altar que faz com que sejamos um, assim como também um é o bispo, juntamente com o seu presbitério e os diáconos, meus companheiros na servidão. Assim sendo, o que fizerdes estará de acordo com a Vontade de Deus'.

(Santo Inácio de Antioquia)

quarta-feira, 10 de março de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (55/57)

 

55. DEUS ME CHAMA

Um missionário lazarista, falecido na Itália em fins do século passado, pregava retiro a umas jovens de Constantinopla precisamente nos dias em que a cólera invadia a infeliz cidade. Na manhã do terceiro dia, bem cedo, viu o missionário chegar uma das jovens retirantes, que lhe disse:
➖ Padre, desejo confessar-me e fazer uma boa comunhão esta manhã. Depois da missa lhe direi o motivo.

Comungou com singulares mostras de fervor. Depois da ação de graças veio a dizer-lhe:
➖ Padre, esta noite, passei-a acordada e tive a sensação de que chegara para mim o momento da morte e minha alma, separada do corpo, era levada por meu anjo da guarda ao tribunal do soberano juiz. Já não era o Salvador tão bom e misericordioso, de que tantas vezes nos falam os padres, mas um juiz inexorável. Iam chegando de todas as partes do mundo inúmeras almas; muitas iam para o inferno, outras muitas para o purgatório, muitas poucas diretas para o céu.

Perturbada e atemorizada, levantei os olhos e - ó felicidade! - minha boa Mãe, a Imaculada, ali estava a olhar para mim com uma doçura infinita. Animada com esta vista, do fundo do meu coração saiu o grito que repetia muitas vezes na terra: 'Boa Mãe, Mãe do Perpétuo Socorro, socorrei-me, salvai-me!'. Estava eu aos pés do tribunal de Deus e a minha sorte eterna ia decidir-se num instante. De repente, uma voz melodiosa, como nenhuma outra da terra, se fez ouvir:
➖ Meu Filho, esta é minha filha.

Então Nosso Senhor, voltando-se para a sua gloriosa Mãe, disse-lhe com inefável carinho, que não se pode exprimir em linguagem humana:
➖ Pois é vossa: julgai-a Vós.
E por todo juízo a Rainha dos Santos abriu-me os braços e eu me refugiei neles. Era feliz por toda a eternidade!

Calou-se a jovem. Seu rosto brilhava como se ainda estivesse vendo aquela visão celeste. O missionário, mais impressionado do que deixava perceber, pregou naquela manhã sobre a necessidade da preparação para a morte. Apenas havia terminado, vieram chamá-lo com toda a urgência; uma das jovens que assistiam ao retiro acabava de cair de cama vítima da cólera. Naquele corpinho, que se retorcia com a violência da doença, reconheceu ele a jovem da visão.
➖ Padre, eu bem lhe dizia, Deus me chama!

E duas horas depois, com um sorriso celestial nos lábios, sua alma voava para a glória, repetindo pela última vez sua jaculatória favorita:
➖ 'Minha Mãe, Mãe do Perpétuo Socorro, socorrei-me, salvai-me!'

56. UM SACRISTÃO E UMA VOZ MISTERIOSA

Na pequena cidade de Ostra-Brama, Polônia, há uma bela igreja onde, há séculos, se venera uma devota imagem de Nossa Senhora das Dores. No mês de março de 1896, um forasteiro, falando polonês com sotaque russo, apresentou-se ao sacristão com dois grossos círios, dizendo que queria que ardessem diante da milagrosa imagem até se acabarem.
➖ Fiz promessa - disse - que fiquem acesos até amanhã depois da missa sem que se apaguem. 

Tendo um grande negócio, que amanhã se há de decidir e só me resta este tempo para recomendá-lo a Nossa Senhora. Se quiser, irei junto para colocá-los na igreja.
➖ Eu o farei com gosto - replicou o sacristão - mas o caso é que, quando se deixam luzes na igreja, tenho de passar a noite lá, por temor de um incêndio.
➖ Sei - disse o desconhecido - mas por esse seu trabalho dou-lhe agora mesmo dois rublos.

A filha do sacristão preparou ao pai a ceia e roupas quentes e o russo foi com ele acender os círios, rezou alguns minutos e foi-se embora. O sacristão, uma vez sozinho, tocou as Ave-Marias, fechou as portas, rezou sua oração da noite, sentou-se numa cadeira, na sacristia, e logo começou a cochilar. De repente ouve uma voz que lhe grita:
➖Apaga, apaga os dois círios!

Assustado, levanta-se, olha para todos os lados e não vê ninguém. Julga ter sido um sonho e torna a dormir; mas, pouco depois, desperta-o a mesma voz misteriosa:
➖ Apaga, apaga os círios!
Como não vê ninguém, para acabar com aqueles sonhos, acha que seria melhor apagar as velas; mas, lembrando de sua promessa e do dinheiro recebido, pôs-se a rezar o rosário até que, vencido pelo sono, adormece pela terceira vez. Desta vez, a voz desperta-o com mais força:
➖ Apaga, apaga depressa os círios.

Convencido afinal de que a voz vinha do alto, apaga os círios e fica tranquilo. Ao romper do dia, toca as Ave-Marias, prepara o altar para a missa e começam a chegar os fiéis e também sua filha. Esta, terminada a missa, pergunta ao pai por que apagara os círios. Inteira do que acontecera, após a saída dos fiéis, levaram os círios para examiná-lo, pois notaram que eles tinham um peso extraordinário.

O sacristão, com uma faca foi rasgando a cera e, no interior do círio, viu que o pavio penetrava num tubo de ferro. Suspeitando uma armadilha sacrílega, puseram os círios num barril de água e foram depressa avisar ao vigário e ao delegado de polícia. Descobriram, então, que os dois tubos estavam carregados com dinamite e calculados para explodir precisamente à hora da missa. Imagine-se a gratidão dos habitantes de Ostra-Brama para com Nossa Senhora por os ter livrado, com sua intervenção direta, do terrível atentado.

57. SALVO POR NOSSA SENHORA

Um jovem seminarista francês, por instigação de um parente, abandonou a vocação. Seus pais e mestres fizeram tudo para abrir-lhe os olhos e mantê-lo na vocação. Obstinou-se e partiu para a capital, onde conseguiu ótima colocação e ganhava bom dinheiro. Desgraçadamente, maus amigos o arrastaram aos vícios e de suas práticas religiosas só conservou o 'Lembrai-vos', oração que todas as noites rezava em louvor a Maria Santíssima.

Ao cabo de alguns anos perdeu a colocação e caiu na mais profunda miséria; e, como já não contava com o auxílio da religião, entregou-se ao desespero e resolveu acabar com a vida. Ia já lançar-se ao rio para afogar-se, quando, por inspiração singular, quis antes rezar o seu 'Lembrai-vos' a Nossa Senhora. Ajoelhou-se e rezou...

Ao levantar-se, um terror estranho se apoderou dele: parecia-lhe ver um abismo aberto e fogo abrasador diante de seus olhos; em sua mente agitada pelo remorso, começavam a despertar as recordações da infância. Percebeu que um passo apenas o separava do inferno. Fugiu atemorizado pelas ruas de Paris, sem saber aonde ia... Ao acaso? Não. Nossa Senhora guiou-lhe os passos até uma igreja, em que entrou arrastado por uma força invisível.

Uma grande multidão de fiéis rezava em silêncio diante da imagem de Maria adornada de luzes e flores.
O infeliz sentiu pouco a pouco renascer a sua confiança. Viu um padre que entrava no confessionário e foi ajoelhar-se aos pés dele. Era o Venerável P. Desgenettes, pároco de Nossa Senhora das Vitórias. Entretanto, o rapaz não tinha intenção de confessar-se; queria somente desabafar seu coração e contar a história da sua vida e de seus desvarios.

O padre recebeu-o com a bondade e doçura de uma mãe e, quando ele terminou o seu testemunho, disse:
➖ Meu filho, quero completar a sua história. Faz poucos meses que um bispo esteve pregando nesta igreja e recomendou às orações dos fiéis a um jovem, a quem queria muito, e que andava perdido em alguma parte desta capital. 

O pecador, entre lágrimas e soluços, ocultou o rosto entre as mãos. O pároco ouviu-lhe a confissão preparou-o para uma fervorosa comunhão, restituindo-lhe a paz da alma. O jovem reparou os escândalos que dera, indo pedir perdão aos seus pais, mestres e ao bondoso prelado e, por fim, entrou para uma ordem religiosa para fazer austeras penitências.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

terça-feira, 9 de março de 2021

O ANJO DE PORTUGAL E A SAGRADA EUCARISTIA

No fim do verão ou princípio do outono (meados de setembro a início de outubro) de 1916, ocorreu a terceira aparição do Anjo às crianças, novamente no lugar chamado 'Loca do Cabeço'. As crianças tinham deixado o rebanho pastar (e já não retornavam à casa como na época do verão) e decidido irem até lá para rezar. Logo que chegaram, prostrados de joelhos e rostos em terra, começaram a rezar repetidas vezes a oração do Anjo: 'Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e Vos amo...' quando viram uma luz resplandecente e, em seguida, o Anjo suspenso no ar.

Desta vez, trazia na mão esquerda um cálice e, sobre ele, segurava com a mão direita uma hóstia, da qual caíam algumas gotas de sangue dentro do cálice. Deixando, então, o cálice e a hóstia suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra e rezou:

'Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores'.


Repetiu três vezes esta oração com as crianças. Em seguida, levantou-se e tomando novamente o cálice e a hóstia nas mãos, lhes disse:

'Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus'.


O Anjo deu, então, a hóstia à Lúcia e ofereceu o cálice para Jacinta e Francisco beber. Prostrou-se em terra, mais uma vez, e rezou novamente, mais três vezes, a oração à Santíssima Trindade, no que foi acompanhado pelas crianças. Como Francisco não ouvia o que o Anjo dizia, acompanhava a oração após ouvir as repetições feitas por Lúcia e Jacinta. Ao final, o Anjo desapareceu em meio à mesma luz resplandecente da sua aparição.

(Fátima em 100 Fatos e Fotos, na Biblioteca Digital do blog)

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Os ultrajes que Jesus recebe na Hóstia Sagrada são, antes de tudo, devido às horríveis profanações oriundas de cultos satanistas, mas também resultado das comunhões sacrílegas, recebidas por aqueles que não se encontram em estado de graça ou não professam a fé católica. 

O ataque diabólico mais insidioso, porém, consiste na tentativa de se remover a fé na própria Eucaristia, semeando erros e favorecendo formas indevidas de se receber a Sagrada Comunhão. No primeiro caso, busca-se anular a presença real de Cristo no Pão e no Vinho, negando-se a transubstanciação e, assim, profanar o sagrado sacrifício, violando a sua sacralidade infinita. No segundo caso, induzindo explicitamente a comunhão na mão, dadas por leigos e sob sonoras músicas profanas, que imperam como ato principal e dificultam sobremaneira o recolhimento interior e a sacralidade de se estar na presença real e sagrada de Jesus Eucarístico.

Em Fátima, no início do século passado, o Anjo de Portugal já denunciava esses ultrajes, denominados como 'crimes' que exigiam imediata e cabal reparação. Onde estão os sacerdotes de Cristo que levam hoje a sério essas advertências dos Céus? Uma grande maioria se isola, escondidos por medo de um vírus ou anestesiados por campanhas ecumênicas que afagam heresias e hereges em nome do respeito humano. São João Eudes dizia que o maior castigo que Deus poderia enviar aos homens em pecado era dar-lhes maus sacerdotes. Onde estão os leigos, onde encontra-se o 'pequeno resto'? 

Para os que ainda têm pruridos do Santo Espírito, não usem a pandemia como desculpa para receber a comunhão na mão, porque 'não há outro jeito'. Há outro jeito; e a pandemia é consequência e não causa da profanação da sagrada eucaristia. Se não houver 'outro jeito', faça então somente a comunhão espiritual, mas não profane a sagrada comunhão.

Triste é o destino daqueles que não se aproximam dos sacramentos porque persistem em uma vida de pecado. Pior é o destino de quem se aproxima dos sacramentos com sacrilégio, não estando em estado de graça. Mas ainda mais grave é o pecado daqueles que encorajam os fiéis a receber a comunhão em estado de pecado e que administram de forma indevida e ilícita a Eucaristia a eles. Deus é misericórdia sim, mas repele com ira divina tantos os ímpios como os tíbios: estes últimos são aqueles que vão dizer, um dia, como néscios com lâmpadas apagadas diante de Deus, 'Senhor, quando não vos servimos'? E vão ouvir então o veredito final e terrível: 'Não vos conheço!'

segunda-feira, 8 de março de 2021

domingo, 7 de março de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Senhor, tens palavras de vida eterna' (Sl 18)

 07/03/2021 - Terceiro Domingo da Quaresma

15. A EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO 


Neste domingo, o Evangelho nos mostra Jesus manifestando aos ímpios a ira santa de Deus. Há pouco, ocorrera o milagre das Bodas de Caná; estava próxima a Páscoa e, em perfeita conformidade à lei judaica, Jesus também viera visitar o Templo em Jerusalém. E ali, num ambiente tomado por uma completa profanação do espaço sagrado, Jesus expulsa os vendilhões do templo.

Tomado de santo furor, diante a balbúrdia e o tumulto dos homens que profanavam o santuário de Deus, Jesus faz um chicote de cordas e os expulsa com peremptória indignação: 'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' (Jo 2, 16). Aquelas mãos divinas, consumidas em tantos atos de perdão e de misericórdia, tecem agora um chicote! E, com ele em mãos, golpeia e desmantela as bancas e as mesas, espanta vendedores e cambistas, afugenta os animais em correria, esparrama objetos, moedas e víveres pelo chão, movido por uma indignação e um zelo extremos pela profanação do sagrado. O que deve ter sido este cenário!

Paralisados e tomados de pavor, aqueles homens que se atropelam para fugir diante de Jesus e da profanação revelada, ainda ousam pedir um sinal ao Senhor por tais ações. E Jesus lhes dá a resposta pela revelação do mistério da ressurreição do seu corpo, templo perfeitíssimo de Deus: 'Destruí este Templo, e em três dias o levantarei' (Jo 2, 19). Jesus não falava do templo físico, mas do templo espiritual que habita em nós, e que contém em plenitude o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor. O primeiro será destruído, porque não era santo. O segundo, por méritos e graças do Salvador, nos abriu as portas da redenção e da eternidade com Deus: 'Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele' (Jo 2, 22).

O episódio da expulsão dos vendilhões do Templo deveria nos alertar duramente sobre o rigor da Justiça Divina, diante o pecado e a perda de referência ao culto do sagrado. Ai daqueles que, usurpando da graça do livre arbítrio, negam a sua realidade espiritual e convertem as suas vidas em construir templos de barro e produzir frutos sazonais, ditados apenas pelos interesses humanos. Serão réus e depositários da santa ira de Deus, porque 'se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo e vós sois esse santuário' (1 Cor 3, 17).