sábado, 31 de janeiro de 2015

GALERIA DE ARTE SACRA (XVIII)


CRISTO CRUCIFICADO - RETÁBULO DE ISSENHEIM
(Mathias Grünewald)


Pouca coisa se sabe realmente sobre Mathias Grünewald, pintor alemão nascido em Würzburg (Baviera) por volta de 1475-1480 e falecido em Halle (Saxônia) em 1528. O próprio nome do pintor não seria esse, mas Mathis Gothart Nithart, que assinava suas obras como MGN. Sua produção artística é limitada e quase restrita a grandes retábulos de madeira, constituídos por diferentes painéis e dotados de compartimentos fixos e móveis. O grande retábulo de Issenheim (aldeia da Alsácia, na Alemanha), obra mais famosa de Grünewald, foi pintado em 1515 e contém,  em sua parte central, uma perturbadora imagem de Cristo Crucificado.

Todo o quadro apresenta uma dramaticidade intensa. Sobre um fundo totalmente negro, projeta-se a imagem retorcida do Crucificado sobre uma cruz enorme, que domina quase todo o quadro, numa tradução quase literal do sofrimento atroz pelo qual padeceu Jesus. O realismo da dor é enfatizado brutalmente pelos braços retorcidos, pelos pés e mãos crispadas, pelo corpo ensanguentado e chagado, pelas vestes rasgadas, pelo braço superior da cruz vergado. 

À esquerda da cruz, são apresentadas as testemunhas formais da crucificação do Senhor: Nossa Senhora (envolta numa espécie de sudário branco) é amparada por São João Evangelista, enquanto Maria Madalena se prostra de joelhos com as mãos contorcidas em um gesto de completo desespero, tendo, à sua frente, um pequeno pote de unguentos. À direita da cruz, encontra-se representada, como elemento extrínseco ao Calvário, a figura de São João Batista, portando uma Bíblia aberta e apontando para Jesus como o verdadeiro Messias, fato ressaltado pela inscrição inserida acima do seu braço estendido (Jo 3, 30): Illum oportet crescere, me autem minui ('É preciso que Ele cresça e que eu diminua'). Aos seus pés, encontra-se o Cordeiro, símbolo do Cristo Crucificado, que derrama o seu sangue num cálice, referência à santa eucaristia, para a salvação de todos os pecadores (representados pela figura menor de Maria Madalena no quadro).