UM CAMINHO DE PEDRAS
O caminho da vida eterna é acanhado,
cheio de pedras aqui e ali entulhadas:
há duas formas de percorrer este caminho
e são dois os frutos distintos das jornadas
Há uns que percorrem tal caminho estreito
querendo ganhar tempo em longas passadas
perscrutam o horizonte a cada novo passo
e simplesmente desviam das pedras encontradas
Há outros que seguem pela via estreita
menos escravos dos tempos e dos passos
parando e recolhendo as pedras espalhadas,
empilham pedras e abrem mais espaços
Estas pedras são nossas dores mais doídas,
que tanto atropelo causam na caminhada:
é lícito que as deixemos como lastros perdidos
para que não sejam como fardos na jornada
Mas quem delas desfaz sem bem algum
torna-se senhor de obra não consumada
não torna mais limpo o caminho que percorre
nem é guia para quem se junta na jornada
O caminho estreito é cada vez mais longo
e desviar de tanta pedra pode dar trabalhos
e, quem descansou para seguir caminho,
tende a cansar de vez e buscar atalhos
Por isso, que cada um que percorra essa jornada
o faça movido sempre por inteira confiança:
é preciso abrir caminhos através de nossas obras
porque o bom exemplo é nossa melhor herança
Há que se cair para para se obter mais tempo
de parar e juntar tanta pedra desarrumada
e, ao empilhá-las, deixar guias pelo caminho
e tornar mais fácil percorrer a longa estrada
E livres, guias de uns, por outros guiados,
mesmo cheios de sombras e de muitas quedas,
possamos chegar um dia diante a Porta Estreita
com muitas mãos que empilharam pedras...
(Arcos de Pilares)