quinta-feira, 11 de agosto de 2016

AS CINCO VIAS DA PENITÊNCIA


Indicamos cinco vias de penitência: primeira, reprovação dos pecados; a segunda, o perdão das faltas do próximo; terceira, a oração; quarta, a esmo­la; quinta, a humildade.

É a seguinte a primeira via da penitência: a reprovação dos pecados: 'Sê tu o primeiro a dizer teus pecados para seres justificado' (Is 43, 25-26). O Profeta tam­bém dizia: 'Disse, confessarei contra mim mesmo minha injustiça ao Senhor, e tu perdoaste a impie­dade de meu coração' (Sl 31, 5). Reprova também tu aquilo em que pecaste; basta isto ao Senhor para desculpar­-te. Quem reprova aquilo em que pecou, custará mais a recair. Excita o acusador interno, tua cons­ciência, não venhas a ter acusador lá diante do tri­bunal do Senhor.

Esta primeira é ótima via de penitência. A seguinte não lhe é nada inferior: não guardemos lembrança das injúrias recebidas dos inimigos, dominemos a cólera, perdoemos as faltas dos companheiros. Com isso, aquilo que se cometeu contra o Senhor será perdoado. Eis outra expiação dos pecados. 'Se perdoardes aos vossos devedores, também vos perdoará vosso Pai celeste' (Mt 16, 6).

Queres saber a terceira via de penitência? Oração ardente e bem feita, que brote do fundo do coração. Se ainda uma quarta desejas conhecer, chamá-la-ei de esmola; possui muita e poderosa força. E ser modesto no agir e humilde, isto, não menos que tudo o mais, destrói os pecados. Testemunha é o publicano que não podia citar nada de feito com retidão, mas em lugar disto ofereceu a humildade e depôs pesada carga de pecados.

(Das Homilias de São João Crisóstomo)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (II)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE II

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII


AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 



I.6 - O Apóstolo João e o Profeta Zacarias: o apóstolo é representado em trajes coloridos, com um cálice de ouro na mão, símbolo que faz referência ao fato de ter permanecido ileso depois de ter sido forçado a beber um cálice de veneno mortal. O profeta Zacarias, a exemplo de todos os demais profetas expostos nas iluminuras, segura  na mão direita um rolo de pergaminho.



I.7 - O Apóstolo Tomé e o Profeta Oséias: o apóstolo, representado empunhando uma lança, símbolo do seu martírio, conversa amistosamente com o profeta, que tem a seguinte inscrição no seu rolo de pergaminho: O mors ero mors tua morsus  — Ó morte, eu serei a tua morte.


I.8 - O Apóstolo Filipe e o Profeta Amós: o apóstolo, segurando firmemente uma cruz em forma de Tau (símbolo do seu martírio por apedrejamento após ser preso a uma cruz desta forma), conversa com o profeta, que segura um rolo de pergaminho e que é representado com a cabeça envolta por um turbante.


I.9 - O Apóstolo Bartolomeu e o Profeta Malaquias: o apóstolo parece estar lendo as palavras que estão inscritas no rolo de pergaminho que foi desenrolado pelo profeta, enquanto segura nas mãos um Livro do Novo Testamento e um alfange (adaga curva), símbolo do seu martírio por esfolamento.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

CARTA DO ASSASSINO DE SANTA MARIA GORETTI


Tenho agora quase 80 anos. Estou perto do fim dos meus dias. Olhando para o meu passado, reconheço que na minha juventude eu segui um mau caminho, um caminho que levou à minha ruína.

Através das revistas, dos espetáculos imorais e dos maus exemplos na imprensa, eu vi a maioria dos jovens da minha idade seguir o caminho do mal sem pensar duas vezes. Despreocupado, eu fiz a mesma coisa. Havia fiéis e cristãos verdadeiramente praticantes à minha volta, mas eu não lhes dava importância. Eu estava cego por um impulso bruto que me empurrava para uma forma errada de vida.

Com a idade de 20 anos, eu cometi um crime passional, cuja memória ainda hoje me horroriza. Maria Goretti, hoje uma santa, foi o bom anjo que Deus colocou no meu caminho para me salvar. As palavras dela, tanto de repreensão como de perdão, ainda hoje estão impressas no meu coração. Ela rezou por mim, intercedeu pelo seu assassino. Quase 30 anos de prisão se seguiram. Se eu não fosse menor de idade, pela lei italiana, eu teria sido condenado à prisão perpétua. No entanto, eu aceitei a pena como algo que eu merecia.

Resignado, eu expiei pelo meu pecado. A pequena Maria foi verdadeiramente a minha luz, a minha proteção. Com a ajuda dela, eu cumpri bem esses 27 anos na prisão. Quando a sociedade me aceitou de volta entre os seus membros, eu procurei viver de forma honesta. Com caridade angélica, os filhos de São Francisco, os frades capuchinhos menores, receberam-me entre eles, não como servo, mas como irmão. Tenho vivido com eles há 24 anos. Agora eu olho serenamente para o dia em que serei admitido à visão de Deus, para abraçar os meus entes queridos mais uma vez, e para ficar próximo do meu anjo da guarda, Maria Goretti, e a sua querida mãe, Assunta.

Que todos os que vierem a ler esta carta desejem seguir o santo ensinamento de fazer o bem e evitar o mal. Que todos possam acreditar, com a fé dos pequeninos, que a religião e os seus preceitos, não são algo que se possa prescindir. Pelo contrário, é o verdadeiro conforto e a única via segura em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas mais dolorosas.

Paz e bem.


Alessandro Serenelli
Macerata, Itália - 5 de Maio de 1961

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DA VIDA ESPIRITUAL (91)

Com os rins cingidos! Eis a expressão algo incomum que os textos bíblicos, na sua essência grandiosa, nos revela o imperativo de estarmos sempre prontos! Com os rins cingidos pelo cinto afivelado, etapa que complementa o ato da vestimenta. Sim, estamos vestidos, estamos liberados, estamos prontos! A que horas chegará o Senhor da vinha? Pela manhã, à meia noite ou de madrugada? Não importa; estamos prontos, com os rins cingidos. Como órfãos da Luz, mas incensados pela fé, estaremos sempre prontos para receber o Senhor Que Vem. 

domingo, 7 de agosto de 2016

AS PARÁBOLAS DA VIGILÂNCIA

Páginas do Evangelho - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum


' Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!'

Três parábolas de Jesus são contempladas no Evangelho deste Décimo Nono Domingo do Tempo Comum, todas centradas na prática da vigilância. A vida cristã não pode prescindir da contínua vigilância sobre nossas palavras, pensamentos e ações, embalada pelo zelo às coisas do Pai e às virtudes de uma serena e santa prudência. Jesus vai falar da necessidade imperiosa da vigilância ao seu 'pequenino rebanho' (Lc 12, 32) a quem está destinado o Reino de Deus, que, como dito em outra passagem, 'não é deste mundo'. Sim, pequenino rebanho inserido na imensa multidão dos que se acercam apenas dos bens e futilidades desse mundo, pequenino rebanho que tem por Jesus o Bom Pastor, pequenino rebanho que vende o que tem, dá esmolas, que ajunta tesouros que o ladrão não rouba e nem a traça corrói, pequenino rebanho que guarda tesouros num coração que persevera em ser bondoso e compassivo.

A primeira voz da vigilância ressoa na alegoria dos empregados que esperam o senhor da casa voltar de uma festa de casamento. Na impossibilidade de saber com certeza a hora da chegada do Senhor Que Vem, a palavra de Jesus é uma exortação à vigilância constante, a qualquer hora, à meia noite ou de madrugada: 'Felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar' (Lc 12, 37). E estes bem-aventurados poderão sentar-se, então, à mesa com o Senhor.

Na segunda mensagem, reaviva-se o mesmo espírito de vigilância de todas as horas, na única certeza de que Jesus há de vir, uma vez mais, em busca do seu pequenino rebanho: 'Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes' (Lc 12, 40). Os que se fartam da imprudência e da indiferença dos tempos, descuidam da suas casas (almas) e as tornam vulneráveis à ação de ladrões. Mas o que se cerca de diligências e cuidados, estará sempre pronto quando o Senhor chegar.

Na parábola final do administrador prudente e fiel, Jesus leva a virtude da vigilância à medida do nosso amor à Santa Vontade de Deus. Neste amor sem medidas, há de se fazer a medida do amor de cada um: 'A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!' (Lc 12, 48). A perseverança e a vigilância de sempre devem ser reflexos cristalinos da nossa certeza nas verdades imutáveis dos Santos Evangelhos e das palavras de Cristo. Como um pequenino rebanho, confiantes e perseverantes na fé, guardemos no coração os tesouros dos que vivem vigilantes à doce espera do Senhor Que Vem.

sábado, 6 de agosto de 2016

PRIMEIRO SÁBADO DE AGOSTO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

CARTA AOS SACERDOTES DE CRISTO

ARQUIVOS DO SENDARIUM
(publicado originalmente no blog em 21/07/2012)

Eu sou um leigo. Não passo de um leigo e tenho a profunda compreensão da dimensão que me separa - homem comum - de um sacerdote - homem nada comum. Ao me dirigir, portanto, a um sacerdote, tenho a plena convicção de que devo me pautar por um grande respeito, pela solicitude e por uma especial reverência. Assim procedo e me desculpo de pronto se ousar esquecer estes princípios, ainda que alguns possam imaginar que sejam homens tão comuns como eu.

Como homem comum, luto cotidianamente para não ser um cristão comum. Quero ser radicalmente cristão, como quero ser radicalmente fiel à minha esposa, à minha família, aos princípios e convicções da minha religião. Onde está o erro em ser um cristão radical? Ao me decidir pelo matrimônio, eu não jurei fidelidade à minha esposa por toda a vida? Este propósito não é radicalmente bom? Um sacerdote cristão não fez também outro tipo de decisão - e que decisão! - e, assim, não se tornou radicalmente responsável por esta escolha? Ai dos médicos que são mais ou menos, ai dos pais que são mais ou menos... Mas quantos destes ais poderiam resumir os que são mais ou menos padres? Se fosse possível pensar assim, penso, ao lembrar a passagem bíblica dos que tiveram mais e os que tiveram menos, que os sacerdotes passarão pelo crivo do Pai, mais tangidos pela justiça do que pela misericórdia divina...

Quanta responsabilidade a vossa, nestes tempos difíceis, em que tudo parece submergir pelos modismos, pela insensatez, pela correria e pelo hedonismo. Quanta insensatez que se torna loucura e quanta loucura que se propaga como um rastilho de pólvora, levando confusão e mais loucura.  Quantos cristãos estão à míngua, tontos, cegos, sem rumo e sem vida espiritual. Quantos se dizem cristãos e vivem regularmente em pecado, fazem e refazem dogmas, vagueiam por seitas e pseudo-crendices, empanturram-se de livros esotéricos e de autoajuda, adéquam vulgarmente os sagrados ensinamentos aos seus próprios interesses e  momices. Não, certamente estes cristãos não são radicais... Mas, com certeza, estão radicalmente distantes da Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja!

Estou sendo radical? Como entender, então, a ideia de se pretender adequar a Igreja aos tempos modernos, ao mundo lá fora? Isso me parece, sem dúvida, uma insensatez radical e insensatez radical tem por nome loucura. Mas, o que eu penso tem muito pouca importância. O que interessa realmente é o que Vós pensais. Refleti sobre a imensa responsabilidade vossa de pastores dos Filhos de Deus, o que cada um estais fazendo contra esta avalanche de erros doutrinários, esta balbúrdia, este festim ecumênico e sei lá mais o quê de loucura. Coragem, padres, coragem. Não vos limiteis a fazer o que os leigos podem fazer, deveis fazer somente o que é tarefa intrinsecamente vossa! Rezai, rezai muito e sempre. Qual é o peso da oração, da confissão, da orientação espiritual no dia-a-dia de cada um de vós?

Sede radicais na defesa da santa eucaristia: quantos pecados se cometem por que muitos sacerdotes não são radicalmente intransigentes nos cuidados da santa eucaristia, na confissão, na Santa Missa? Quem pode errar ao se prevenir radicalmente contra abusos ou distorções da Santa Eucaristia? Velai-vos por um zelo radical à santa eucaristia e não pelas concessões e descuidos. Mirai-vos em Nossa Senhora: que  outro ser humano foi tão radicalmente fiel a Deus? E vós vos inquietais porque vos julgam radicais...

Sacerdotes da Igreja Católica: sede radicalmente fiéis a Cristo, ao Papa, à Santa Igreja. Sim, sede radicais, absolutamente radicais às coisas do Pai. De que adianta palavras bonitas ou adocicadas nos sermões? Nada. A retórica do orgulho humano esvai-se com a primeira lufada de vento. Para que serve estes obstinados afazeres para a melhoria das condições de vida de alguns homens? Nada. Homens comuns podem fazê-lo com mais proveito e tempo. Para que serve vossos conhecimentos mundanos, políticos, sociais? Nada. Nem os vossos, nem os meus, nem os de homem algum, nem os da humanidade inteira vão ponderar alguma coisa na outra vida. Oração, oração, oração!

Sede homens radicais, sacerdotes de Cristo! Sede radicalmente coerentes com vossa missão sacerdotal. Coragem, coragem sempre. Ainda que homens comuns os rotulem de tantos nomes: conservadores, ultrapassados, ortodoxos,... radicais! Sim, para a glória de Deus e da Igreja, sede homens radicais e não homens comuns. Talvez, muitos leigos como eu também queiram infundir-vos ânimo e coragem, compartilhar convosco tantos dificuldades e incompreensões. Esta carta busca ser uma palavra de coragem e de solidariedade aos sacerdotes de Cristo: por mais inútil, ela é mais do que as mais comuns das tarefas humanas hoje em dia: a omissão, o comodismo, a indiferença. Vós, padres, não tendes o direito de se comportar como homens comuns! Sede radicais, sacerdotes de Cristo! Não esperais nem consolação e nem refrigério: escolhestes a cruz e somente nela deveis pregar os cravos de vossas dores, todas as vossas dores, junto às dores de Cristo. Que estes cravos e que estas chagas possam ser muitos, para glória da Santa Igreja e salvação de uma infinidade de homens comuns.
(Arcos de Pilares)