quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLIX)

Capítulo VIII

Consolação das Almas - A Intercessão dos Anjos - Beata Emília de Vercelli - Intercessão dos Santos do Céu

Se os santos anjos são zelosos pelas almas do Purgatório em geral, é fácil compreender que tenham particular zelo pelas almas dos seus protegidos. No convento de Vercelli, onde a Beata Emilia, religiosa dominicana, era prioresa, era questão de regra nunca beber nada entre as refeições, a não ser com autorização expressa da Superiora. Tal permissão a Beata Prioresa não estava acostumada a conceder e aconselhava suas irmãs a fazer aquele pequeno sacrifício alegremente, em memória da sede ardente que nosso Salvador havia padecido por nossa salvação na Cruz; para incentivá-los a fazer esse sacrifício, ela sugeria que confiassem aquelas poucas gotas de água aos seus anjos da guarda, para que fossem preservadas até a outra vida, para com elas temperar o calor do Purgatório.

Em uma certa ocasião, uma irmã chamada Cecília Avogadra veio pedir permissão para se refrescar com um pouco de água, pois estava com sede. 'Minha filha' - disse a Prioresa - 'faça este pequeno sacrifício pelo amor de Deus e em consideração ao Purgatório'. 'Madre, este sacrifício não é pouco pois realmente estou morrendo de sede' - respondeu a boa irmã mas, embora um tanto triste, obedeceu ao conselho de sua superiora. Este duplo ato de obediência e mortificação foi precioso aos olhos de Deus e a Irmã Cecília logo recebeu a sua recompensa. Com efeito, algumas semanas depois, ela faleceu e, após três dias, apareceu resplandecente em glória à Madre Emilia. 'Ó Madre - ela disse - 'como sou grata a ti! Fui condenada a um longo Purgatório por ter me apegado demais à minha família e eis que, depois de dois dias, vi o meu anjo da guarda entrar em minha prisão, segurando na mão o copo d'água que me fizeste oferecer em sacrifício ao meu Divino Esposo; ele derramou aquela água sobre as chamas que me devoraram e que então se extinguiram imediatamente. Agora estou libertada e alço o meu voo para o Céu, onde a minha gratidão nunca te esquecerá!'.

É assim que os anjos de Deus consolam as almas do Purgatório. Pode-se perguntar aqui como os santos e bem-aventurados já coroados no Céu podem ajudá-las? Isto é certo -  diz o padre Rossignoli -  e tal é o ensinamento de todos os mestres em teologia, como Santo Agostinho e São Tomás, que os santos são muito poderosos a esse respeito por meio de súplica que fazemos a eles por impetração e não por satisfação. Em outras palavras, os santos do Céu podem interceder pelas almas penitentes e assim obter da Divina Misericórdia uma abreviação dos seus sofrimentos, mas não podem satisfazer por eles e nem pagar as suas dívidas para com a Justiça Divina, pois este é um privilégio reservado por Deus apenas à Igreja Militante.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)