quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: A SERENIDADE DA ALMA


As sucessivas purificações estabeleceram na alma interior um estado de faculdades puras no sentido de conhecer, amar, querer e imaginar. Nada se mantém das formas naturais, pois tudo se desvaneceu. O fogo do amor a tudo consumiu. Mesmo os hábitos de pensar ou querer foram abortados, ainda que com grande sofrimento. Mas as faculdades não foram sufocadas por este arrebatamento íntimo da alma; pelo contrário, tornaram-se mais intensas, mais fortes, mais aptas para o bem do que nunca. Assemelham-se às faculdades dotadas pelo primeiro homem que saiu das mãos do Criador. Quer se trate do mundo natural ou do mundo sobrenatural, da ação ou da contemplação, as faculdades, perfeitamente livres, perfeitamente dóceis nas mãos de Deus, operam com igual desenvoltura. Estão absolutamente à vontade entre estes dois mundos.

Elas se transmutam entre ambos com perfeita segurança e tranquilidade, graças ao conhecimento que a alma dispõe das relações que os associam. Não é Deus o supremo autor dessas duas dimensões? E, como consequência de sua íntima união com Deus, a alma não vê as coisas de um certo modo como Deus as vê, e não as quer tal como Deus as escolheu? Quanto mais puras são as faculdades da alma, tanto mais divinas também são, e tanto mais e melhor se harmonizam com as obras de Deus. Daí aquela serenidade perfeita com que a alma interior passa da contemplação à ação e da ação à contemplação.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)