quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

PALAVRAS ETERNAS (IV)

'Totus tuus ego sum Mariae et omnia mea tua sunt'


Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu é teu

(São Luís Grignion de Montfort)

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (VII)

PARTE VII (Jz 15 - Rt 2)

 [Sansão derruba os filisteus com a queixada de um jumento (Jz 15)]

 [Sansão carrega o portão de Gaza (Jz 16A)]

  [Sansão e Dalila (Jz 16B)]

  [A morte de Sansão (Jz 16C)]

  [O levita encontra o cadáver de sua concubina à porta (Jz 19A)]

  [O levita leva o cadáver da concubina para casa (Jz 19B)]

  [Os benjamitas tomam para si as filhas de Silo (Jz 21)]

  [Noemi e suas duas noras (Rt 1)]

[Rute apanha feixes de trigo no campo de Booz (Rt 2)]

ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (I)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O SINAL DA CRUZ (III)


In hoc Signo vinces - 'Por este Sinal vencerás'

III

A primeira razão do Sinal da Cruz ter sido dado aos homens é a de nos tirarmos do pó, pois é um sinal divino que nos enobrece. Mas por que tirados do pó? Dize-me: quem é que entra chorando no mundo? Que sempre vive sujeito a todas as enfermidades? E que durante largo tempo é incapaz de prover as suas próprias necessidades? Todavia, este ser é a Imagem de Deus e do Rei da Criação e é necessário que ele não se degrade. Mas eis que Deus, tocando-o, imprime na sua fronte um Sinal Divino que o enobrece e este título de nobreza, este Sinal Divino, é o Sinal da Cruz. Sinal divino, porque vem do Céu e não da terra. Percorre todos os países e todos os séculos; não encontrarás em parte alguma o homem que imaginou o Sinal da Cruz, o santo que o inventou ou o Concilio que o impôs.

Quem é, pois, o autor e o instituidor do Sinal da Cruz? Para o encontrar, é necessário transpor todos os séculos, todas as criaturas visíveis, todas as hierarquias angélicas; é necessário subir até ao Verbo Eterno que é — a Verdade em Pessoa. Escuta uma testemunha nas melhores condições de saber o que se refere. Seu testemunho é tanto mais irrecusável, quanto é certo tê-lo valorizado com o timbre do próprio sangue. É’ o grande Bispo de Cartago, São Cipriano, que exclama: 'Senhor, Vós que sois o Sacerdote Santo, nos legastes três coisas imorredouras: o Cálice do Vosso Sangue, o Sinal da Cruz e o Exemplo das Vossas Dores'. E Santo Agostinho acrescenta: 'Ó Senhor Jesus Cristo, Vós quisestes que este sinal ficasse impresso sempre em nossa fronte'.

O brasão do católico é o Sinal da Cruz. Sou católico; portanto, o Sinal da Cruz fala da minha origem e fala a todos da nobreza da minha gente. Uma gente a que pertencem legiões inteiras de Doutores, de Virgens, de Mártires, de poetas, de oradores, de filósofos, de artistas, de grandes legisladores, de reis, beneméritos, guerreiros ilustres, qual é? Esta gente chama-se — a grande População Católica — a qual temos a graça de pertencer. E o Sinal da Cruz é o brasão desse grande povo.

O primeiro sentimento que o Sinal da Cruz desenvolve em nós enobrecendo-nos aos nossos olhos é o respeito por  nós mesmos. O respeito dos outros para conosco mede-se por aquele respeito que temos por nós mesmos. A crueldade, a hipocrisia, a devassidão e o vício só podem inspirar temor. Os homens da atualidade, velhos ou moços — homens todos que nunca fazem o Sinal da Cruz — eles se respeitam? 

Façamos um ensaio de análise... a parte mais nobre do homem é a alma. E da alma, a faculdade mais nobre é a inteligência, dada pelas mãos do próprio Deus para receber a verdade e só a verdade — mas a inteligência é hoje conspurcada e profanada pela mentira e pelo erro. Porventura, o homem de hoje respeita a própria inteligência? E' para satisfazer os nobres anseios da inteligência que hoje ele procura a verdade? Não. Nem gosto mais tem ele pelas fontes puras de onde jorra a verdade, pois os oráculos divinos, os sermões ou os livros ascéticos ou de filosofia cristã causam-lhe náusea. Se porventura pudésseis penetrar o íntimo de uma inteligência batizada, parecerias estar num depósito de trastes ou loja de peças velhas! Encontrarias ali em  misturada confusão — ignorância, contos vãos, frivolidades, preconceitos, mentiras, erros, dúvidas, objeções estultas, impiedades, tolices, negações e inutilidades — triste espetáculo!

Se tua mão não toca em tua fronte para fazeres o Sinal Divino, tocará a miúdo o que nunca deveria tocar. Se não queres armar, com o sinal protetor, os teus olhos, nem os teus lábios, nem o teu peito; então teus olhos mancham-se olhando o que nunca deveriam ver; teus lábios, como mudos faladores, não dizem o que deviam dizer, para dizerem o que para sempre deviam calar; e o teu peito, altar profanado, arde em chamas cujo nome, só em si, já é uma vergonha. Eis então a tua história íntima.

O homem que nunca faz o Sinal da Cruz perde a estima da própria vida. Ele a vilipendia e a desperdiça, porque não a leva a sério: da noite faz dia para o dia lhe ser noite e não recusa nada às tendências e ao gosto, consumindo o seu tempo sem relação com a eternidade. Tudo isso é como tecer teias de aranha, caçar moscas e construir castelos de papelão. Levar a vida a sério é bem aproveitá-la como o exige o seu Único Proprietário — Aquele que dispõe de tudo; Aquele que um dia nos pedirá contas, não apenas do conjunto, mas de tudo; não só dos anos, mas dos minutos. Fatigado, enfim, no caminho das bagatelas e das iniquidades, o que pode esperar então o homem desprezador do Sinal Divino? 

(Excertos adaptados da obra 'O Sinal da Cruz', do Monsenhor Gaume, 1862)

domingo, 12 de janeiro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele' 
(At 10, 38)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020) 

sábado, 11 de janeiro de 2020

REZAR E AMAR

'Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso, o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis aí a felicidade do homem sobre a terra.

A oração nada mais é do que a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e doçura que inebria, e uma luz maravilhosa que o envolve. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém pode mais separar. Como é bela esta união de Deus com sua pequenina criatura! É uma felicidade impossível de se compreender. 

Nós nos havíamos tornado indignos de rezar. Deus, porém, na sua bondade, permitiu-nos falar com ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada. Meus filhinhos, o vosso coração é por demais pequeno, mas a oração o dilata e torna capaz de amar a Deus. A oração faz saborear antecipadamente a felicidade do céu; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita, os sofrimentos desaparecem, como a neve que se derrete sob os raios do sol. 

Outro benefício que nos é dado pela oração: o tempo passa tão depressa e com tanta satisfação para o homem, que nem se percebe sua duração. Escutai: certa vez, quando eu era pároco em Bresse, tive que percorrer grandes distâncias para substituir quase todos os meus colegas que estavam doentes; nessas intermináveis caminhadas, rezava ao bom Senhor e – podeis crer! – o tempo não me parecia longo. 

Há pessoas que mergulham profundamente na oração, como peixes na água, porque estão inteiramente entregues a Deus. Não há divisões em seus corações. Ó como eu amo estas almas generosas! São Francisco de Assis e Santa Clara viam nosso Senhor e conversavam com ele do mesmo modo como nós conversamos uns com os outros. 

Nós, ao invés, quantas vezes entramos na Igreja sem saber o que iremos pedir. E, no entanto, sempre que vamos ter com alguém, sabemos perfeitamente o motivo por que vamos. Há até mesmo pessoas que parecem falar com Deus deste modo: 'Só tenho duas palavras para vos dizer e logo ficar livre de vós'. Muitas vezes penso nisto: quando vamos adorar a Deus, podemos alcançar tudo o que desejamos, se pedirmos com fé viva e coração puro'.

(Excertos da obra 'Catecismo de São João Maria Vianney', do original Catéchisme sur la prière: Esprit du Curé d’Ars, de A. Monnin,, 1899)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A 'ORAÇÃO DO TEMPO' DO GENERAL PATTON

A batalha de Ardenas, que resultou em milhares de mortos entre soldados e civis, foi a última ofensiva alemã de porte na Segunda Guerra Mundial, lançada de surpresa em 16 de dezembro de 1944. Como a Bélgica havia sido libertada três meses antes, ninguém esperava o cerco que as tropas da Wehrmacht imporiam aos soldados americanos da 101ª divisão aerotransportada em Bastogne (sul da Bélgica). Os terríveis combates, que se espalharam por toda a região em meio a um frio polar, duraram seis semanas até a vitória dos Aliados no final de janeiro de 1945.

Neste cenário dramático, o cerco alemão foi rompido pelo Terceiro Exército Americano, sob a liderança do General George Patton (1885 - 1945), um dos mais importantes e carismáticos comandantes militares dos Aliados durante os eventos da Segunda Guerra Mundial. Para romper o cerco, Patton tinha que vencer, além das obstinadas e muito bem treinadas tropas alemãs, as piores condições climáticas possíveis, resultantes de uma combinação crítica de inverno rigoroso, chuvas intensas, terrenos encharcados e neblina, impedindo, assim, qualquer perspectiva ou estratégia militar de superação maciça e imediata das forças inimigas.


Neste cenário de incertezas completas, Patton recorreu  ao capelão católico do Terceiro Exército - James Hugh O´Neill - no sentido do mesmo prover uma oração de súplica a Deus pelas mudanças das condições climáticas locais e, assim, viabilizar a operação militar de superação do cerco alemão. Diante do questionamento do sacerdote de ser prática pouca ortodoxa invocar a Deus por um bom tempo com o intuito de matar homens,  Patton o retrucou: 'Você quer me ensinar teologia ou é o capelão do Terceiro Exército? Eu quero uma oração'. Assim, na falta de uma oração específica, o próprio capelão compôs a 'oração do tempo' solicitada pelo general Patton, nos seguintes termos:

'Pai todo-poderoso e misericordioso, humildemente imploramos, por Vossa grande bondade, conter essas fortes chuvas com as quais tivemos de lidar. Concedei-nos um tempo bom para a batalha. Por favor, ouvi-nos como soldados que Vos invocam para que, armados com o Vosso poder, possamos avançar de vitória em vitória e esmagar a opressão e a maldade dos nossos inimigos e estabelecer a Vossa justiça entre os homens e as nações. Amém'. 

Preparada a oração, Patton foi instado por alguns auxiliares a incluir, junto com a oração, uma saudação de Natal para as tropas sob tensão extremada. A mensagem incluída, do próprio punho do general, tinha os seguintes termos:

'A cada oficial e soldado do Terceiro Exército dos Estados Unidos, desejo um Feliz Natal. Tenho plena confiança em sua coragem, devoção ao dever e habilidade na batalha. Nós vamos avançar com toda a nossa força para uma grande vitória. Que a bênção de Deus repouse sobre cada um de vocês neste dia de Natal'. 

As mensagens foram impressas em um único cartão e distribuídas a cada soldado e oficial do Terceiro Exército (com cerca de 250.000 membros à época). 


No dia seguinte, o tempo mudou radicalmente e permaneceu estável por cerca de seis dias, favorecendo amplamente, não apenas o avanço terrestre das tropas, mas também as condições de voo e dos bombardeios aéreos que permitiram o exército aliado romper o cerco inimigo e enfrentar, de forma demolidora e final, o exército alemão, na chamada Batalha das Ardenas. A batalha se estendeu até o final de janeiro de 1945 e constituiu um dos mais renhidos, decisivos e sangrentos conflitos da Segunda Guerra Mundial.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O SINAL DA CRUZ (II)


In hoc Signo vinces - 'Por este Sinal vencerás'

II

Os cristãos primitivos da Igreja faziam o Sinal da Cruz, faziam-no bem e o faziam muitas vezes. No Oriente como no Ocidente, em Jerusalém, em Atenas, em Roma, os homens e as mulheres, os mancebos e os velhos, os ricos e os pobres, os padres e os simples fieis, todas as classes da sociedade, observavam religiosamente este uso tradicional.

A história não oferece fato que seja mais certo. Todos os Padres da. Igreja, como testemunhas ocuIares, o dizem e todos os historiadores o certificam. Em nome de todos, escuta agora só um — Tertuliano: ' A cada movimento e a cada passo, ao vestir e ao calçar, ao entrar e ao sair de casa, ao lavar, ao assentar-se à mesa, ao acender as luzes, ao deitar e ao levantar, qualquer que seja o ato que  pratiquemos ou o lugar onde vamos, sempre marcamos nossa fronte com o Sinal da Cruz'. Eis o que está bem claro e é muito certo: nossos avós, de um lado ou de outro, a cada instante faziam o Sinal da Cruz. 

Sim. Não só eles o faziam sobre a fronte, mas, a cada passo, também na boca, sobra os olhos e no peito [Santo Efrém, Sermão sobre a Cruz]. Daqui resulta que, se os primeiros cristãos reaparecendo hoje nos lugares públicos ou em nossas casas, fizessem o que faziam há dezoito séculos, seriam tomados por loucos. E', pois, muito verdade que, a respeito do Sinal da Cruz, os cristãos modernos estão sendo uns antípodas dos primeiros cristãos.

A Verdade é uma só; e a razão só pode estar de um lado: ou a razão está com os cristãos de agora ou há de estar com os primitivos cristãos. Se a razão estiver com os de agora, então os antigos não se justificam e por isso não passaram de uns néscios. Se os primeiros cristãos tinham razão e motivos bastantes para se justificar, os cristãos modernos é que estão errados. Não há meio termo. A razão estará com quem? Questão grave; muito grave.

Os primeiros cristãos viram os Apóstolos e os Homens Apostólicos; trataram e ouviram com eles. Deles receberam a Fé e por eles foram batizados. Foi, portanto, nas fontes da Verdade que eles  beberam. Da Doutrina Apostólica, a quem tudo deviam, é que nutriam o Espírito; dela faziam a regra das próprias ações e com inviolável fidelidade a observavam: perseverantes in doctrina apostolorum. Nunca ninguém esteve em melhores condições do que eles para conhecer o pensamento dos Apóstolos sobre a Doutrina de Nosso Senhor. Se, pois, os primeiros cristãos faziam o Sinal da Cruz a cada instante, é forçoso concluir que eles obedeciam a uma recomendação apostólica. 

Não só os primeiros cristãos eram muito instruídos na Doutrina dos Apóstolos; mas, também muito fieis em praticá-la. Disto é prova serem muitos os santos daquele tempo. Não há verdade melhor estabelecida do que a seguinte: a santidade era o caráter comum dos primeiros cristãos. Eles preferiam perder tudo — a liberdade, os bens, o bom nome e a própria vida, em meio dos piores suplícios, antes de que ofender a Deus. Foi um heroísmo que durou tento como as perseguições: três séculos. Eram muito caridosos. O Céu e a terra se uniram para elogiar-lhes o mútuo amor verdadeiro que os unia, único nos anais do mundo. Constituíam um só coração e uma só alma: Cor unum et anima una — diz deles o próprio Deus nas Escrituras. 

Eram ternos e respeitosos para com os Apóstolos, aos quais obedeciam com submissão filial. São Paulo, que não era adulador, escreve aos cristãos de Roma: 'É célebre no mundo inteiro a vossa Fé'. A meu ver, essa santidade constitui a mais poderosa circunstância a favor do Sinal da Cruz. Quando homens daquele caráter, diante da morte, mostram-se invariavelmente fieis a um dado uso, é necessário crer que tal uso é um pouco mais importante do que julgam os cristãos de agora. 

Muito cedo, tanto no Oriente como no Ocidente, se formaram comunidades religiosas de homens e de mulheres, que perpetuaram, com a maior fidelidade, o verdadeiro espírito do Evangelho e a pura tradição do ensino apostólico. Entre os antigos usos, conservados com zelo e cuidado, figura o Sinal da Cruz. Todos os grandes homens que, durante mais de quinhentos anos, se sucederam no Oriente e no Ocidente, aqueles gênios incomparáveis que se chamam os Pais da Igreja — Tertuliano, Cipriano, Atanásio, Gregório, Basílio, Agostinho, Crisóstomo, Jerônimo, Ambrósio e tantos outros, cuja lista espantosa com o seu peso esmaga o orgulho dos séculos — todas estas elevadas inteligências faziam muito assiduamente o Sinal da Cruz e o recomendavam com insistência a todos os cristãos que o fizessem em qualquer ocasião.

(Excertos adaptados da obra 'O Sinal da Cruz', do Monsenhor Gaume, 1862)