A vida de intimidade entre Deus e a alma tem então início. Estão sempre juntos, nunca se distanciam. Quem vê um, vê o outro. Diríamos que são apenas um mesmo, ainda que sejam completamente distintos. Há momentos em que essa intimidade torna-se ainda maior. São as horas em que a atividade exterior cessa, e a alma interior se recolhe a sós com Deus, e descansa serenamente ao seu lado. Segue-se um grande silêncio, de um recolhimento profundo, do diálogo em voz baixa, interrompido por longas pausas, em que se ouve apenas o bater do coração. Momentos de quietude, de verdadeiro e tranquilo descanso da vontade em Deus.
Quando a alma interior está unida a Deus, na parte mais íntima de si mesma, ela adormece completamente. Seu grau de união é a medida de um sono misterioso. Cria-se um grande vazio interior, seguido por uma grande serenidade e, por fim, um silêncio completo. A alma dorme profundamente: não ouve mais nada, não vê nada, não pensa em nada concretamente. No entanto, está viva e ama! Diríamos que ele direcionou todas as forças às suas faculdades. Faz tudo descansar para assim, melhor amar.
Concentra todas as suas forças em seu coração. Amar, apenas amar, e amar cada vez mais é o seu único anelo e sua única ocupação. Aparentemente está morta, mas vive mais intensamente do que nunca... Do habitual costume de viver mais ou menos distraída de Deus por causa das coisas., agora se impõe distraída em Deus. Deus a ocupa inteiramente. Ele tomou posse inteiramente da sua alma e, às vezes, também no corpo. Assim, a alma pode dizer - e também aqueles que percebem o seu estado - que a alma não está mais ali'. O que é realmente verdade, pois 'a alma vive mais onde ama do que no corpo que a anima'. Agora ama. Agora ama a Deus por inteiro. Agora está Nele inteiramente.
Em suma, a alma assim adormecida é verdadeiramente feliz. Participa da mesma bem-aventurança de Deus. Essa felicidade a envolve completamente e toma posse dela sem ela se dar conta como. Nenhum esforço é exigido da alma; ela não tem mais anelo de nada e lhe basta deleitar-se nessa paz. E é exatamente isso que faz. Nada pode dar expressar esse sentimento que é essencialmente divino. Não se assemelha a nenhum dos prazeres deste mundo, pois é de ordem muito diferente. Possui uma essência diferente, provém de outra fonte. Não se tem nenhum termo de comparação.
Ao se falar sobre isso, é tudo muito obscuro, porque as palavras da linguagem humana não sabem como traduzir o que se passa. O que se pode dizer realmente é que isso está acima de todos os bens e encontra-se a uma distância imensurável de todos eles. A alma que se deleita da intimidade com Deus desfruta de uma paz tão verdadeira que tem o direito de ficar adormecida para o mundo pelo tempo que quiser.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)
Que dia triste, meu Deus, que dia triste! Minha mãe nos deixou... que tristeza chorar a morte de quem se ama tanto! Que alegria saber que a misericórdia divina é o nosso porto final. Que Deus a tenha, minha querida mãe, que Deus a tenha como obra acabada do divino amor por toda a eternidade...