terça-feira, 20 de agosto de 2013

CONCÍLIOS DA IGREJA (I)

O primeiro concilio da Igreja Católica consistiu numa reunião dos Apóstolos e presbíteros como narrado em Atos 15 e Gálatas 2, o chamado Concilio de Jerusalém realizado em torno do Ano 50 da nossa era. A Tradição da Igreja nos diz que, neste tempo, São Tiago teria sido o primeiro bispo de Jerusalém. 

Entretanto, os chamado Concílios Ecumênicos (ou seja, gerais, universais ou plenários) da Igreja são contados a partir do evento realizado em Nicéia, no ano 325. São 21 no total e constituem a formalização da estrutura geral doutrinária e teológica da Santa Igreja, mediante a definição de dogmas e a condenação de heresias, e proclamação das verdades inabaláveis da autêntica fé cristã, envolvendo questões e verdades relacionadas à divindade e humanidade de Jesus, o mistério da Santíssima Trindade, o papel de Nossa Senhora no processo de redenção e salvação da humanidade a relação de Maria e Jesus. Uma série de documentos (constituições dogmáticas, declarações, decretos, cânones, etc) formalizam as deliberações tomadas e constituem o registro histórico da própria formação da civilização cristã. Os primeiros oito concílios foram realizado no Oriente e se estenderam ao longo do primeiro milênio da nossa era, sendo os seguintes: 

 1. NICEIA I - 325
(20 de maio a 25 de julho de 325)


O primeiro Concílio Ecumênico (Universal) da Igreja Católica foi convocado pelo imperador romano Constantino, o Grande (285-337), sendo Papa São Silvestre I, 33/ sucessor de São Pedro, que não participou do evento, mas enviou uma representação. O local do evento foi a cidade de Nicéia, situada ao sul de Constantinopla, na Ásia Menor. A maior expressão desse concílio foi o Bispo de Alexandria, Santo Atanásio que argumentou duramente na condenação às heresias de Ário (sacerdote de Alexandria) e seus seguidores (arianismo) que negavam a natureza divina de Jesus Cristo e também a Sua condição de Filho de Deus. Renegando tais heresias, o concílio aprovou a profissão de fé (Credo Niceno) apresentada por Eusébio, bispo de Cesárea, reconhecendo Jesus como 'Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai'. Outras deliberações importantes foram a fixação da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém e a fixação da data para celebração da Páscoa do Senhor (esta última decisão consta apenas do texto grego do documento final do concílio, impresso em latim e grego).

2. CONSTANTINOPLA I - 381
(Maio a junho de 381)


Cinquenta e seis anos após o concílio de Nicéia, o imperador romano do Oriente, Teodósio I, convocou um segundo concílio geral. Em função dos conflitos do imperador com o então Papa São Dâmaso I, este evento não teve nem a presença do papa e nem de uma representação de Roma. A participação efetiva dos doutores da Igreja São Gregório Nazianzeno e São Cirilo de Jerusalém foi decisiva pra reafirmar as decisões do Concílio de Nicéia, ratificando por completo a consubstancialidade do Espírito Santo com o Pai e o Filho (promulgação do credo niceno-constantinopolitano) condenando, assim, as heresias do Donatismo e do Macedonismo, variante do Arianismo que negava a Natureza Divina do Espírito-Santo.

Sínodos Intermediários: Roma (382): estabeleceu o Canon do Novo Testamento; Hipona (393): trabalhos iniciais do Novo Testamento; Cartago (397): finalização dos trabalhos do Novo Testamento e dos Deuterocanônicos.

3.  ÉFESO - 431
(22 de junho a 17 de julho de 431)


Cinquenta anos após o Primeiro Concílio de Constantinopla, Teodósio II (filho de Teodósio) era imperador. Com relações muito próximas com a  Igreja (sua irmã foi Santa Pulquéria) e em harmonia com o Papa São Celestino I, foi convocado o terceiro concílio geral em Éfeso, na ponta sul da Ásia Menor. Mais de 200 bispos participaram, declarando o Dogma da Maternidade Divina da Santíssima Virgem Maria como a Mãe de Deus ('Theotokos'). Além disso, sob inspiração de São Cirilo de Alexandria, o concílio proclamou a dupla natureza de Cristo - divina e humana na pessoa única do Filho de Deus (união hipostática). Esta afirmação condenou Nestório, Patriarca de Constantinopla (que, convocado a dar seu testemunho no concílio, não compareceu ao mesmo), que foi então deposto e banido para os desertos da Líbia, onde morreu.

4. CALCEDÔNIA - 451
(8 de outubro a 1 de novembro de 451)


Vinte anos após Éfeso, Santa Pulquéria influenciou o seu marido Marciano, então o imperador romano do Oriente, a se unir ao Papa São Leão Magno para a convocação de um novo concílio em Calcedônia, região da Tessalônica situada a noroeste de Constantinopla. Uma vez mais, uma grande heresia dominou o cenário do concílio; no caso, o chamado monofisismo, que afirmava que, a partir da sua encarnação, em Jesus Cristo fixou-se somente a Natureza Divina, com absoluta exclusão da natureza humana. Essa corrente herética era defendida pelo abade Eutiques (por isso chamada também de eutiquianismo) que queria também colocar Constantinopla em igualdade com Roma em termos da hierarquia eclesiástica. Em sua epístola dogmática de 10 de Outubro de 451, o Papa Leão Magno ratificou a primazia da Igreja de Roma e condenou Eutiques e os monofisistas como hereges.

5. CONSTANTINOPLA II - 553
(05 de maio a 02 de julho de 553)


Pouco mais de um século depois de Calcedônia, novas seitas heréticas buscavam minar a fé cristã, levando o então imperador romano em Constantinopla, Justiniano I, a convocar novo concílio. O papa Virgílio recusou-se a participar e o evento foi coordenado por Eutychius, patriarca de Constantinopla. O concílio condenou os chamados 'Três Capítulos', obra de compilação das ideias heréticas de três discípulos do falecido Nestório: Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa. O papa ratificou esta condenação do concílio apenas cerca de seis meses depois.

6. CONSTANTINOPLA III - 680
(7 de novembro de 680 a 16 setembro de 681)


117 anos após o Concílio de Constantinopla, o imperador Constantino IV decidiu, juntamente com o papa São Ágato (678-681), que era o momento de convocar um novo concílio, especialmente à luz da crescente ameaça do islamismo. A heresia da época era o monotelismo, que pregava apenas a vontade divina na pessoa de Jesus, que era então defendida pelo Patriarca Sergio de Constantinopla. Com a morte do papa, os trabalhos continuaram sob a coordenação do novo papa São Leão II (662 - 663). O concílio condenou esta heresia e reafirmou a natureza cooperante das vontades humana e divina em Jesus: 'A vontade humana de Cristo segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa'.

7. NICEIA II - 787
(24 de setembro a 23 de outubro de 787)


Pouco mais de um século após o Terceiro Concílio de Constantinopla, um novo concílio foi proposto para se pronunciar sobre a  heresia iconoclasta. O concílio foi convocado pela imperatriz Irene - a viúva do falecido imperador Leão IV e foi coordenado pelo papa Adriano I. Este concílio abordou uma questão de natureza essencialmente litúrgica: a contraposição à veneração de ícones e de imagens religiosas, chamada Iconoclastia. O concílio condenou os iconoclastas e ratificou o uso de imagens como elementos de pura devoção cristã, aprovando também a veneração de relíquias nas Igrejas.

8. CONSTANTINOPLA IV - 869
(5 de outubro de 869 a 28 de fevereiro de 870)

Convocado conjuntamente pelo imperador Basílio e pelo Papa Adriano II em 869, o IV Concílio de Constantinopla condenou o cisma implantado por Fócio, Patriarca de Constantinopla, separando a Igreja Grega da Igreja de Roma. Quase 200 anos depois, o Grande Cisma do Oriente tornou-se oficial quando Miguel Cerulário ordenou o fechamento das igrejas latinas em Constantinopla, pelo que foi excomungado pelo Papa São Leão IV em 1054. O concílio ocupou-se também da crescente ameaça sarracena à época. 

PARTE II