'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)
QUARTA COLUNA: A VENERAÇÃO À MÃE DE DEUS
Nas velhas cidades e nas regiões verdadeiramente católicas, encontra-se ainda, por vezes, como restos de uma época de piedade filial e fé robusta, uma estátua da Mãe de Deus nas casas ou no vestíbulo. A arte cristã, pintura e plástica, criou para esse fim muitas imagens valiosas, lindamente emolduradas. A piedade filial cercava a imagem de círios e flores.
Nas velhas cidades e nas regiões verdadeiramente católicas, encontra-se ainda, por vezes, como restos de uma época de piedade filial e fé robusta, uma estátua da Mãe de Deus nas casas ou no vestíbulo. A arte cristã, pintura e plástica, criou para esse fim muitas imagens valiosas, lindamente emolduradas. A piedade filial cercava a imagem de círios e flores.
Aos sábados e nas festas de Maria também lhe punham às vezes em frente uma lamparina ou candeia acesa. Era um belo costume. Nos lugares em que ainda existe este piedoso hábito, tudo mostra que essa casa se acha sob a proteção especial da Mãe celeste e que os moradores a veneram e amam com filial e piedosa devoção. Feliz a família de que Maria é padroeira e que, como tal, a honram. O amor e a veneração à Mãe de Deus obriga o homem a seguir as pegadas de São José, o virginal protetor da puríssima Virgem.
Ele deve por si mesmo tornar-se-lhe cada vez mais semelhante e governar sua casa em espírito cristão. Se a mãe de família é uma fiel e fervorosa devota da Santíssima Virgem há de procurar também lhe imitar o admirável exemplo de virtude. Há de comunicar-se, como por si mesmo, à mulher cristã aquele espírito de humildade, que lhe desvia os olhos do tumulto exterior do mundo, para volvê-los ao interior do lar, que a fortifica, para levar uma maravilhosa vida de amor e sacrifício, de abnegação no silêncio da vida oculta, que a torna uma verdadeira mensageira de paz, de alegria e de benção no lar doméstico.
A própria gratidão já obriga a mulher e a mãe a devotar-se a Maria. Toda a consideração de que a mulher hoje goza, a libertação do indigno cativeiro, a posição que ocupa na sociedade humana, deve à Mãe de Deus. Por ela e nela a mulher é enobrecida. Um reflexo da beleza e bondade da Virgem Santíssima cai sobre cada mulher; nem ao menos se apaga de todo na mulher decaída, esquecida de sua dignidade, como o sol também ainda se espelha em águas lodosas.
Do que o cristianismo sente pela mulher, de quanto era considerada particularmente na piedosa Idade Média, é testemunha um fato da vida de Henrique Suso (nascido em 1295, em Constança). Diante de uma pobre mulherzinha, que encontrou numa estreita pinguela, ele, o grande e festejado sábio, recuou, deixando-a respeitosamente passar adiante, porque, como todos os homens e cavalheiros de seu tempo, via nela uma 'irmã' da graciosa Virgem Mãe de Deus. É esse ainda sempre o alto valor que o sentimento cristão dá à mulher. Não devia toda mulher ser grata a Maria por toda a vida?
À estima exterior deu a veneração de Maria também um fundamento interior profundo; pois do modelar exemplo da Santa Mãe de Deus se originaram para a mulher valores espirituais sempre novos. Da veneração desta Santa Virgem e amável Mãe, a mulher colheu sempre fortes impulsos, constantemente renovados, para vencer no mundo o mal e a violência e curar com mãos delicadas e compassivo amor as chagas que a força e o arbítrio do homem tantas vezes abriu na sociedade.
Épocas inteiras gozaram mesmo por vezes da influência decisiva de mulheres que imitaram fielmente a Maria e deixaram, nesses tempos abençoados, vestígios profundos de sentimentos benfazejos e caridade cristã. E quando as mulheres renunciam ao seu ideal e esquecem a sua dignidade, como Isabel, a infeliz rainha da Inglaterra, filha de Anna Bolena, então se tornam sem dúvida uma maldição para o mundo e para o próximo. Vê-se, pois, que a muitos respeitos à dignidade da mulher e ao bem da humanidade nos são dados com Maria. Também sobre as crianças, sobretudo sobre a mocidade, a veneração de Maria produz o mais salutar efeito.
O que mais pode concorrer para completar a personalidade, de que tanto hoje se fala, para aperfeiçoamento do homem interior, do que a influência da Imaculada e, ao mesmo tempo, forte e poderosa Virgem? Não é de admirar! Pois se ela é a branca neve da verdadeira castidade, oceano inesgotável de graças, a bela flor da amendoeira, que a geada do pecado jamais atingiu, como a denominam tão significativamente os poetas da Idade Média Gottfried de Strassburg e Conrado de Würzburg!
De Maria, a pura, e imaculada Virgem, manou aquele espírito da mais delicada pureza e castidade, que adorna mais a fronte da virgem cristã do que todo o ouro e diademas preciosos. Quando a sua doce imagem se imprime num jovem coração, daí desaparecem atrativos para o mal, afasta-se antes de tudo o pecado impuro, como a raça das serpentes foge dos raios do sol. Milhares dos que caíram no combate, nela se ergueram de novo. Um olhar para a Virgem bastava para reanimar de novo a coragem enfraquecida, extinguir no peito o fogo mais ardente.
Inúmeros outros por meio dele conquistaram a palma da pureza imaculada. Nela, 'a mulher imaculada' se apresenta diante da alma do rapaz e do homem, a nobreza feminina na sua forma mais sublime, forçando-os a respeitarem a dignidade e a honra da mulher e por amor desta bendita Virgem, elevarem-se ao varonil respeito de si mesmos. Guilherme de Humboldt disse uma vez que quem durante muito tempo vive ao lado de um caráter todo puro e verdadeiramente grande, de certo se lhe passa como que um sopro daquele salutar contato. Tem razão. Pureza sugere pureza. O próprio homem dissoluto não lhe pode recusar o respeito.
A alma semelhante, porém, acolhe os sentimentos nobres e grandes, como a corda do instrumento começa a tremer quando se move uma e outra da mesma tonalidade. Se um de nós já age deste modo sobre os outros, como deve então enobrecer os homens o constante convívio com Maria a 'puríssima, dulcíssima Esposa de Deus', que não tem igual; como deve dignificá-los a elevação do coração para ela! Sim, 'o desprezo da mulher sempre veio de baixo e arrastou para baixo, veio do pecado, e impeliu ao pecado. A veneração desta mulher celeste, na qual todas as outras são de novo enobrecidas, provém do alto e atrai para o alto' (Könn), afasta-nos da terra e leva-nos a esferas em que nos aproximamos da semelhança divina. É o que faz Maria. Diante dela se calam as potências das trevas e fecha-se o abismo.
Não reina mais o abismo, pois Maria o derrubou
Jaz a seus pés, pois que o venceu.
É justo, pois, que a louvem todos.
(Canção da Procissão Mariana de Reggio,1674)
Poderias dar coisa melhor a teu filho ou a tua filha, no caminho da vida, do que um profundo e terno amor à Mãe de Deus? Com isto lhes dás ao mesmo tempo uma pura e áurea mocidade e quem a possui, tem a maior, a, mas íntima felicidade, uma paz espiritual verdadeiramente preciosa. Ela é a aurora de um belo dia, o capital que não se pode perder, de que ainda se vive na velhice. Não constitui isso também para os pais uma fonte da mais pura felicidade? Só olhar para uns inocentes olhos infantis já nos torna felizes. Entra-nos pela alma a dentro como a luz e o esplendor de um outro mundo mais belo.
Nenhum reino o iguala em valor e beleza. E este imenso tesouro pertence ao pai e à mãe. Não é uma alegria e felicidade? Não sei também onde o amor aos pais e irmãos possa ser mais terno e mais forte do que num coração puro e incorrupto. Como tudo quanto é moralmente grande e belo, esse amor só pode medrar e arraigar-se profundamente no solo fecundo de um coração puro. Quando, porém, o prazer sensual se apossa de um jovem coração, aí morre tudo quanto é realmente nobre, bom e belo, aí verão em breve os pais como os mais caros laços se despedaçarão e nada mais será sagrado para o filho.
Infeliz efeito do pecado impuro! Mesmo as lágrimas que arrancam aos olhos da mãe não serão mais respeitadas, nem mais as chagas profundas que lhe abrem no coração, nem o desgosto e a angústia mortal que causam aos pais, a quem outrora amavam ternamente e tratavam com todo o respeito. Quem faz questão, pois, de conservar o amor dos filhos, fará bem em implantar profundamente no coração infantil a devoção e o amor à Mãe de Deus e confiar o filho à Virgem e Mãe do belo amor.
Dá-lhe uma criatura humana e dela recebe em troca um anjo de amor e pureza. Todas as belas festas de Maria, o delicioso mês de maio e o de outubro, mês do Rosário, finalmente todos os sábados oferecem para isso ocasião oportuna. Causa alegria ver como as crianças por toda a parte, com um pequeno incitamento, com prazer caminham nessa direção e com santa emulação adornam de coroas e flores a imagem da querida Mãe de Deus. Ainda que as coroas possam murchar, a impressão e a bênção da Mãe celeste permanecem. Maria caminha com cada criança!
(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)