sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (VI)

XIX 

CONSERVAÇÃO DOS SERES E PROVIDÊNCIA DO MUNDO 

Que entendeis, quando afirmais que Deus é Soberano Senhor de todas as coisas? 
Que todos os seres do mundo estão sujeitos ao governo e domínio supremo, único e absoluto de Deus (CIII, 1, 2)*. 

Explicai-me o que quereis dizer? 
Queremos dizer que coisa alguma existe no mundo espiritual, material e humano, independente da ação divina, a qual conserva a existência de todos os seres e os conduz ao fim para que foram criados (CIII, 4, 8).

Qual é o fim que Deus tem em vista na conservação e governo do mundo? 
Deus mesmo, isto é, a sua própria glória (CIII, 2). 

Por que?
Porque, se Deus rege e conserva o universo, é para que na ordem e concerto do mundo se possa refletir e manifestar o pensamento Daquele que o criou, o conserva e o governa (Ibid). 

Logo, o concerto e a ordem admirável do universo proclamam e manifestam a glória de Deus? 
Sim, Senhor (Ibid). 

Pode haver conjunto mais perfeito e grandioso que a obra da Criação, conservação e governo do Universo? 
No plano atual da Providência, não, Senhor. 

Por que dizeis 'no plano atual da Providência?' 
Porque Deus é onipotente, e, sendo-o, nenhuma criatura, nem conjunto delas, por perfeitas que sejam, podem exaurir o seu poder infinito.

XX

AÇÃO PESSOAL DE DEUS NO GOVERNO DO MUNDO: O MILAGRE

De que modo governa Deus o universo?
Conservando-o no ser e conduzindo-o ao fim para que foi criado (CIII, 4).

É o próprio Deus quem conserva a existência dos seres?
Sim, Senhor; posto que é também certo, utilizar-se de uns para conservar outros, segundo a ordem de dependência que Ele mesmo estabeleceu ao criá-los (CIV, 1, 2).

Que quereis dizer, quando afirmais que Deus conserva por si mesmo todas as coisas?
Entendemos que todas as criaturas recebem de Deus diretamente, e sem intervenção estranha, o que nelas há de mais íntimo, aquilo, em virtude do que todas participam do fato da existência (CIV).

A conservação do universo, assim como a Criação, são obra própria e exclusiva de Deus?
Sim, Senhor; porque ambas têm por fim direto e imediato a existência, e a existência é efeito privativo de Deus (CIV, 1).

Pode Deus aniquilar o mundo?
Sim, Senhor (CIV, 3).

Que seria necessário para o realizar?
Seria bastante que Ele suspendesse por um instante a ação, por virtude da qual lhe dá e continua dando em cada momento o ser.

Logo, a existência das coisas só se mantém debaixo da ação direta, absoluta e constante de Deus?
Sim, Senhor; do mesmo modo que a luz do dia depende em absoluto da presença e atividade solar; com a notável diferença, porém, de que o sol emite necessariamente os seus resplendores e, pelo contrário, a ação divina é toda liberdade e bondade infinitas.

Destruiu Deus alguma parte da criação?
Não, Senhor (CIV, 4).

Destruí-la-á no futuro?
Também não (Ibid.).

Por quê?
Porque o fim da Criação é a sua glória e esta glória exige, não a destruição, mas a conservação do criado (Ibid.).

Experimentam as criaturas mudanças e transformações?
Sim, Senhor; mais ou menos profundas, em conformidade com cada espécie, e dentro da mesma espécie, conforme os seus diversos estados.

Estão previstas estas transformações no plano da Providência?
Sim, Senhor; posto que podem contribuir, e de fato contribuem, para o fim previsto, que é a glória de Deus e o bem do universo.

São algumas delas devidas à ação direta e imediata de Deus?
Sim, Senhor (CV, 1-8).

Quais são?
As que se efetuam nos últimos elementos componentes dos seres materiais, ou nas faculdades afetivas dos espirituais, e o princípio de qualquer ação em toda criatura (CV, 6, 7).

A quem devem atribuir-se as mudanças e transformações produzidas nos seres materiais, quando as causas segundas são incapazes ou insuficientes para efetuá-las, atento o curso ordinário da natureza?
Devem atribuir-se a Deus e se chamam milagres (CV, 1, 2, 4, 5).

Logo, Deus faz milagres?
Sem duvida; Deus faz milagres que podemos agrupar em três categorias: aqueles, para cuja execução são impotentes todas as forças criadas; os que estas forças não poderiam efetuar pela razão do sujeito em que se realizam e os que não se podem atribuir a forças naturais, pelo modo como se efetuam (CV, 8).

Por que Deus fez e faz milagres?
Deus faz milagres quando apraz ao seu divino beneplácito, para fazer sentir ao homem a sua grandeza e obrigá-lo a reconhecer como intervém no mundo, para a sua glória e bem dos homens.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).