domingo, 8 de maio de 2016

A ASCENSÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Festa Litúrgica da Ascensão do Senhor


Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'e no seu nome (de Jesus) serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém' (Lc 24, 47). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória. 

Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança como santos' (Ef 1, 18). E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai', levando consigo a nossa humanidade, tornando-nos participantes do seu mistério pascal e herdeiros de sua glória. 

Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

MAIO COM MARIA: PEQUENA COROA DA SANTÍSSIMA VIRGEM


PEQUENA COROA DA SANTÍSSIMA VIRGEM

V: concedei-me que vos louve, Virgem sagrada.
R: Daí-me valor contra os vossos inimigos.
Creio em Deus.

I

Pai-nosso
Ave Maria.

Sois bem-aventurada, Virgem Maria, que levastes em vosso seio o Senhor, Criador do mundo; destes à luz a quem vos formou, e sois Virgem perpétua.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Ó santa e imaculada virgindade, não sei com que louvores vos possa exaltar; pois quem os céus não podem conter, vós o levastes em vosso seio.
V:. Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave, Maria.

Sois toda formosa, Virgem Maria, e não há mancha em vós.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave, Maria.

Possuís, ó Virgem Santíssima, tantos privilégios, quantas são as estrelas no céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao Pai.

II

Pai-Nosso.
Ave Maria.

Glória a vós, imperatriz do céu; conduzi-nos convosco aos gozos do paraíso.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R. Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, tesoureira das graças do Senhor; dai-nos parte em vosso tesouro.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, medianeira entre Deus e os , homens, tornai-nos propício o Todo-poderoso.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao Pai.

III

Pai-Nosso.
Ave Maria.

Glória a vós, refúgio dos pecadores; intercedei por nós junto ao Senhor.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, Mãe dos órfãos; fazei que nos seja propício o Pai todo-poderoso.
V:Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, alegria dos justos; conduzi-nos convosco às alegrias do céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.

Ave Maria.

Glória a vós, nossa auxiliadora mui prestimosa na vida e na morte; conduzi-nos convosco
ao reino do céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao Pai.

Oremos. Ave, Maria, Filha de Deus Pai. Ave, Maria, Mãe de Deus Filho. Ave, Maria, Esposa do Espírito Santo. Ave, Maria, templo da Santíssima Trindade. Ave, Maria, Senhora minha, meu bem, meu amor, Rainha do meu coração, Mãe, vida, doçura e esperança minha mui querida, meu coração e minha alma. Sou todo vosso, e tudo que possuo é vosso, ó Virgem sobre todos bendita. Esteja, pois, em mim vossa alma, para engrandecer o Senhor, esteja em mim vosso espírito, para rejubilar em Deus. Colocai-Vos, ó Virgem fiel, como selo sobre meu coração, para que, em vós e por vós, seja eu achado fiel a Deus. Concedei-me, ó Mãe de misericórdia, que me encontre no número dos que amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como filhos. Fazei que, por vosso amor, despreze todas as consolações da terra e aspire só às celestes; até que, para a glória do Pai, Jesus Cristo, vosso Filho, seja formado em mim, pelo Espírito Santo, vosso Esposo fidelíssimo, e por vós, sua Esposa mui fiel. Assim seja.

À vossa proteção recorremos, santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Ó Virgem gloriosa e bendita.

('Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, de São Luís Maria Grignion de Montfort)

sábado, 7 de maio de 2016

APARIÇÃO DE JESUS RESSUSCITADO Á SANTÍSSIMA VIRGEM

I. Entre as muitas coisas que Jesus Cristo fez, e os Evangelistas passaram em silêncio, deve, com certeza, ser contada a sua aparição a Maria Santíssima logo em seguida à sua Ressurreição. Nem necessidade havia de referi-la, porquanto é evidente que o Senhor, que mandou honrar os pais, foi o primeiro a dar o exemplo, honrando a sua Mãe com a sua presença visível. Demais, era de inteira justiça que o divino Redentor glorificado fosse, antes de mais ninguém, visitar à Santíssima Virgem; a fim de que, antes dos outros e mais do que estes, participasse da alegria da Ressurreição quem mais do que os outros participara da Paixão.

Um dia e duas noites a divina Mãe ficou entregue à dor pela morte do Filho, mas firme e imóvel na fé da Ressurreição; e quando começou a alvorecer o terceiro dia, posta em altíssima contemplação, começou com ardentes suspiros a suplicar ao Filho que abreviasse a sua vinda. Enquanto está assim absorta em seus veementíssimos desejos, eis que o seu divino Filho se lhe manifesta em toda a sua glória e claridade; fortalecendo-lhe a vista, tanto a do corpo como a da alma, para que fosse capaz de ver e de gozar a Divindade. Oh! com tão bela aparição como não devia sentir-se satisfeita e contente! Quão ternamente não deviam abraçar-se Filho e Mãe! Quão doces e sublimes não deviam ser os colóquios que trocavam!

Avizinhemo-nos, em espírito, de Nossa Senhora, que é também nossa Mãe, e roguemos-lhe que nos permita beijar as chagas glorificadas de Jesus Cristo. Colhamos deste mistério como são bem recompensados por Deus aqueles que acompanham Jesus até o Calvário, quer dizer, que lhe são fieis nas tribulações. Cada um pode fazer suas as palavras da Bem-Aventurada Virgem: Secundum multitudinem dolorum meorum, consolationes tuae laetificaverunt animam meam — Segundo as minhas muitas dores, as tuas consolações alegraram a minha alma.

II. Em companhia de Jesus, seu Filho, a divina Mãe viu um grande número de santos, entre os quais o seu Esposo São José, e os seus santos pais, Joaquim e Ana. Alegraram-se todos com ela, reconhecendo-a por verdadeira Mãe de Deus e agradecendo-lhe os trabalhos e dores sofridas pela Redenção de todos. Oh! que satisfação não devia sentir a Virgem, vendo o fruto da Paixão do Filho em tantas almas resgatadas do limbo. Enquanto ela se regozija com Jesus Cristo por tão grande conquista, os anjos ali presentes, ledos e jubilosos, solenizam o dia cantando com melodia celeste: Regina coeli, laetare, allelluia — Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia. Unamo-nos aos coros dos anjos, unamo-nos com todos os fieis da Igreja, para nos congratularmos com a divina Mãe, e cantemos também: Regina coeli, laetare, allelluia.

Rainha do céu, alegrai-vos; porque o que merecestes trazer em vosso puríssimo seio, ressuscitou como disse. Alegrai-vos, mas ao mesmo tempo, rogai por nós, para que sejamos dignos de ir cantar um dia no reino da glória o eterno allelluia. 'É o que Vos peço também, ó Eterno Pai. Sim, meu Deus, Vós que Vos dignastes alegrar o mundo com a ressurreição de vosso Filho e Senhor nosso Jesus Cristo, concedei-nos, Vos suplicamos, que pela Virgem Maria, sua Mãe, alcancemos os prazeres da vida eterna. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo' [Antífona do Tempo Pascal].

'Meditações para todos os dias e festas do ano' de Santo Afonso Maria de Ligório, Tomo II)

PRIMEIRO SÁBADO DE MAIO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (IV)


Localidade de Despeñaderos, província de Córdoba, Argentina, 10 de outubro de 2009. O que seria mais um mero registro de uma cerimônia de batismo vai se revelar de uma singularidade excepcional. A jovem mãe, Erica Mora, sem maiores recursos, pede a uma fotógrafa presente à cerimônia para registrar o momento do batismo do seu filho, Valentino Mora. A fotógrafa aceita fazer a foto de forma gratuita e registra o momento em que o Padre Osvaldo Macaya, da paróquia da Assunção de Nossa Senhora, derrama água benta sobre a cabecinha da criança. Uma vez revelada, a fotografia mostra uma imagem de singular simetria e simbolismo: as gotas conformam um rosário, com clareza excepcional, num arranjo complexo e, ao mesmo tempo, inverossímil e perturbador.

terça-feira, 3 de maio de 2016

A HERANÇA DA GRAÇA

Quando nos incorporamos no Filho, uma perfeita intimidade com Ele é o legítimo objeto da nossa esperança, a finalidade dos nossos desejos e dos nossos esforços. Ele cresce em nós e dilata o nosso ser, de maneira a tornar-nos cada dia com mais capacidade para o divino. O homem renovado pela graça tira todas as suas faculdades das riquezas abundantíssimas do Verbo, enquanto se despoja de si próprio para se revestir da santidade de Cristo. A incorporação inunda-nos de dons sempre novos: a força do Espírito Santo, o poder divinizante da graça, a glória de que esta vida de união está já secretamente cheia: 'Vós, pois, como escolhidos de Deus, santos e amados, revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, de humildade, de modéstia e de paciência' (Col 3,12) e 'Embora se destrua em nós o homem exterior, todavia o interior vai-se renovando de dia para dia' (II Cor 4,16).

A fusão da alma com Cristo opera-se no próprio fundo do ser e no princípio do tempo: os símbolos tirados da união de substâncias criadas não pedem traduzir esta unidade incomparável e sempre nova forjada pelo amor: 'Para que sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim, e eu em ti, para que também eles sejam um em nós' (Jo 17,21). Deus não põe de parte o que começou; pelo contrário, não cessa nunca de o aperfeiçoar na alma: Ele quer que Cristo cresça em nós até à plena harmonia da idade adulta. O seu Espírito aproxima-se constantemente do Pai para nos unir mais intimamente a Ele: 'Porque todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. Porque vós não recebesses o espírito de escravidão para estardes novamente com temor, mas recebesses o espírito de adoção de filhos, mercê do qual chamamos, dizendo: Abba - Pai' (Rom 8,14-15).

À medida que o conhecimento de Deus cresce dentro de nós, torna-se mais viva a nossa fé no Pai. Quanto mais clara é para nós a evidência de que Deus é caridade, mais pronta fica a nossa alma para se perder nos abismos desse amor. Participamos do amor do Pai pelo Filho, e é com Cristo que repousamos no seio do Pai: 'Livrou-nos do poder das trevas e transferiu-nos para o reino do Filho do seu amor' (Col 1,13). Deste modo, a vida partilhada com Cristo introduz-nos na pátria da Sua eterna glória: 'Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci; e estes conheceram que tu me enviaste. Eu fiz-lhes e far-lhes-ei conhecer o teu nome, a fim de que o amor, com que me amaste, esteja neles, e eu neles' (Jo 17,25-26).

Todos os homens podem viver desta inebriante verdade se se deixarem libertar por ela, se, deixando de fazer das criaturas objeto do seu desejo, as atravessarem a correr como frágeis degraus, como meios inteiramente ordenados para a finalidade divina: 'Nós conhecemos e cremos na caridade que Deus tem por nós: Deus é caridade' (I Jo 4, 16).  Deus procura arrancar-nos cada vez mais a nós próprios, a fim de que já não vivamos para nós, mas d'Ele e para Ele. A minha vontade, o meu coração, o meu espírito foram substituídos pela vontade, pelo coração, pelo espírito de Cristo; eu e Ele somos um em espírito, e eu estou identificado com Ele pelo amor: é esta a experiência e a alegria dos santos: 'Já não vivo, é Jesus que vive em mim!' (Gal 2, 20).

Nada encoraja e fortifica o coração como esta verdade: 'Todas as coisas são vossas, o mundo, a vida, a morte, presente e futuro; tudo é vosso; mas vós sois de Cristo e Cristo de Deus' (I Cor 3,22-23). É esta, com efeito, a herança de Cristo, a obra que Ele realizou livremente morrendo por nós: 'Eis-vos purificados, santificados e justificados em nome de Jesus Cristo, pelo Espírito de Deus' (I Cor 6,11). Tudo devemos à graça e somos apenas o que ela permite que sejamos, mas podemos torná-la ineficaz com as nossas infidelidades. Velar pelo seu crescimento dentro de nós é o objeto digno do nosso esforço: 'O vosso trabalho não é vão no Senhor' (I Cor 15,58) e 'Vigiai, permanecei firmes na fé, sede viris e fortes' (I Cor 16,13).

As fraquezas terrestres hão-de pesar sempre sobre nós enquanto vivermos neste mundo. Os heróis e os gigantes da santidade suspiraram sempre sob a lei do pecado, que, como nós, nunca deixaram de sentir: 'Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo de morte?' (Rom 7,24). O remédio para a nossa fraqueza é o realismo da fé: um olhar franco sobre a nossa própria miséria e sobre as riquezas de Deus. Cristo operou em nós uma obra sublime - a infusão de uma outra vida.

A fé ilumina-nos com uma luz infinitamente mais brilhante que o dia, a caridade abre-nos um horizonte que a natureza não pode sequer suspeitar. O cristão é um homem novo e o ar que ele respira interiormente não é deste mundo; a sua existência foi recomeçada segundo um plano divino. Embora ele continue a arrastar o peso do corpo e das suas inclinações inferiores, revestiu-se já de outra Pessoa: 'Despojai-vos do homem velho com todas as suas obras, e revesti-vos do novo, daquele que renovando-se continuamente à imagem daquele que o criou, atinge o conhecimento perfeito. Nesta renovação não distingue entre o escravo e o homem livre, é Cristo que é tudo em todos' (Col 3,9-11) e 'O homem que está em Cristo é uma nova criatura; passaram as coisas velhas; eis que tudo se fez novo. E tudo isso vem de Deus' (II Cor 5,17).

O coração é novo, são novos o espírito e a vontade; sim, o homem é novo a partir do momento em que se abriu inteiramente para a graça. E aquilo que Deus lhe dá, a vida divina, não pode ser-lhe arrancado por nada que tenha sido criado, se ele o não consentir: 'Quem nos separa, pois, do amor de Cristo? A tribulação?  A angústia?  A fome?  A nudez?  O perigo?  A perseguição?  A espada? Mas de todas estas coisas saímos vencedores por aquele que nos amou. Porque eu estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Jesus Cristo nosso Senhor' (Rom 8,35-39).

(Excertos da obra 'Intimidade com Deus', de um cartuxo anônimo)