quinta-feira, 24 de agosto de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXII)

 

Capítulo LXII

Alívio às Santas Almas pelas Orações - As Orações do Irmão Corrado d'Offida - O Anzol de Ouro e o Fio de Prata

Depois do Santo Sacrifício da Missa, temos uma multidão de meios secundários, mas muito eficazes, para aliviar as santas almas, se os empregarmos com espírito, fé e fervor. Em primeiro lugar, a oração - a oração em todas as suas formas. Os Anais da Ordem Seráfica falam com admiração do Irmão Corrado d'Offida, um dos primeiros companheiros de São Francisco. Distinguia-se por um espírito de oração e de caridade, que contribuía muito para a edificação dos seus irmãos. Entre estes, havia um jovem monge cuja conduta relaxada e desordenada perturbava a santa comunidade; mas, graças às orações e às caridosas exortações de Corrado, corrigiu-se inteiramente e tornou-se um modelo de regularidade. Pouco depois desta feliz conversão, faleceu e os seus irmãos deram-lhe os sufrágios ordinários. 

Passados alguns dias, quando o Irmão Corrado estava em oração diante do altar, ouviu uma voz que pedia o auxílio de suas orações. 'Quem és tu?' - disse o servo de Deus. 'Sou a alma do jovem religioso que reanimaste ao fervor' - respondeu a voz. 'Mas não morreste uma morte santa? Continuas a precisar ainda de orações?'. 'Sim, morri uma boa morte e estou salvo, mas por causa dos meus pecados anteriores, que não tive tempo de expiar, sofro o mais terrível castigo, e peço-lhe que não me recuse o auxílio das suas orações'. Imediatamente o Irmão Corrado prostrou-se diante do sacrário e rezou um Pater, seguido de um Requiem aeternam. 'Ó meu bom Padre' - exclamou a aparição - 'que refrigério me traz a tua oração! Oh, como ela me alivia! Peço-vos que continueis a rezar'. Corrado repetiu devotamente as mesmas orações. 'Pai amado' - repetiu de novo a alma - 'ainda mais, ainda mais! Sinto um alívio tão grande quando rezas!' O caridoso religioso continuou as suas orações com renovado fervor e repetiu o Pai Nosso por cem vezes. Então, com acentos de indizível alegria, a alma falecida lhe disse: 'Agradeço-te, meu bom padre, em nome de Deus, porque agora estou libertado e prestes a entrar no Reino dos Céus'.

Vemos, por este exemplo, como são eficazes as menores orações e as mais curtas súplicas para aliviar os sofrimentos das pobres almas. Li - diz o Padre Rossignoli - que um santo bispo, arrebatado em êxtase, viu uma criança que, com um anzol de ouro e um fio de prata, tirou do fundo de um poço uma mulher que nele se tinha afogado. Depois da sua oração, e quando se dirigia para a igreja, viu a mesma criança a rezar junto a uma campa no cemitério. O que estás a fazer aí, meu amiguinho? Estou a rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria' - respondeu a criança - 'pela alma da minha mãe, cujo corpo está aqui enterrado'. O prelado compreendeu imediatamente que Deus lhe queria mostrar a eficácia da oração mais simples; sabia que a alma daquela mulher tinha sido libertada, que o anzol era o Pater e que a Ave era o fio de prata daquela linha mística'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.