'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)
SEXTA COLUNA: A SANTA COMUNHÃO
Bem compreendida, por si mesma a comunhão pode sustentar o templo do sol da felicidade da família. Pois, na Santa Comunhão, a aliança fiel dos pais é selada com o Sangue do Cordeiro; todos os seus cuidados e fadigas são libertados do peso terreno e fecundados pela graça. Então de novo se hospeda nos corações Aquele que outrora assistiu com sua mãe as bodas de Caná e também agora ainda sempre abençoa pais e filhos, sempre que O convidam para casa. Do Tabernáculo manda o espírito de paz e de união.
Qual novo 'Belém, lugar do pão', é bafejado pelo mesmo sopro de paz, que o cântico dos Anjos difundiu naquela feliz paragem, na noite sagrada de Natal. Por meio de cada Santa Comunhão esta paz penetra profundamente como um bem precioso na alma. Os sentimentos divinos tornam-se nossos. Os pensamentos de Deus tornam-se também nossos. A caridade e a paciência do Senhor passam para nós, de modo que se torna mais fácil compreender e suportar-se mutuamente. A Carne e o Sangue do Homem-Deus desperta em nós uma nova vida, uma vida divina. Pouco a pouco nos transforma e nos reforma. Necessariamente, irresistivelmente, misteriosamente, como o sol na primavera faz renascer e florescer a floresta calva e morta.
Um laço íntimo, forte e firme, de união e amor mútuo assim se tece entre Deus e os corações e entre os membros da família entre si. É uma santa família de Deus! Em si e por si a Santa Hóstia já é um belo símbolo desta unidade. De muitos grãos ela se fez uma. Como já fala aos nossos corações, simplesmente como símbolo! Mais ainda! Como alimento, na Santa Comunhão, já se torna, na mesa comum, portadora e intermediária da união suprema entre Deus e o homem e dos homens entre si e assim da paz entre todos.
A velha arte cristã exprime significativa e profundamente este pensamento, dando à custódia, onde se guardam as Santas Hóstias, a forma de uma pomba. Cristo, a verdadeira pomba, que traz a paz, oculta-se no vaso sagrado. Este o leva no banquete sagrado, como bem precioso, ao seio da família, aos corações dos grandes e pequenos. Quem já não teria experimentado frequentemente esse efeito abençoado da Sagrada Comunhão?
Na infância vi muitas vezes o bom mestre de uma cidade da Renânia, com a esposa, na mesa da Comunhão. Quando os filhos cresceram, também lá se viam. Lembro-me ainda como toda a cidade se alegrava com isso e se edificava com o piedoso exemplo. Veio então o kulturkampf ['luta pela cultura'; movimento anticlerical e de forte oposição à Igreja Católica, iniciado pelo chanceler alemão Otto von Bismarck em 1872] e, com ele, duras e penosas provações, tempestades que desabaram sobre a família. Nada, porém, os podia abalar. A paz e o amor tinham fixado morada nesse lar feliz.
Também vós vindes ao banquete sagrado? Por que tão raramente? Adotai pelo menos esta regra para vós e para os vossos: nenhum dia sem oração, nenhum domingo sem Santa Missa, nenhum mês sem Sagrada Comunhão! Quanto mais vezes, tanto melhor! Haveis de reconhecer cada vez mais quanta força e graça residem neste Sacramento de amor, que o Salvador instituiu como uma coluna firme, que nos tempos maus sustenta a vida vacilante da família. 'Comei o pão (do céu); tomai-o ousadamente: A vossas almas traz força e vigor! Nas fadigas fiel e firmemente, até a morte, sempre forte, para fazer as obras do Senhor' [Texto transcrito da obra Parsifal: ópera de autoria do compositor alemão Richard Wagner].
Sei que não tendes nenhum desejo mais íntimo e profundo que o de ver vossos filhos um dia felizes. Justamente, ó mãe, porque tomas particularmente a sério teus deveres maternos, é que sentes tantas vezes dolorosamente a tua impotência. Sentes quanta força íntima te falta ainda sobre teus filhos; o poder de tua personalidade não consegue exercer sobre os mesmos uma influência duradoura. Há educadores assim: sem muito falhar nem bater, conseguem tudo.
Sabes onde o aprenderam? No Coração do Salvador, na Santa Comunhão, na luta constante consigo mesmo e com Ele para alcançar sabedoria, virtude e graça. Conheci uma mãe que, além da comunhão frequente, reservava regularmente um quartozinho de hora durante o dia, para ficar em silêncio. Era habitualmente pouco depois de meio dia. Retirava-se então para o seu quarto e fechava a ponta. Aprouve um dia às crianças ver o que a mãe lá fazia. Pelo buraco da fechadura a viram prostrada ao chão, orando de mãos postas. 'Mamãe, por que estavas rezando?' perguntaram-lhe depois os filhos. 'Estava rezando para que Deus me dê força e luzes para educar bem meus filhos e fazê-los felizes!' Credes que isso também lhe seria possível?
(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)