quarta-feira, 30 de agosto de 2023

A FONTE DA VIDA E DA LUZ

Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz e qual é a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá a vida aos mortos; por sua morte choram o céu e a terra e fendem-se até as pedras mais duras. Para que, do lado de Cristo morto na cruz, se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: 'Olharão para aquele que transpassaram' (Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, no íntimo do seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte viva que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).

Levanta-te, pois, tu que amas a Cristo, sê como a pomba que faz o seu ninho na borda do rochedo (Jr 48,28) e aí, como o pássaro que encontrou a sua morada (cf Sl 83,4), não cesses de estar vigilante; aí esconde, como a andorinha, os filhos nascidos do casto amor; aí aproxima teus lábios para beber a água das fontes do Salvador (cf. Is 12,3). Pois esta é a fonte que brota no meio do paraíso e, dividida em quatro rios (cf Gn 2,10), se derrama nos corações dos fiéis para irrigar e fecundar a terra inteira.

Acorre com vivo desejo a esta fonte de vida e de luz, quem quer que sejas, ó alma consagrada a Deus e exclama com todas as forças do teu coração: 'Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimo esplendor da luz eterna, vida que vivifica toda vida, luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros que, desde a primeira aurora, resplandecem diante do trono da vossa divindade. Ó eterno e inacessível, brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais! Sois profundidade infinita, altura sem limite, amplidão sem medida, pureza sem mancha!'

'De ti procede o rio que vem trazer alegria à cidade de Deus (Sl 45,5) para que, entre vozes de júbilo e de contentamento (cf Sl 41,5) possamos cantar hinos de louvor ao vosso nome, sabendo por experiência que em vós está a fonte da vida e, em vossa luz, contemplamos a luz' (Sl 35,10).

 (São Boaventura)