domingo, 15 de julho de 2018

A MISSÃO DOS APÓSTOLOS

Páginas do Evangelho - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum


Em Nazaré, Jesus não pôde realizar milagre algum. Ali, foi rejeitado e caluniado pelos seus próprios conterrâneos, movidos pelos escrúpulos humanos dos mistérios da iniquidade. Pois foi dessa mesma Nazaré da incredulidade humana, que Jesus moveu os seus discípulos à missão de um apostolado universal, de forma a levar a Boa Nova a todas as criaturas, a todos os povos e a todas nações: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!' (Mt 28, 18 - 20). Provavelmente para enfatizar a todos eles a dureza da missão que lhes era confiada: as sementes devem ser lançadas, os frutos dependerão da acolhida do coração humano.

Jesus escolheu Doze Apóstolos para esta missão universal. No simbolismo dos números bíblicos, doze é o número da perfeição: 'Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito’(Mt 5, 48). E os enviou 'dois a dois' (Mc 6,7) para que cada um deles tivesse no outro a contrapartida da fortaleza, da vigilância e da perseverança para o pleno cumprimento de uma missão particularmente difícil: 'Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos (Mt 10, 16). E Jesus os exorta, nesta missão, a uma plena disposição de alma, a uma entrega absoluta nas mãos da Providência: 'Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas' (Mc 6, 8 - 9). E lhes deu o dom da cura e o 'poder sobre os espíritos impuros' (Mc 6, 7) 

Não é preciso levar alforge ou vestimenta especial, apenas a entrega complacente à Santa Vontade de Deus. É imperioso o serviço da vocação; os frutos pertencem aos ditames da Providência. O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!' (Mc 6, 11).

Eis a síntese do apostolado cristão para os homens de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo ao mundo inteiro. Ser missionário e se fazer apóstolo, aí estão as marcas de identidade de um cristão no mundo. De todos os cristãos: os primeiros doze apóstolos, os outros setenta e dois, os cristãos de todos os tempos, eu e você. Como cordeiros entre lobos, como emissários da paz entre promotores das guerras, os cristãos estão no mundo para torná-lo um mundo cristão. O apostolado começa com o bom exemplo, expande-se com o amor ao próximo, multiplica-se pela caridade. E ainda que fôssemos capazes de domar a natureza e realizar prodígios, a felicidade cristã não está nos eventos temporais aqui na terra, mas na Eterna Glória daqueles que souberam combater o 'bom combate' (2Tm 4,7).

sábado, 14 de julho de 2018

POEMAS PARA REZAR (XXVI)



CANTAR DA ALMA 

(São João da Cruz)

Sei bem eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu sei bem onde tem sua guarida,
mesmo de noite.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.
Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.
Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda luz dela é nascida,
mesmo de noite.

Sei quão caudalosas são suas correntes,
que céus e infernos regam em enchentes,
mesmo de noite.
A corrente que desta fonte vem
é forte e poderosa, eu o sei bem,
mesmo de noite.
A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas a precede,
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
neste pão vivo para nos dar a vida,
mesmo de noite.
De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam mesmo às escuras,
porque é de noite.
Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida eu a tenho e vejo,
mesmo de noite.

ESCAPULÁRIO DO CARMO: TRIBUTO DE SALVAÇÃO ETERNA


Em 16 de julho de 1251, na visão em que Nossa Senhora do Carmo entregava o escapulário a São Simão Stock, ela fez esta promessa: 'Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno'.

Na bula 'Sabatina', o Papa João XXII escreveu que todo aquele que usar correntemente o escapulário será libertado das penas do purgatório no sábado seguinte à sua morte. Esta graça ficou conhecida como 'privilégio sabatino' e foi ratificada pela Sagrada Congregação das Indulgências, em 14 de julho de 1908, desde que se cumpram as condições devidas.

E quais são estas condições devidas? As mesmas exigidas comumente a todos os fieis católicos, no exercício cotidiano da autêntica fé católica, sem concessões ao mundanismo e ao pecado. A graça extraordinária do escapulário é a certeza explícita de Nossa Senhora de que aqueles que o usam diariamente terão sempre as disposições de alma para viverem plenamente a fé católica e que alcançarão a salvação eterna por Jesus Cristo. Estas atitudes fundamentais são basicamente as seguintes:

⏩ Colocar e buscar cumprir a Santa Vontade de Deus na sua vida;
⏩ Buscar viver convictamente em estado de graça e confessar-se sempre que tiver caído em pecado;
⏩ Viver especialmente a virtude da pureza, guardando a castidade própria de cada estado de vida;
⏩ Escutar a Palavra de Deus na Bíblia e praticá-la na vida cotidiana;
⏩ Buscar a comunhão com Deus por meio da oração diária;
⏩ Ser sensível e atuante em relação ao sofrimento do nosso próximo, de forma concreta;
⏩ Receber adequadamente os sacramentos da Igreja, particularmente a Eucaristia.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

13 DE JULHO - SANTA TERESA DOS ANDES


Joana Fernandes Solar nasceu em Santiago do Chile, em l3 de julho de l900, no seio de uma família tradicional e teve a infância marcada por uma intensa vida mariana, que proporcionou a ela uma sólida base para uma vida cristã autêntica. Desde tenra idade, experimentou uma extraordinária relação sobrenatural com Jesus: 'desde que fiz minha Primeira Comunhão, Nosso Senhor me falava sempre, depois de eu comungar' e com Nossa Senhora: 'minha devoção especial era à Virgem; contava-lhe tudo'.

Aos dezenove anos de idade, em maio de 1919, entrou para o mosteiro das carmelitas dos Andes, tomando o nome de Teresa de Jesus. Sua santidade era óbvia para todos que conviviam com ela, particularmente nos tempos do Carmelo. Viveu no mosteiro dos Andes por apenas onze meses, pois contraiu febre tifoide, vindo a falecer em 12 de abril de 1920, na sua cidade natal. Os seus restos mortais estão depositados na cripta do Santuário de Auco - Rinconada, em Los Andes, no Chile. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II, no dia 13 de abril de 1987, em Santiago do Chile e canonizada, pelo mesmo papa, na Basílica de São Pedro, no dia 21 de março de 1993, tornando-se a primeira santa do Chile e do Carmelo da América Latina.
(cela no Carmelo e jazigo no Santuário de Auco - Rinconada)

quinta-feira, 12 de julho de 2018

SOBRE A OBEDIÊNCIA

O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: 'Logo ao ouvir-me, obedeceu-me'. E do mesmo modo diz aos doutores: 'Quem vos ouve a mim ouve'.

Pois são esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizem respeito e abandonando a própria vontade, desocupando logo as mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo os passos já dispostos para a obediência, a voz de quem ordena. E, como que num só momento, ambas as coisas - a ordem recém-dada do mestre e a perfeita obediência do discípulo - são realizadas simultânea e rapidamente, na prontidão do temor de Deus. Apodera-se deles o desejo de caminhar para a vida eterna; por isso, lançam-se como que de assalto ao caminho estreito do qual diz o Senhor: 'Estreito é o caminho que conduz à vida', e assim, não tendo, como norma de vida a própria vontade, nem obedecendo aos próprios desejos e prazeres, mas caminhando sob o juízo e domínio de outro e vivendo em comunidade, desejam que um abade lhes presida. Imitam, sem dúvida, aquela máxima do Senhor que diz: 'Não vim fazer minha vontade, mas a dAquele que me enviou'.

Mas essa mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus e doce aos homens, se o que é ordenado for executado sem tremor, sem delongas, não mornamente, não com murmuração, nem com resposta de quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é tributada a Deus. Ele próprio disse: 'Quem vos ouve, a mim me ouve'. E convém que seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque 'Deus ama aquele que dá com alegria'. Pois, se o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo que não com a boca, mas só no coração, ainda que cumpra a ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus que vê seu coração a murmurar; e por tal ação não consegue graça alguma, e, ainda mais, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela satisfação.

(das Regras de São Bento)

terça-feira, 10 de julho de 2018

INTERPRETAÇÕES DOS SONHOS DE DOM BOSCO (II)


Ainda no contexto do primeiro sonho de Dom Bosco, são feitas as seguintes considerações adicionais:

O primeiro Conselho tem sido comumente interpretado como sendo o Concílio Vaticano I, realizado no Vaticano entre 08/12/1869 e 18/07/1870, quando foi bruscamente interrompido pele deflagração da guerra franco-alemã em 19/07/1870, que culminou com a ocupação de Roma em 20/09/1870 pelas tropas de Victor Emmanuel II. Em 20/10/1870, o Papa Pio IX (1846 - 1878) suspendeu formalmente o Concílio para uma posterior reabertura e continuação, o que nunca ocorreu. O segundo Conselho corresponderia, então, ao Concílio Vaticano II, que sucedeu ao primeiro quase cem anos depois, tendo sido convocado pelo Papa João XXIII (1958 - 1963) em 25 de dezembro de 1961. Realizado no Vaticano, o CVII estendeu-se entre 11 de outubro de 1962 e 07 de dezembro de 1965, e foi concluído pelo Papa Paulo VI (1963 - 1978), então sucessor do papa João XXIII, falecido em 1963.

O Concílio Vaticano I foi proclamado pelo Papa Pio IX em dezembro de 1864, portanto, menos de três anos após a revelação do sonho profético de Dom Bosco e teve de ser bruscamente interrompido pela guerra ('os pilotos foram mandados de volta aos seus navios', sob a fúria crescente do vento e da tempestade). A Igreja vivia tempos extraordinariamente difíceis à época; o racionalismo e o modernismo devastavam os espíritos em favor de uma descrença quase que generalizada (particularmente da sociedade europeia) diante de fenômenos não explicados rigorosamente pelas leis da natureza. E a visão de Dom Bosco iria confirmar que isso era apenas o prenúncio de tempos muito mais calamitosos.

Com efeito, ao final do relato do sonho em 1862, Dom Bosco questionou a um dos sacerdotes presentes (Dom Miguel Rua, o primeiro sucessor de Dom Bosco) o significado daquelas visões. Após a breve explanação do entendimento dos fatos pelo sacerdote, Dom Bosco lhe retrucou: 'preparam-se gravíssimos sofrimentos para a Igreja; o que até agora aconteceu é quase nada comparado com aquilo que deve acontecer'. Ou seja, os fatos narrados estão encerrados num contexto de tempo mais além que a época de Dom Bosco (e também do Concílio Vaticano I), num futuro mais abrangente, que permitiria uma 'preparação' cuidadosa dos inimigos da igreja para impor a ela 'sofrimentos gravíssimos'. 

Na época do CVI, a gravidade dos fatos era 'quase nada' diante da devastação que estava para acontecer durante a reunião do Segundo Conselho - Concílio Vaticano II (tempos de uma 'borrasca espantosa'). Todos os esforços de ordenamento e zelo doutrinário deste Conselho tornaram-se infrutíferos porque foram forjados no âmbito de uma crescente e desastrosa reforma litúrgica que, rompendo as amarras da Igreja à sã doutrina de Cristo e aos apelos da Virgem de Fátima, a impulsionou desordenadamente para águas turbulentas e mar aberto, à mercê das tempestades e dos ataques insidiosos de todos os seus inimigos ('aquilo que deve acontecer'). 

No nono aniversário de sua coroação como Papa, na Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em 29 de junho de 1972, o Papa Paulo VI revelou: 'Acreditamos que após o Concílio viria um dia de sol brilhante para a história da Igreja. Porém, em vez disso, veio um dia de nuvens, tempestades e de escuridão… e como foi que isso aconteceu? Há um poder, um poder adversário. Chamemo-lo pelo nome: o demônio. Parece que, por alguma rachadura misteriosa, a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus'. Assim, a nossa época expressa a tragédia da nave-mãe submetida a todos os perigos em mar revolto.

Quatro testemunhas tentaram reproduzir os principais aspectos do conteúdo assombroso do sonho e os manuscritos tendem a concordar substancialmente, sendo que as suas pequenas diferenças traduzem meramente as naturais dificuldades de entendimento e apreensão de toda a narrativa apresentada. Em geral, tende-se a concordar que as visões de Dom Bosco abrangem certamente tempos diversos e vários pontificados, a começar por Pio IX. Entretanto, uma discrepância é muito significativa: a narrativa fala em dois ou em três papas da fase final da tremenda batalha? E o próprio Dom Bosco parece ter esclarecido mais tarde (em 1866) em favor da versão de três papas e não de dois, como parece ser mais indicado pela narrativa formal. O primeiro ferimento afeta gravemente um primeiro papa que cai e 'a segunda vez' refere-se ao ferimento mortal causado a um segundo papa que cai e morre, e ao qual sucede o terceiro papa que finalmente há de levar a nau da Igreja, com firmeza e segurança, até lançar âncoras diante dos dois pilares da Fé Católica e que se projetam às alturas do firmamento. É importante ressaltar que a nave majestosa da Igreja pode ser solidamente ancorada aos pilares por duas pequenas correntes, símbolos das devoções aos sagrados corações de Jesus e de Maria. 

É bem possível que estejamos vivendo uma parte da visão de Dom Bosco mas, como toda profecia genuína antes de seu cumprimento final, há muito de incerteza e ambiguidade para se pensar em estabelecer uma interpretação completa dos eventos. O presente exercício é uma mera tentativa de se compreender o conteúdo do sonho, à luz de fatos sobejamente conhecidos. Duas questões, entretanto, parecem ser conclusivas e definitivas: o final da visão revela um incondicional triunfo da Igreja, em escala mundial (a 'calmaria do mar' como um todo), conquistado depois de muita luta e sofrimento. E que este triunfo será alcançado necessariamente por meio da devoção ao Santíssimo Sacramento e pela intervenção explícita de Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos.