terça-feira, 18 de novembro de 2014

O PENSAMENTO VIVO DE CHESTERTON (II)

'A revolução é, em grande parte, um sistema; a liberdade é, em grande parte, uma limitação. Não teremos generalizações... Tendemos cada vez mais a discutir detalhes em arte, política e literatura. A opinião de um homem sobre os bondes tem importância; sua opinião sobre Botticelli tem importância; sua opinião sobre todas as coisas não tem importância. Pode se mudar de opinião e explorar milhões de objetos, mas não se deve encontrar aquele objeto estranho, o universo, pois se assim o fizer, terá uma religião, e então estará perdido. Tudo tem importância, exceto tudo'.


'O vício da noção moderna do progresso mental é estar sempre relacionado ao rompimento de laços, à abolição de fronteiras, à rejeição de dogmas. Mas se houver algo parecido com um crescimento mental, isso deve significar crescimento em direção a convicções cada vez mais definidas, que mais e mais vão se tornando dogmas. O cérebro humano é uma máquina de tirar conclusões; se não puder concluir, enferruja... O homem pode ser definido como um animal que fabrica dogmas. À medida que empilha doutrina sobre doutrina e conclusão sobre conclusão, ao formar algum enorme esquema filosófico e religioso, está, no único sentido legítimo de que a expressão é capaz, se tornando mais e mais humano. Ao abandonar doutrina após doutrina, num refinado ceticismo, ao recusar filiar-se a um sistema, ao dizer que superou definições, ao dizer que duvida da finalidade, quando, na própria imaginação, senta-se como Deus, não professando nenhum credo, mas contemplando todos, então está, por intermédio do mesmo processo, imergindo lentamente na indistinção dos animais errantes e da inconsciência da grama. Árvores não têm dogmas. Nabos são particularmente tolerantes'.

(G. K. Chesterton, Hereges)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

AS PROFECIAS DO PE. HOLZHAUSER SOBRE O APOCALIPSE

Bartholomäus (Bartolomeu) Holzhauser (1613-1658) nasceu na pequena aldeia de Laugna, no sul da Alemanha e, desde muito cedo, foi contemplado por dons proféticos, sendo especialmente célebre a sua interpretação do Apocalipse, feita não como fruto de visões ou revelações particulares, mas por meio de uma leitura inspirada do livro de São João. Como sacerdote, atuou no vale do Tirol, na diocese de Mainz e como cura em Bingen, no Reno, permanecendo aí até a sua morte, ocorrida em 20 de Maio de 1658, antes de completar 45 anos. O padre Holzhauser escreveu sua interpretação do Apocalipse quando se encontrava no Tirol, em meio a grandes provações, sob jejum e em oração por dias inteiros; de acordo com as suas conclusões, as sete igrejas do Apocalipse caracterizariam sete idades ou eras históricas que compõem a história da Igreja até o Fim o Mundo. A idade atual até os dias do Juízo Final compreenderia, então, o período da manifestação da quinta, sexta e sétima igrejas do Apocalipse.


A QUINTA IGREJA - SARDES

É a figura da idade atual estendendo-se desde o advento do protestantismo até a futura derrota do império do mal. É uma época de calamidades, tanto no campo espiritual como no temporal. A Europa é devastada por sangrentas guerras de religião, os católicos são oprimidos por hereges e maus cristãos. Porém a heresia é combatida em discussões, escritos e pela força das armas. E Deus manifesta de modo admirável sua assistência especial à Igreja nessa época de provações: 

1) Opondo a Lutero e à sua funesta heresia Santo Inácio de Loiola e a Companhia de Jesus. 

2) Convocando, por inspiração do Espírito Santo, o Concílio de Trento, para esclarecer os dogmas da Fé e restabelecer a disciplina eclesiástica, sobretudo o celibato. 

3) Concedendo à Igreja, em outras partes do mundo, tantos fiéis quanto os que ela perdia na Europa, por meio da evangelização dos povos da América, Ásia, Índia, China e Japão. 

4) Suscitando soberanos zelosos, entre os quais o mais notável foi o Imperador Fernando II [Nota: imperador do Sacro Imperador Romano-Germânico de 1619 a 1637, a totalidade do seu reinado desenrolou-se durante a guerra dos Trinta Anos que opôs católicos e protestantes]. 

Porém isso não será suficiente para por fim, ou mesmo para impedir o progresso do mal nessa idade. Ao final da mesma o demônio gozará de uma liberdade quase absoluta e universal, e uma grande tribulação devastará a terra. Os poucos servidores fiéis, unidos entre si pelos mais fortes laços, se conservarão puros no meio do mundo. Passarão por vís aos olhos deste, serão desprezados e repelidos... Só uma transformação assustadora e inimaginável, feita pela mão de Deus, poderá por fim a essa época de tribulações.

A SEXTA IGREJA - FILADÉLFIA

Também chamada de época de 'consolação' da Igreja, ela se estenderá desde o advento do Grande Monarca e do Pontífice Santo, até a tomada do poder pelo Anticristo. Corresponde à igreja de Filadélfia. Quando maior for a pressão exercida pelos infiéis contra os cristãos, ao final da quinta idade, Deus suscitará um Grande Monarca que, pelas suas virtudes, pela força das armas e pelo apoio que receberá de Deus, derrotará o império do mal e extirpará as heresias.

O Grande Monarca será grande por suas vitórias e solidamente estabelecido no trono de seu império. Reinará por muitos anos, humilhará os hereges e as repúblicas. Nascerá no seio da Igreja Católica e será especialmente enviado por Deus, segundo os decretos da Providência Divina, que o terá escolhido para a consolação e exaltação da Igreja latina em meio à aflição e à humilhação.

Seu reinado se constituirá no mais sólido apoio à Igreja Católica e continuará a sê-lo em sua posteridade, até o aparecimento da apostasia e do Anticristo. Também será suscitado um Santo Pontífice, que vai estimular, incentivar e auxiliar o Grande Monarca na luta para exterminar o império do mal. Este Pontífice formará um grande exército com os Estados da Igreja e seus aliados, para o qual nomeará um grande general que irá com suas tropas em auxílio do Grande Monarca... Juntamente com os infiéis serão exterminados também os hereges, e a todos o Grande Monarca precipitará no inferno, pelo poder que Deus lhe concedeu.

... Pelo poder do Grande Monarca e pela autoridade do Santo Pontífice será então convocado um concílio geral, que será o maior e o mais célebre de todos... A Igreja deverá sofrer amarguras, tribulações e dificuldades para a execução desse concílio. Porém os maus não prevalecerão e ela pregará a Fé católica a todas as nações, mesmo às pagãs e àquelas que dela se haviam separado pelo cisma ou pela heresia...O espírito de sabedora reinará nas ciências – sacras e profanas – e na interpretação das Escrituras. O ateísmo, as heresias e as falsas doutrinas serão banidos.

A Igreja Católica será elevada ao apogeu de sua glória temporal e não haverá controvérsias nem discussões para saber qual é a verdadeira Igreja, como existe atualmente na quinta idade. Porém, no fim dessa sexta idade a caridade vai se arrefecer, os pecados se multiplicarão e, pouco a pouco, será formada uma geração perversa e infiel. Os justos, os santos, os bons prelados e pastores serão levados por Deus, em grande número, por morte natural. Em seu lugar virão homens tíbios e carnais, que só cuidarão de si mesmos. Este estado de espírito da população em geral é que marcará a passagem gradual da sexta para a sétima e última idade da Igreja.

A SÉTIMA IGREJA - LAODICÉIA

Ela se estende desde o aparecimento do Anticristo até o fim do mundo e o Juízo Final. Seu tempo de duração será curto em comparação com as outras idades. Corresponde à igreja de Laodicéia. Será uma época de desolação e de defecção total da Fé: abominação da desolação.

No início, enquanto o Anticristo não estiver ainda no poder, será uma continuação do estado de espírito observado no fim da sexta idade: perda do amor de Deus e da Fé, reinos perturbados por agitações e divididos entre si, raça de homens egoístas, indolentes e tíbios... Então Nosso Senhor Jesus Cristo começará a vomitar a Igreja de sua boca e permitirá que Satanás e o Anticristo estendam seu poder a tudo, inclusive dentro da própria Igreja. Será o resultado da tibieza do período de decadência da sexta idade.

Por permissão de Deus, o filho de perdição [Anticristo] terá com o demônio uma completa união de posse desde o momento de sua concepção, ainda no seio de sua mãe. O Anticristo com a ajuda do demônio, vai restaurar o antigo poder e extensão do império do mal, derrotando os cristãos e os submetendo ao seu poder tirânico e despótico...Ele se apresentará como sendo Cristo, o Messias prometido e só então vindo à terra, acusando Nosso Senhor Jesus Cristo de ter sido um impostor.

Seu poder sobre povos e nações será o maior que jamais houve na história, e sua perseguição a mais cruel. Seu reino será o da luxúria, da concupiscência e da crueldade... Na sua tarefa de perseguir os cristãos o Anticristo será auxiliado pelo falso profeta e antipapa, um cristão apóstata que, apoiado pelos judeus, invadirá os Estados da Igreja e matará o Papa legítimo, ficando em seu lugar. Este antipapa vai induzir todos os cristãos a adorar o Anticristo e sua imagem, e também receberá poderes do demônio para fazer coisas prodigiosas, perseguindo cruelmente os que persistirem na verdadeira Fé.

A apostasia será generalizada, à exceção dos poucos eleitos, aos quais nada mais restará que a glória do martírio, pois qualquer luta armada contra as forças do Anticristo será inútil, e mesmo desaconselhada por Nosso Senhor Jesus Cristo... A grande maioria dos mártires dessa época será constituída por eclesiásticos de diversas ordens da hierarquia: bispos, pregadores, pastores, doutores, padres em geral, e também por grande número de leigos.

Nessa época Elias e Enoch serão enviados como testemunhas de Deus contra o Anticristo. Eles pregarão e farão grandes prodígios, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, contra as imposturas e os falsos milagres do Anticristo.. E passada a época de sua pregação o Anticristo os matará. Seus corpos ficarão expostos em praças públicas de Jerusalém, que nessa época será uma cidade grande, rica e poderosa, para onde afluirão homens de todos os povos.

... Junto aos corpos de Elias e Enoch ficarão corpos de muitos outros mártires, especialmente padres e doutores. Haverá grande regozijo dos ímpios durante as três semanas e meia em que os corpos ficarão expostos. Será o tempo de gozo do Anticristo pela sua vitória e ele se fará adorar como deus no alto do Monte das Oliveiras...  Decorridos esses dias, Deus ressuscitará Elias e Enoch e os elevará ao céu em corpo e alma à vista de todos. O Anticristo, enraivecido, tentará vingar-se fazendo-se elevar nos ares pelo poder do demônio. Mas será precipitado vivo no inferno, entrando por uma abertura na terra que se formará em conseqüência do grande terremoto que haverá na ocasião.

... Após a morte do Anticristo poucos dias serão concedidos aos homens para fazer penitência, com os terríveis sinais que precederão a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e o juízo final. Os judeus se converterão e se unirão aos cristãos para cantar louvores à glória, bondade e misericórdia de Deus Padre e de Seu Filho Jesus Cristo. Então serão melhor conhecidas as vias de Deus para a criação, conservação e governo do gênero humano ao longo dos séculos, conhecimento este que será bem mais completo por ocasião do Juízo Final, o qual ninguém sabe exatamente quando se dará, somente Deus. Tanto o dia do Juízo Final como a questão da predestinação constituem um grande mistério reservado só a Deus. Nessa ocasião todos os segredos serão manifestados. Os homens não crerão nesse dia até que ele venha.

(Excertos da obra 'Interprétation de l'Apocalypse par le Vénerable Serviteur de Dieu Barthélemy Holzhauser traduit du latin par le Chanoine de Wuilleret', Paris, 1856, com excertos traduzidos e publicados originalmente em http://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/).

domingo, 16 de novembro de 2014

A PARÁBOLA DOS TALENTOS

Páginas do Evangelho - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum


Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.

O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu  e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.

Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).

Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).

sábado, 15 de novembro de 2014

GALERIA DE ARTE SACRA (XV)

WILLIAM - ADOLPHE BOUGUEREAU 

(1825 - 1905, pintor francês)

Expoente francês do período áureo do academicismo, Bouguereau foi professor da prestigiosa Escola de Belas Artes de Paris e dono de uma profícua obra, mesclando técnica apurada e efeitos de grande realismo, que aborda temas históricos, alegóricos e sociais. A galeria abaixo é uma pequena amostra do talento do artista aplicada à concepção de obras associadas a temas religiosos. A pintura final apresentada é um bom exemplo que ilustra o domínio quase à perfeição da habilidade do artista em retratar o corpo e a fisionomia humana.


(A Virgem com os Anjos, 1900)

(A Compaixão, 1897)

(A Flagelação de Cristo, 1880)

(A Virgem e o Menino, 1888)

(Cântico dos Anjos, 1881)

(Dia de Finados, 1859)

(Nossa Senhora das Rosas, 1903)

(Pietá, 1876)

(As Santas Mulheres no Túmulo, 1890)

(Meditação, 1885)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

HORA SANTA DE NOVEMBRO


'Eis o Homem'. Tenho aqui o Homem de todas as dores, o Salvador Jesus, diante dessa Hóstia. Dobremos o joelho e O adoremos na suave e vencedora majestade desse mistério. Oh vem seguramente em nossa procura, já que no Paraíso tem legiões de anjos. Olhai-O, acercai-O como Lhe viu um dia Sua serva Margarita Maria. Vem sem fulgores de sol, sem diadema, de mãos atadas, perseguido... Traz a alma abrumada de angústias. Carregados de lágrimas os olhos. Procura um horto de paz onde orar em Sua agonia, e veio aqui, trazendo-nos uma confidência de caridade infinita, e de infinita tristeza. 

Calai, irmãos, e no silêncio da alma, esquecidos do mundo, separados por um momento dos mesquinhos interesses da terra. Ouvi ao Senhor Jesus nesta Hora Santa. Contemplai-O sob a figura dolorida, ensanguentada do Homem, tal como se apareceu em Paray-le-Monial (França) a seu primeiro apóstolo e confidente, para reclamar de Seus amigos um amoroso desagravo. 'Oh, bom Jesus: ao começar esta Hora Santa, deixa-nos beijar com delíquios de amor, com paixão da alma, com embriaguez do céu, a ferida encantadora de Vosso lado, e permiti-nos chegar, por meio desse ósculo ditoso, até o mais recôndito de Vosso divino e agonizante Coração!'

(Apresentai-Lhe o pedido íntimo que quereis fazer-Lhe nesta Hora Santa) 

Voz do Mestre 

Filhinhos Meus, quereis presentear um asilo de amor, um casaco de fidelidade a vosso Deus, perseguido pelo furacão maldito da culpa? É verdadeiro que não vês hoje em dia Meu corpo feito pedaços. Mas crede que não cessaram os crudelíssimos açoites. Não vês também que o pranto inunda Minha face. Com que furor penetram em Minha fronte os espinhos! Não está à vista o pesar mortal e a agonia do Getsêmani; Mas, ai, suas indizíveis amarguras enchem até as bordas o cálice de Meu abandonado Coração.
O pecado não dá trégua às Minhas dores. Como uma torrente de inquietude, Me persegue faz vinte séculos seguindo Meus passos, iracundo... Quer devorar a Obra de Meu sangue; Quer condenar as almas. Que pude fazer por Meu rebanho que não o tenha feito? O sacrifício do Meu corpo, da Minha alma, do Meu Coração; o holocausto do Calvário e da Eucaristia, tudo está consumado. E, contudo, a culpa avança, como hálito do inferno, penetra nas consciências, mata nelas Meu amor. E a glória de Meu nome... 

Abri-me cedo, vocês Meus amigos, abri-me o refúgio carinhoso de vossos corações. Ponde-Me ao aconchego da noite fria, escura, do pecado que envolve ao mundo. Volvei a Mim, filhinhos Meus, envolvei-Me com caridade filial os braços. Não é a recordação do Calvário o que Me fere. É o pecado de hoje que atravessa sem piedade Meu desolado Coração! Vede, estou chorando agora Minhas tristezas; estou desafogando entre vocês a tempestade das Minhas dores. E no mesmo instante, milhares de flechas se fincam na chaga sangrenta de Meu peito! Oh! dai albergue de caridade e de ternura, em vossas almas compassivas, a este Jesus, o eterno ultrajado e perseguido da culpa. 

(Pausa) 
A alma 

Jesus, Rei dos altares e Soberano das almas: vem e assenta Vossos domínios nestes corações. Não serás entre nós o hóspede, senão o Pai e o Monarca. Não o peregrino, senão o Redentor desagravado e o Senhor mil vezes abençoado. Vem... E se é constante a ofensa da culpa, mais constante ainda tem de ser a homenagem de nosso humilde desagravo. Abre Vossa prisão, Senhor Sacramentado, e que os anjos que rodeiam Vosso pobre tabernáculo se unam aos amigos leais de Vossa Eucaristia, para dizer-Vos:

(Todos em voz alta) 

Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante os esforços desesperados do inferno, que almeja o infortúnio eterno das almas. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar da fragilidade humana, que impele a tantos pela beira do abismo. 
Coração Santo, Vós reinarás!
Não obstante a fúria de tantos inimigos de Vossa moral intransigente e de Vossos dogmas invariáveis. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar dos ataques com que a razão e as sabedorias vãs da terra se alçam para derrubar- Vos do altar. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante a licença vergonhosa, que muitos pretendem erigir em lei natural da consciência. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar do artificio com que se trama noite e dia na contramão da Igreja, do lar e da infância. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante a sacrílega legalidade de tantos atentados de lesa majestade divina. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Apesar do ódio dos governantes, excitados pelo poder de Vossa humildade e de Vosso silêncio. 
Coração Santo, Vós reinarás! 
Não obstante os ataques irados da imprensa, das leis e das seitas, poderes conjurados em ruínas de Vossa glória e de Vosso reinado entre os homens. 
Coração Santo, Vós reinarás! 

(Pedi com todo fervor o reinado do Coração de Jesus) 

Voz do Mestre 

Por que, dizei-Me, confidentes muito amados, por que os filhos das trevas são com frequência mais prudentes e esforçados do que vocês, os filhos de Minha dor e da luz? Vede-os a Meus inimigos, perpetuamente afanados em isolar-Me no Sacrário, e depois, em derrubar Meu altar. Não se dão descanso no propósito de anular Minha lei, de dispersar Meu sacerdócio e de aniquilar-Me nas consciências dos homens... 

E vocês... E tantos dos Meus, que fizestes? Como não pudestes velar uma hora comigo? E por cansaço, por preocupações terrenas. Por debilidade de caráter. Por falta de amor a vosso Deus e Mestre, descansastes, enquanto Eu agonizava. Dormíeis calmos, diante o vosso Salvador agonizante e a multidão inimiga que vinha prender-Me. Não teríeis feito assim, seguramente, a vossos pais, a vossos irmãos, aos amigos íntimos de vosso coração. 

E para Mim, só para Mim, por que não tivestes fineza nem resolução no amor? Prometestes-Me generosidade. Abençoei e aceitei vossa boa vontade. E, há pouco, desfalecestes e fui esquecido. Perdoei-vos tantos desvios, esqueci tantos esquecimentos. E vocês, os de Minha casa, viveis com frequência num sopro de calma indiferença que Me magoa cruelmente. Um sonho de apatia, de egoísmo, de desamor por Minha pessoa vos prende. Levantai-vos já; acordai desta indiferença; acerca-se o inimigo que traz o ultraje para o vosso Deus, e para vocês, as correntes e a morte. Chegou a hora milagrosa de uma sincera conversão. Oh! vinde e acompanhai-Me, se preciso fora, até o Calvário! Não queirais abandonar-Me, ovelhinhas Minhas, quando ferido estais o vosso Pastor... 

(Pausa) 

A alma 

Que tenho eu, oh, Deus escarnecido, que Vós não me tenhais dado? Alentai-me, Jesus, e faz que Vos sigais, sem vacilações, nas doces exigências de Vossa graça e de Vosso amor. Que valho eu, se não estou ao Vosso lado? E porque reconheço meu nada e minha impotência, rogo-Vos não queirais deixar-me longe da Vossa mão, não consintais que me afaste por um dia do Sacrário. Perdoai-me os erros que contra Vós cometi. São tantas as fraquezas de meu coração... Perdoai-as e esquecei-as. Pois, o muito sangue que derramaste, e a acerba morte que padeceste, não foi pelos anjos que Vos aclamam, senão por mim e por tantos mornos e indolentes no exercício de Vosso amor, que Vos desolam e Vos ofendem... 

Por isso, nesta Hora Santa, ao renovar os propósitos de fervor em Vosso serviço, consenti que Vos diga com dor da alma: 'Se Vos neguei, deixai-me reconhecer-Vos; se Vos injuriei, deixai-me aclamar-Vos; se Vos ofendi, deixai-me servir-Vos, porque é mais morte do que vida a que não está empregada no santo serviço de Vossa glória e para consolo e triunfo do Vosso Divino Coração. 

(Confessai-Lhe vossa indiferença e pedi fervor perseverante em Seu serviço) 

Voz do Mestre 

Quantos sois os que velais comigo nesta Hora Santa? É verdadeiro que é grande vosso amor. Ah, sim, mas imenso, insondável é o amargo oceano de delitos e de orgias, que, nesta mesma hora, está saturando de tristeza mortal Meu Coração. Que frenesi de pecado; que desenfreio no redemoinho humano que vai passando agora mesmo ante Meus olhos! Oh, que cenas de morte, que espetáculos de inferno. Que vertigem de paixão sensual no teatro! O grande mundo aplaude e ri ante um palco onde a Mim se Me flagela... 

Se soubésseis como Me despedaça a alma dolorida a grande mentira que chamam civilização moderna. Ah, quantas festas de Meus filhos são o escárnio e o Calvário de seu Pai e Salvador! Só vocês, Meus amigos, podeis adivinhar o pesar deste agonizar perpétuo num patíbulo, levantado pelos Meus. Corno se apresentam, à  Minha vista, as grandes capitais... orgulhosas como Nínive... desavergonhadas como a Babilônia. Nelas, meu Evangelho é um exagero intolerável. 

Vocês, Meus consoladores, que penetrastes tão adentro em Minhas tristezas, ponde um bálsamo em Minha ferida. Consertai, vocês, essa embriaguez culpada e aplacai, com uma prece fervorosa, o clamor que, nesta mesma noite, em centenas de salas, de banquetes, de festas, de bailes e teatros, se levanta como um cobertor de lodo, achincalhando a santidade do Meu Evangelho e a tez imaculada da Hóstia. 

A alma 

Oh, sim, Mestre, baixeis de uma vez fogo do céu, que purifique, que perdoe e salve a milhares de infiéis, que vivem sem amor, amando loucamente a matéria e o abominável. Para tantos, que esbanjam dinheiro e juventude na dissipação de prazeres mundanos que Vos ofendem... 

(Todos, em voz alta) 

Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que labutam na tolerância aos pecados públicos e na profanação da consciência e dos sentidos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para os pervertedores de almas, que na imprensa e nos livros se enriquecem, condenando os seus irmãos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que têm o tristíssimo negócio de excitar paixões na cena teatral, onde tudo é permitido, a pretexto de arte... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para tantos débeis que, ignorando sua consciência, cooperam sem arrependimento no escândalo social de modas e teatros... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para tantos que, relaxado o seu critério de cristãos, não veem mal nenhum no atropelo aos Vossos santos mandamentos... 
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 
Para aqueles que, no trabalho, deveriam evitar ao Senhor gravíssimas ofensas e não o fazem, por timidez ou por afetação mundana...
Misericórdia, e os salve Vosso doce Coração! 

(Façamos um ato de desagravo pelos pecados públicos e sociais com que se ofende a Jesus Cristo no mundo inteiro) 

Voz do Mestre 

Povo meu, herança preciosa de Meu Coração, que te fiz? Ou em que te tenho contristado? Respondei-Me! Desde aqui na Hóstia, contemplo, noite e dia, o lar dos Meus carinhos, o acampamento de Israel de Minhas ternuras, Meus pequenos servos que Me juraram amor eterno. Desde aqui ponho os olhos no coração de Meus amigos, dos que eu quis com predileção. Desde aqui sigo os passos dos que tenho predestinados ao banquete de Meu amor e de Minha glória... 

Ai, quantos deles arrancam de Meus Olhos as lágrimas que chorei sobre Jerusalém, Minha pátria.  Quantos que foram íntimos de Minha alma são ingratos! Quantos gozam longe de Meu lado, muito longe. Os bens de talento, estimação e de fortuna com que os cumulei para fazê-los santos. Seus tronos estão colocados entre os príncipes do reino dos céus! Oh, quantos desses tronos, perdidos por ingratidão, os darei a pecadores arrependidos, que ouviram Meu chamado na agonia!

Para esquecer principalmente esse pecado, o mais amargo, para adoçar o cálice da ingratidão humana, pedi a Meu servo esta companhia deliciosa da Hora Santa; aqui se convertem em lágrimas de bênção, de amor, as que chorei no desamparo dos que eram Meus, na fuga de Meus filhos. Entre o vestíbulo e o altar, gemei, consoladores Meus. Tenho sede dos consolos que Me negam os ingratos de Minha própria casa... 

A alma 

Divino Salvador Jesus, dignai-Vos olhar com Olhos de misericórdia a Vossos filhos que, unidos por um mesmo pensamento de fé, esperança e amor, vêm deplorar ante Vosso Sacratíssimo Coração suas infidelidades e as de seus irmãos culpados. Oxalá possamos, com nossas solenes e unânimes promessas, comover esse Divino Coração e obter dele misericórdia para nós, para o mundo infeliz e criminoso e para todos aqueles que não têm a dita de Vos conhecer e amar! Sim, de hoje em adiante o prometemos todos: 

(Todos, em voz alta) 

Pelo esquecimento e ingratidão dos homens... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso desamparo no sagrado Tabernáculo... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelos crimes dos pecadores... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelo ódio dos ímpios... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas blasfêmias que se proferem contra Vós... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas injúrias feitas à Vossa Divindade... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas imodéstias e irreverências cometidas em Vossa adorável presença... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas traições de que és vítima adorável... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela frialdade da maior parte de Vossos filhos... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelo abuso de Vossas graças... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossas próprias infidelidades.. 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela incompreensível dureza de nossos corações... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossa tardança em amar-Vos... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por nossa indiferença em Vosso santo serviço... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pela amarga tristeza que Vos causa a perdição das almas... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelas longas esperas muito próximas de nossos corações... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Pelos amargos desprezos com que és recusado... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vossas queixas de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vossas lágrimas de amor...
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso cativeiro de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 
Por Vosso martírio de amor... 
Consolar-Vos-emos, Senhor. 

Oh, Jesus! Divino Salvador nosso, de cujo Coração se desprendeu esta dolorosa queixa: 'Consoladores procurei e não os achei'. Dignai-Vos aceitar o modesto tributo de nossos consolos, e assisti-nos tão eficazmente com o auxílio de Vossa divina graça, que, fugindo cada vez mais, no vindouro, de tudo o que pudesse desagradar-Vos, mostremo-nos, em toda circunstância, tempo e lugar, sermos Vossos filhos mais fiéis e obedientes. Pedimos-Vos, que, sendo Deus, viveis e reinais pelos séculos dos séculos. 

(Pedi-Lhe perdão pelos ingratos, que são tantos...) 

Voz do Mestre   

Não Me pergunteis, almas reparadoras, por que vivo perpetuamente crucificado pelas mãos de Meus escolhidos. O mundo chegou a convencer-se que mereço realmente a vergonha e a morte do patíbulo. Ai! são, em realidade, tantos os sábios, os honrados e os poderosos que repetem com cruel tranquilidade estas palavras de Meus acusadores a Pilatos: 'Se este Nazareno não for um malfeitor, não o teríamos trazido acorrentado! 

Ah, sim! E porque sou um malfeitor para a multidão, desenfreada em moral e em pensamento, condena-Me a autoridade. Porque sou um malfeitor, condena-Me os Tribunais. Porque sou um malfeitor, sou flagelado pela imprensa; tratam-Me como vilão e como louco, por decreto de Meus juízes. Entregam-Me à população, em resguardo aos interesses nacionais. Eles, dirigentes e legisladores, lavam as mãos por razões de liberdade, de civilização e de justiça; condenam-Me ao desterro e à Cruz por vias da mais estrita 'legalidade'... 

Este é o grande delito de hoje, filhos Meus: achincalhar-Me em nome da razão e do direito, proscrever-Me em nome da dignidade e por lei das nações. Sigo sendo verme e não Homem, o verme pisoteado da terra. Oh, vocês os fidelíssimos, aclamai-Me, para aplacar o grito dessa multidão que, desde as alturas, assalta o Meu trono e quer sortear, zombadora, o manto de Minha realeza, abençoai-Me com amor. 

A alma 

Acercai-Vos, dulcíssimo Mestre. E aqui, no meio dos Vossos, estreitando-Vos os Vossos filhos, recebei o diadema que quiseram arrebatar-Vos os que, sendo pó da terra, chamam-se poderosos, porque, em Vossa humildade, creem injuriar-Vos do alto... Adiantai-Vos triunfante nesta calorosa congregação de irmãos. Não apagueis as feridas de Vossos pés nem de Vossas mãos, deixai ensanguentada a Vossa cabeça. Ah, e não fechais, sobretudo, a profunda e celestial ferida de Vosso peito. Assim, Rei de sangue, assim... Jesus, o mesmo da noite horrível da Quinta-feira Santa, apresentai-Vos, descei e recolhei o hosana desta guarda de honra que vela pela glória do Coração de Cristo Jesus, seu Rei! 

(Todos, em voz alta) 


Viva Vosso Sagrado Coração! 
Os reis e dirigentes poderão conspurcar tabelas da Lei mas, ao cair do trono do comando na tumba do esquecimento, Vossos súditos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os legisladores dirão que Vosso Evangelho é uma ruína, e que é dever eliminá-lo em beneficio do progresso, mas, ao cair despencados na tumba do esquecimento, Vossos adoradores seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os ricos, os altivos, os mundanos, dirão que Vossa moral é de outro tempo, que Vossas intransigências matam a liberdade da consciência, mas, ao confundir-se com as sombras da tumba do esquecimento, Vossos filhos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os interessados em ganhar alturas e dinheiro, vendendo falsa liberdade e grandeza às nações, chocarão com a pedra do Calvário e da Vossa Igreja. E ao se penderem aniquilados à tumba do esquecimento, Vossos apóstolos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os herdeiros de uma civilização materialista, longe de Deus e em oposição ao Evangelho, morrerão um dia envenenado por suas maléficas doutrinas e ao caírem na tumba do esquecimento, amaldiçoados por seus próprios filhos, Vossos consoladores seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Os fariseus, os soberbos e os impuros terão envelhecido estudando a ruína, mil vezes decretada como falsa pela Vossa Igreja. E ao se perderem, derrotados, na tumba de um eterno esquecimento, Vossos escolhidos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Oh, sim, que viva! E ao fazer fugir dos lares, das escolas, dos povos o anjo de trevas, afundado e acorrentado eternamente nos abismos, Vossos amigos seguiremos exclamando: 
Viva Vosso Sagrado Coração! 

Voz do Mestre 

Amei-vos até o excesso de um Calvário. Chegado ao seu cume, obedeci em silêncio e Me estendi no patíbulo afrontoso. E, desde então, aí estou à mercê de todos os meus verdugos, os sacrílegos. Se tantos dizem que não estou aqui na Hóstia, por que a achincalham e Me ferem? E se creem, por que Me ultrajam neste mistério em que amo com loucura, em que perdoo com inesgotável caridade?

Oh sabei-o: Minhas lágrimas deixaram impressão de dor nos caminhos, onde fui arrastado em milhares de profanações, desde a Quinta-feira Santa. Fui pisoteado com furor; Me arrojaram, entre blasfêmias, às chamas; sepultaram-me no lodo; fui atravessado com punhais em antros onde se trama, com sigilo, na Minha objeção. Ai! paga-se vil dinheiro e não faltam Judas que comunguem, para entregar-Me, com o beijo dessa comunhão, em mãos de Meus mortais inimigos.
O incêndio criminoso abrasou Meu Sacrário. Isto, em troca de ter deixado Meu Coração entre vocês, para abrasar o mundo no incêndio da salvadora caridade. Ah, e quantas vezes os infelizes, que cobiçam o metal dourado em que Me guardo, têm salteado a prisão de Meus amores. E fui arrojado sobre o chão, sem ter uma pedra consagrada em que reclinar Minha cabeça ensanguentada! Foi esta visão de horror a que feriu Meu Coração nas angústias de Getsêmani. Vós que passais, considerai e vede se há dor semelhante a Minha dor!

A alma 

Hosana, glória a Deus nas alturas. Glória, bênção e amor só a Vós, Senhor Sacramentado, só a Vós no incompreensível aniquilamento de Vossa Santa Eucaristia! Que Vos cantem os céus, porque Vós, o Deus do Tabernáculo, és a bem-aventurança do mesmo Paraíso! Que Vos cantem, Jesus-Hóstia, os campos, os mares, as neves e as flores, panorama de beleza criado para recrear Vossos Olhos, cansados de chorar solidão e ingratidões! Que Vos cantem, doce Prisioneiro, as aves e as brisas; que Vos cantem as tempestades; que Vos engrandeçam os soluços do coração humano e suas palpitações de alegria, a Vós, o Cativo do altar. Glória a Deus nas alturas; Glória, bênção e amor a Vós, Jesus Sacramentado, só a Vós, no incompreensível aniquilamento de Vossa adorável Eucaristia! 


(Rendei-Lhe uma completa reparação de amor pelo horrendo crime do sacrilégio com 
que se Lhe fere no altar; se possível, cante-se o 'Magnificat' com a Imaculada, em 
homenagem à Divina Eucaristia) 

Voz do Mestre 

Não vos afasteis, filhos de Meu Coração, sem recolher nesta Hora Santa um desafogo de dor, que só vocês, meus fidelíssimos, sabeis compreender em toda a sua amargura. Não é a profanação deste Tabernáculo o atentado mais cruel na objeção à minha soberania conspurcada; há outro sacrário mais valioso e do que é consciente na rejeição de seu Salvador: é o coração humano. E dizer que o amo tanto... 

Como o profanam milhares de cristãos com o veneno de um amor pagão. Esse coração deveria ser o cálice de todos meus consolos; o altar redentor de um mundo, que é infeliz porque não Me amou com amor de espírito, com o casto amor de Meu Evangelho. Nesse Coração, depositei Minhas lágrimas para purificá-lo. E depois, derramando chamas de Meu inflamado Coração, ofereci-lhe meu amor para acolher as suas ânsias de amar e ser amado... 

E não lhe basta esta infinita dignação de caridade. Procura as criaturas. E a Mim Me esquecem nesse delírio de prazer, que não é nem amor, nem paz e nem vida. A Mim me deixam. E por isso, pobrezinhos, tantos sofrem, rasgada a alma, a fome insaciável das paixões vergonhosas. Os que tendes sede de amar vinde, vinde a Mim: Eu sou o amor que guarda os espinhos para si, e vos dá as suas flores. Os que sentis ânsias, necessidade de serem amados, vinde... E bebei até saciar-vos da fonte do Meu peito. Filhos Meus, dai-Me os vossos corações...
A alma 

Jesus Sacramentado, exercita em nós Vossos direitos, pois somos Vossos reparadores. Vem! Não peças, não mendigues. Vem! Toma com amabilíssima violência o que é Vosso. Toma nossos corações. Sim, são pobres. Vós sabereis enriquecê-los; damos-Vos por mãos de Vossa doce Mãe e de Vossa serva Margarita Maria. Rogamo-Vos que os aceites em demanda urgente do reinado de Vosso Coração Divino. Não queirais eliminá-los porque um dia se mancharam, quando Vós perdoais, esqueceis para sempre... 

A Igreja perseguida, nosso lar tão necessitado, os pecadores, Vosso Vigário, o Purgatório de tortura purificadora, as almas dos justos, todos, todos esperamos Vossa onipotência torrentes de graça. Ah! E em especial lembrai-Vos dos que, como São Gabriel Arcanjo, viemos dar-Vos amável refrigério em Vossa agonia. Aceita seus interesses, suas penas, suas esperanças, sua vida; depositam-no tudo na chaga-paraíso que nos descobriu o soldado. Recolhe agora, Senhor, nossa oração de despedida: 

Coração agonizante de Jesus, estas almas Vos confiam seus espinhos... 
Coração amável de Jesus, estas mães Vos confiam seus esposos e o tesouro de seus filhos... 
Coração amante de Jesus, estes peregrinos Vos confiam seu porvir e todas as suas incertezas... 
Coração dulcíssimo de Jesus, estes pródigos Vos confiam sua debilidade e seu arrependimento.. 
Coração benigno de Jesus, estes Vossos amigos Vos confiam a paz e a redenção de suas famílias... 
Coração compassivo de Jesus, estes enfermos Vos confiam as doenças secretas e íntimas da consciência... 
Coração humilde de Jesus, estes adoradores Vos confiam seus anseios veementes pelo triunfo de Vosso amor na Santa Eucaristia... 

Coração Sacramentado de Jesus, em Vós confia o mundo, que corre desolado a refugiar- se da morte aí onde uma lança abriu as fontes da vida. Vem Jesus!. Seja nosso Rei nas tentações e ciladas que açoitam as sociedades e às almas: domina o furacão desde o Sacrário. Serena o céu ameaçador, com os fulgores de paz e as ternuras de Vosso onipotente Coração. 

Pai Nosso e Ave Maria pelas intenções particulares dos presentes. 
Pai Nosso e Ave Maria pelos agonizantes e pecadores. 
Pai Nosso e Ave Maria pedindo o Reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino nos lares, sociedades e nações. 

(Cinco vezes) 

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino! 

Súplica final ao Sagrado Coração de Jesus 

Esconde-nos, ó doce Salvador, no Sacrário de Vosso lado, chaga acendida de puro amor, e aí estaremos seguros. Elegemos o Vosso Coração por morada, na firme confiança que ele será nossa força no combate, o amparo de nossa fraqueza, nosso guia e luz nas trevas, o reparador de todas as nossas faltas e o santificador de nossas intenções e obras. Unindo-as todas às Vossas, nós as Vos oferecemos a fim de que nos sirvam de preparação contínua para receber-Vos no Sacramento de Vosso amor. 

Para honrar Vossa condição de Vítima neste mistério da fé, vimos também oferecer-nos em qualidade de hóstias, suplicando-vos que sejais Vós mesmos o sacrificador e que nos imoles no altar de Vosso Sagrado Coração. Ah! mas como somos tão culpados, rogamos-Vos, Senhor Jesus, que possais purificar-nos e consumir-nos com as chamas do Vosso Sagrado Coração, como um holocausto perfeito de caridade e de graça, para obter uma vida nova e poder então dizer em verdade: 'Nós nada temos que seja nosso; vivos ou mortos, Jesus é nosso tudo; nossa propriedade é ser inteira e eternamente de seu Divino Coração. Que venha a nós o Vosso Reino!" 

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 

Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 

Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém. 


(Hora Santa de Novembro, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)

BREVIÁRIO DIGITAL - ORAÇÕES E MEDITAÇÕES (IV)

(O Pequeno Missionário, P. Guilherme Vaessen, Ed. Vozes, 1953, p.70)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SOBRE A IMPUREZA SACERDOTAL

'Volto a falar novamente dos clérigos e ministros da Igreja. Quero lamentar-me contigo sobre outros defeitos, dos quais ainda não falei. São aqueles vícios, que uma vez te mostrei na figura de colunas: a impureza, o orgulho e a ganância. Com eles, vendem até a graça do Espírito Santo! São vícios interdependentes e têm uma base comum, o egoísmo. Tais colunas, enquanto permanecem de pé, sem serem derrubadas pelas virtudes, tornam a pessoa obstinada nos demais pecados. Como disse antes, todos os pecados nascem do egoísmo; o mais grave é o orgulho, que destrói a caridade. O orgulho conduz ainda a pessoa à impureza e à ganância. São esses os três laços que ligam os ministros maus ao demônio'.

...

'Filha querida! Já tratei um pouco sobre a maneira como os clérigos mancham o corpo e o espírito na impureza. Para que conheças melhor a minha Misericórdia e sintas maior compaixão por esses infelizes, quero acrescentar quanto segue. Há ministros tão endemoniados que, além de não respeitarem a eucaristia e desprezarem a dignidade que lhes dei, fora de si se apaixonam por determinada pessoa, e, não conseguindo realizar seus desejos, recorrem à magia.

Usam então o alimento da eucaristia como instrumento para concretizar seus pensamentos desonestos e más intenções. Relativamente aos fiéis, que deveriam pastorear e alimentar quanto ao corpo e quanto à alma, apenas os atormentam de diversos modos. Mas não vou me ocupar disso; não quero que sofras em demasia. Como te mostrarei numa visão, os fiéis são abandonados a caminhar sem rumo, desorientados, fazendo o que não querem. Se tentam resistir, sofrem terrivelmente na própria carne. 

Pois bem, qual a causa de tudo isso e de outros males que conheces e que não é preciso recordar, senão a vida desonesta dos clérigos? Ó filha querida! atiram lama à minha carne que foi elevada acima dos anjos pela união em Cristo da natureza humana com a divina! Ó homem abominável e infeliz! Não homem, mas animal, que entregas às meretrizes teu corpo, por mim ungido e consagrado, e que fazes coisas ainda piores! 

No madeiro da cruz, meu Filho, sofrendo, curou a ferida de Adão herdada por ti e por todos os homens. Com seu sangue, Ele medicou pecados impuros e desonestos! O bom Pastor lavou as ovelhas no seu sangue e tu manchas as ovelhas que são tão puras, tudo fazes para atirá-las à lama. Deverias ser um espelho de honestidade e és um espelho de impureza. Fazes justamente o contrário daquilo que realizou o meu Filho, pois orienta para o mal os seus membros. Permiti que os olhos de Cristo fossem vendados para iluminar os teus, e tu, com olhares impuros, atiras fechas envenenadas contra a tua própria alma e contra o coração das pessoas a quem olhas. 

Deixei que Ele bebesse fel e vinagre e tu, qual animal desnorteado, saboreias alimentos delicados, tratando o estômago como a um 'deus'. Sobre tua língua passam palavras desonestas e vazias, quando- por meio dela- devias alertar o próximo, anunciar minha palavra e recitar o Ofício Divino com os lábios e o coração; vejo-te a jurar e imprecar como um desequilibrado, até blasfemando contra mim; permiti que as mãos do meu Filho fossem algemadas para libertar-te, a ti e a todos os homens, dos laços do pecado; e tu usas as mãos ungidas e consagradas em vista da distribuição da Eucaristia, para toques indecorosos; todas as ações, nas quais usas as mãos, estão corrompidas e orientadas para o mal! Ó infeliz! 

E dizer que eu te pusera em tão alta dignidade para servir a mim e à humanidade! Foram os pés de Cristo transpassados pelos cravos, deles fazendo eu um degrau para que chegasses a contemplar os segredos do seu Coração. Transformei seu Coração numa dispensa, onde todos podeis experimentar o amor inefável que vos dedico; ali encontras o sangue, por ti derramado como purificação dos pecados, mas tu fazes do teu coração um templo para o diabo. Tua afetividade, simbolizada nos pés, só me oferece maldade, uma vez que te conduz unicamente a lugares de pecado. Assim, ofendes-me com todo o corpo. 

Fazes exatamente o contrário do que fez Jesus, bem naquele ponto em que tu e os demais homens deveriam imitá-lo. À semelhança de instrumentos musicais, teus sentidos emitem sons desafinados, uma vez que as três faculdades da alma se reuniram em torno do demônio, em vez de o fazerem no meu ser. Tua memória deveria estar cheia com a lembrança dos meus favores; no entanto só contém desonestidades e muitos outros males; quanto à inteligência, era teu dever fixá-la mediante a fé em Cristo crucificado, de quem és, ministro, mas vaidosamente lhe deste por objeto os prazeres, a procura de altas posições sociais, a riqueza mundana; tua vontade haveria de repousar diretamente em mim, mas tu a fizeste amar as criaturas e teu próprio corpo. 

Tens mais amor aos animais do que por mim. Prova disso é a tua impaciência quando te privo de algo, e teu desagrado ante o próximo ao julgares que te prejudicou em alguma coisa. Quando o acusas, revelas que já perdeste o amor por mim e por ele. Ó infeliz ministro, és sacerdote do meu grande amor! A ti foi confiado o fogo sagrado que é minha caridade divina, o abandonas por afeições desordenadas! Nem mesmo podes suportar, em nome dela, um pequeno prejuízo que te cause alguém'.

...

'Filha querida, disse tais coisas para que melhor compreendas a dignidade dos meus ministros e chores com mais amargor os seus pecados. Se os ministros meditassem sobre a própria dignidade, não viveriam em pecado mortal, não manchariam sua alma. Se eles não me ofendessem, se não pecassem contra a própria dignidade, se não entregassem até o corpo para ser queimado, mesmo assim não me agradeceriam suficientemente pelo dom que receberam. Neste mundo é impossível uma dignidade maior. São ungidos meus, meus cristos, postos por mim na função de ministros, flores perfumadas na hierarquia da santa Igreja. Nem os anjos possuem dignidade igual a esta concedida aos homens, na pessoa dos sacerdotes.

Coloquei-os como anjos na terra, e como tais devem viver. De todos os homens exijo pureza e amor; todos devem amar-me e amar o próximo; todos devem socorrer o irmão naquilo que lhes for possível com orações e obras de caridade, assim como já disse em outro lugar, ao tratar desse assunto. Mas dos meus ministros peço pureza maior, maior amor por mim e pelos homens. Que distribuam o corpo e sangue do meu Filho com grande desejo da salvação da humanidade, para glória do meu nome. Da mesma forma como eles querem limpo o cálice usado no sacrifício eucarístico, também eu quero que sejam puros os seus corações, suas almas, seus pensamentos. 

Igualmente seus corpos - instrumentos da alma - hão de ser possuídos em perfeita pureza. Não quero que se envolvam na lama da luxúria, nem que se mostrem inflados de orgulho na procura de cargos prelatícios ou cheios de rancor por si mesmos e pelos outros. A insatisfação pessoal costuma manifestar-se sobre os outros; quando impacientes, os ministros terminarão dando maus exemplos, não se preocuparão em livrar os homens das mãos do demônio, não se dedicarão com esforço ao ministério do corpo e sangue do meu Filho, não distribuirão a luz da eucaristia na forma explicada.

Filha querida, compreendes quanto o pecado contra a natureza me desagrada em qualquer pessoa; mas entenderás também que muito mais me desgosta quando é praticado por aqueles que escolhi para a vida de continência. Uns abandonaram o mundo e se fizeram religiosos; outros são diocesanos. Entre eles acham-se os ministros. Jamais entenderás como tal vício, cometido por eles, ofende-me muito mais do que quando feito pelos leigos em geral e pelos leigos consagrados. Os ministros são lâmpadas colocadas sobre o candelabro e devem iluminar pelo ministério eucarístico, pela virtude, pelo bom exemplo. Mas de fato espalham a escuridão. Vivem na escuridão'. 

(Revelações de Deus Pai à Santa Catarina de Sena)