quinta-feira, 9 de novembro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXVIII)

Capítulo LXVIII

Alívio às Santas Almas pelas Indulgências - As Indulgências Plenárias de Madre Francisca de Pamplona - Santa Madalena e Santa Teresa e as Religiosas que Passaram Algumas Horas no Purgatório

A Venerável Madre Francisca do Santíssimo Sacramento, de cuja caridade para com as almas santas já falamos, era também muito zelosa em aliviá-las com indulgências. Um dia, Deus mostrou-lhe as almas de três prelados que tinham ocupado anteriormente a Sé de Pamplona e que ainda padeciam os sofrimentos do Purgatório. A serva de Deus compreendeu que devia empregar todos os meios para conseguir a pronta libertação deles. Como a Santa Sé tinha então concedido à Espanha as Bulas da Cruzada, que permitiam obter a indulgência plenária sob certas condições, ela acreditava que o melhor meio de ajudar aquelas pobres almas seria conseguir para cada uma delas a vantagem desta indulgência plenária.

Dirigiu-se então ao seu bispo, Cristóvão de Ribera, informando-o de que três dos seus antecessores ainda se encontravam no Purgatório e instando-o a obter para ela três indulgências das Bulas da Cruzada. Ela cumpriu todas as condições exigidas e aplicou uma indulgência plenária a cada um dos três bispos. Na noite seguinte, todos eles apareceram à Madre Francisca, libertados de todos os seus sofrimentos. Agradeceram-lhe e pediram-lhe que agradecesse também ao Bispo Ribera pelas indulgências que lhes tinham aberto o Céu (Vie de Franqoise du Sacrem., Merv., 26).

O Padre Cepari relata o seguinte na sua obra 'Vida de Santa Madalena de Pazzi'. Morreu uma religiosa professa que, durante a sua última doença, tinha sido cuidada com muita ternura por Santa Madalena e, como era costume expor o corpo na igreja, Madalena sentiu-se inspirada a ir vê-lo mais uma vez. Dirigiu-se, pois, à grade da sala do coro de onde o podia ver; mas, mal o fez, foi arrebatada em êxtase e viu a alma da irmã defunta a voar para o Céu. Transportada de alegria, ouviu-se dizer: 'Adeus, querida irmã; adeus, alma bendita! Como uma pomba pura, voas para o teu lar celestial e nos deixa nesta morada de miséria. Oh, como és bela e gloriosa! Quem pode descrever a glória com que Deus coroou as tuas virtudes?' Quão pouco tempo passaste no Purgatório! O teu corpo ainda não foi levado ao túmulo e eis que a tua alma já foi recebida nas mansões celestes. Conheceis agora a verdade daquelas palavras que vos dirigi ultimamente: 'Que todos os sofrimentos desta vida nada são em comparação com a recompensa que Deus reservou para os seus amigos'. Nesta mesma visão, Nosso Senhor revelou a ela que esta alma piedosa tinha passado apenas quinze horas no Purgatório, porque tinha sofrido muito durante a vida e porque tinha tivera o cuidado de ganhar muitas indulgências concedidas pela Igreja aos seus filhos, em virtude dos méritos de Jesus Cristo.

Santa Teresa, nas suas obras, fala de uma religiosa que dedicava o maior apreço pela mais singela indulgência concedida pela Igreja, e esforçava-se por obter todas as que estavam ao seu alcance. De resto, levava uma vida bastante rotineira e sem grandes obras de virtude. Quando faleceu, a santa, não com grande surpresa, viu a sua alma subir ao Céu quase que imediatamente após a sua morte, de modo que não teve, por assim dizer, a experiência do Purgatório. Quando Santa Teresa manifestou o seu espanto por tal fato, Nosso Senhor fez saber a ela o grande cuidado que a religiosa tivera em obter todas as indulgências possíveis durante a vida. 'Foi por esse meio' - acrescentou - 'que ela saldou quase toda a sua dívida, que era bastante considerável, antes da sua morte e, assim, compareceu com grande pureza perante o tribunal de Deus'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.