sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O JEJUM QUE SE DEVE PRATICAR

Queres que te mostre que jejum deves praticar? Jejua do pecado, não tomes qualquer alimento de maldade, não aceites refeições de volúpia, não te aqueças com o vinho da luxúria.

Jejua das más ações, abstém-te de palavras invejosas, guarda-te de maus pensamentos. Não toques em pães roubados de uma doutrina perversa. Não desejes os alimentos enganadores da filosofia, que te afastam da verdade. É esse o jejum que agrada a Deus.

Ao dizer isto, não quero aconselhar-te a relaxares as rédeas da abstinência cristã, visto que temos os dias da quaresma que são consagrados aos jejuns, para além do quarto e do sexto dias da semana, em que jejuamos, de acordo com o costume estabelecido; e o cristão é livre de jejuar em qualquer momento, não por escrúpulo de observância, mas por virtude de continência.

Pois como havemos de guardar a castidade, se ela não estiver sustentada no rigoroso apoio da abstinência? Como havemos de nos entregar às Escrituras, como havemos de nos aplicar à ciência e à sabedoria? Não será pela continência do ventre e da garganta?

Eis um bom motivo para os cristãos jejuarem. Mas há outro, também ele religioso, cujo elogio é feito nos escritos dos apóstolos. Com efeito, encontramos a seguinte afirmação numa carta: 'Feliz o que jejua também para alimentar o pobre': o seu jejum é muito agradável a Deus e, na verdade, é extremamente digno, pois imita Aquele que deu a vida pelos seus irmãos.

(Excertos da Homilia sobre o Levítico, por Orígenes, século III)