Custe o que custar, Senhor, não queiras que eu vá diante de Vós com as mãos vazias, pois a recompensa deve ser dada segundo as minhas obras. Eis a minha vida, eis a minha honra e a minha vontade; tudo vos dou, sou vosso, dispõe de mim segundo a vossa vontade. Vede bem, meu Senhor, quão pouco posso fazer, ainda que tendo chegado diante de Vós, abrigado nesta torre de vigia onde se veem as verdades: sem desviares de mim, poderei fazer todas as coisas mas, se afastares, por pouco que seja, voltarei para onde estava, que era o inferno.
Oh como é uma alma quando se encontra aqui, tendo que voltar a lidar com todos a olhar e ver esta falsa vida mal organizada, a perder tempo cumprindo seus deveres para com o corpo, dormindo e comendo! Tudo a cansa, ela não sabe como escapar e se vê acorrentada e aprisionada. Então ela sente mais verdadeiramente o cativeiro que trazemos com nossos corpos e a miséria desta vida. Ela percebe então porque São Paulo implorou a Deus que o libertasse de tudo isso. Ela clama como ele. Ela pede a Deus liberdade, como eu disse antes; mas aqui é frequentemente com tão grande ímpeto que parece que a alma quer deixar o corpo em busca dessa liberdade, já que ela não é dada. Ela vagueia como se vendida em uma terra estrangeira, e o que mais a cansa é não encontrar muitos que se queixem como ela e peçam por isso, pois o mais comum é simplesmente desejar viver.
Ah se não estivéssemos apegados a nada e não tivéssemos alegria em nada da terra, como a dor de viver para sempre sem Ele temperaria o medo da morte com o desejo de desfrutar a vida verdadeira!
(Excertos da obra 'Livro da Vida', de Santa Teresa de Ávila)
SANTA TERESA DE ÁVILA, ROGAI POR NÓS!