Cristo nos ordenou peremptoriamente a 'amar os nossos inimigos' (Lc 6,27 e Lc 6,35). Porque amar aos que nos amam é tarefa que fazem até mesmo os pecadores mais contumazes. Como católicos, somos exortados a amar os que não nos amam; mais ainda, amar aqueles que nos desprezam, caluniam e ultrajam diante de todos e diante de tudo! Obedecer ao Mestre implica nesse caso resistir e domar por completo o ódio que pode nos confrontar diante o outro.
Esse 'amar ao inimigo' implica, em primeiro lugar, desejar-lhes todo bem e, em segundo lugar, fazer a eles todo o bem possível. Do ponto de vista essencialmente humano, essa imposição nos parece demasiado forte, provavelmente antagônica a todos os nossos sentimentos e aspirações. Quem sabe 'ignorar os nossos inimigos' seja plausível; ou talvez não responder as ofensas ou ultrajes na mesma moeda já não seria um grande ato de amor? Por que Deus nos exige não apenas isso e, além mais do que o perdão, atos de caridade extrema para com os nossos inimigos?
A resposta é muito simples. Deus quer a salvação de todos os homens, quer sejam amigos, quer sejam inimigos nessa terra. Há aqueles que serão salvos porque são como as sementes do lavrador que foram lançadas em terra fértil, foram abertos à graça e se tornaram homens e mulheres de oração. Mas... e aquelas sementes lançadas em terra rude e que nunca deram frutos? Que, pelo contrário, produzem e espalham o mal, a discórdia e os confrontos de todos os tipos? Os nossos 'benditos' inimigos?
Sem oração, não serão salvos. Sem caridade, não serão salvos. Sem frutos e graças, não serão salvos. Eles serão salvos se houver outros que rezem por eles, que sofram e se penitenciem por eles, que deem frutos - muitos frutos de perdão e de caridade - por eles. E estes outros somos nós. Desde que possamos nos oferecer como instrumentos da graça divina para que muitos outros sejam salvos e possam, assim, tornarem-se também herdeiros da redenção de Cristo. Nada acontece por acaso e a nossa salvação depende da salvação de muitos outros, particularmente daqueles que foram colocados ou que nós mesmos colocamos, por razões diversas, como nossos 'inimigos' neste mundo. Amar os inimigos é levar o amor ao próximo aos limites mais insondáveis do amor divino. O nosso empenho será sempre agradável a Deus, ainda que possa ser inútil para os nossos inimigos.
Amar os nossos inimigos tem o limite de oferecer a outra face. A verdadeira caridade implica a concessão e a busca sincera do BEM ESPIRITUAL ao outro, destinada mesmo aos inimigos pessoais, com ofensas pessoais, com ultrajes pessoais que, independentemente disso, queremos que se convertam e sejam salvos. Este propósito do bem espiritual implica necessariamente conversão e a mudança de vida do outro, objetivos que podem ser alcançados por bem ou por mal. Se não se tem tal resultado por bem, é absolutamente legítimo ao cristão rezar a Deus pedindo o afastamento, a derrubada ou a morte dos inimigos da Igreja e dos detratores contumazes dos valores da civilização cristã pelo simples fato de que não são apenas os 'nossos inimigos', mas inimigos de Deus. Podemos e devemos rezar a Deus, então, para que possam ser realmente detidos na sua iniquidade e sob o domínio do mal (e, ainda mesmo com a morte de alguns, neste caso com o propósito de ter fim essa alma continuar a acumular castigos eternos cada vez maiores para si mesmo).