segunda-feira, 17 de outubro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (176/178)

176. A RECOMPENSA DA ESMOLA

Um dia apresentou-se um pobre a Santa Catarina de Sena e pediu-lhe uma esmola por amor a Deus. Encontrava-se a santa na Igreja dos Frades Pregadores e não tinha nada para dar ao mendigo. 'Vem à minha casa e te darei bastante'. Mas o pobre insistiu: 'Se tens alguma coisa, dá-me agora porque não posso esperar'.

Catarina procurou ansiosamente por alguma coisa e encontrou uma cruzinha de prata que, com gosto, passou às mãos do pobre. Na noite seguinte, Nosso Senhor apareceu à santa, tendo na mão a pequenina cruz adornada de pedras preciosas.
➖ Conheces esta cruzinha?
➖ Conheço  - respondeu Catarina - mas não era tão linda.
➖Ontem tu a deste: a virtude da caridade tornou-a tão bela. Prometo-te que, no dia do Juízo, em presença dos anjos e dos homens, mostrarei esta cruzinha para que a tua glória seja infinita.

177. SANTA TERESA E A SECURA ESPIRITUAL

Durante dois anos Santa Teresa não soube abrir a boca para rezar. Quando se punha de joelhos, apenas juntava as mãos e ficava recolhida, sentia um fastio tal que se levantava e ia fazer outra coisa. Até na comunhão sentia a sua alma vazia e não conseguia pronunciar nenhuma palavra. E, por dois anos, já que o confessor lhe ordenava que comungasse, em lugar de fazer a ação de graças, punha-se a limpar os bancos da igreja.

➖ Ó Jesus - disse uma vez com grande aflição - não é verdade que me abandonastes?
➖ Em toda a tua vida nunca fizeste tanto bem como nestes dois anos - respondeu-lhe Jesus.

Também a muitos cristãos vem a provação da secura e perdem o gosto da oração, das boas obras. Ai daqueles que se deixam vencer e não rezam, não praticam o bem, não obedecem ao confessor!

178. O SINAL DA CRUZ E AS CRUZES

Quando São Gregório Magno era secretário na corte de Constantinopla, reinava no trono do Oriente o jovem imperador Tibério II. Este, passando um dia por um corredor estreito e escuro do seu palácio, viu no mármore do piso gravada uma cruz e exclamou: 'Meu Deus! Fazemos o sinal da cruz na testa, na boca e no peito e depois a pisamos'. 

Imediatamente mandou arrancar aquela do piso; debaixo, porém, havia outra gravada com o mesmo sinal. Depois a terceira, a quarta e mais outras sempre com o sinal da cruz. Quando estavam retirando a sétima pedra, ouviu-se um murmúrio de admiração. Havia debaixo daquela pedra anéis de ouro, prata, rubis, pérolas, esmeraldas, colares, um tesouro de grandíssimo valor. 

O imperador contemplava aquelas joias a tremer de alegria e sem dizer uma palavra. O imperador do Oriente pode ser um símbolo de todo homem que passa peio corredor escuro e estreito desta vida. Apresentam-se diante de nós muitos anos dolorosos, gravados com a cruz do sofrimento. Passam-se os anos, termina a nossa carreira e, na outra vida, encontramos as cruzes transformadas em um imenso tesouro.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)