O papa Leão [São Leão Magno, papa da Igreja entre 440 e 461] celebrava a missa no dia da Páscoa, na igreja de Santa Maria Maior quando, ao distribuir a comunhão aos fiéis, uma mulher beijou-lhe a mão, provocando nele uma forte tentação carnal. Contra esta tentação, o homem de Deus exerceu uma cruel vingança e, no mesmo dia, amputou sua mão que o tinha escandalizado e jogou-a fora. O sumo pontífice deixou assim de celebrar como de costume os santos mistérios, o que fez correr muitos rumores entre o povo. Então Leão dirigiu-se à bem-aventurada Virgem para submeter-se inteiramente à sua determinação. Ela lhe apareceu e, com as suas santíssimas mãos, restaurou de volta a mão amputada, curou-a e ordenou que ele aparecesse em público e oferecesse o santo sacrifício ao seu Filho. Leão explicou a todo o povo o que acontecera e mostrou a todos a mão que lhe havia sido restituída. Foi ele que celebrou o concílio de Calcedônia, no qual estabeleceu que somente as virgens receberiam o véu e no qual também foi declarado que a Virgem Maria seria chamada de Mãe de Deus.
(Excertos da obra 'Legenda Áurea - Vidas de Santos, de Jacopo de Varazze)
Legenda Áurea constitui meramente um livro de devoção católica, acessível às pessoas comuns de todas as épocas, sem nenhum propósito de abordagem biográfica da vida dos santos sob o escopo da veracidade ou da confiabilidade histórica. Trata-se, portanto, de uma coletânea de fatos ficcionais e inverídicos (lendários) que, uma vez associados às virtudes heroicas específicas dos diferentes santos da Igreja, tinha por objetivo incrementar a devoção católica do leitor pelos santos para a sua própria santificação pessoal. Alguns deles serão publicados no blog. A excelência dos objetivos e resultados alcançados pela obra pode ser aferida pelo enorme sucesso das muitas e diversas versões e traduções realizadas desde a sua publicação original no século XIII.