'A lembrança das minhas faltas humilha-me, leva-me a nunca me apoiar na minha força que só é fraqueza, mas esta lembrança fala-me mais de misericórdia e de amor. Quando lançamos as nossas faltas com uma confiança inteiramente filial no braseiro devorador do Amor, como não seriam elas consumidas para sempre?
'Coloquemo-nos então humildemente entre os imperfeitos, consideremo-nos almas pequenas que Deus tem de amparar a cada instante: desde que Ele nos vê bem convencidas do nosso nada estende-nos a mão; se ainda queremos tentar fazer alguma coisa de grande mesmo com o pretexto de zelo, Jesus deixa-nos sozinhos... Sim, basta humilhar-se, suportar com doçura as próprias imperfeições. Eis a verdadeira santidade! ... Corramos para o último lugar, pois ninguém nos virá disputar com ele'.
'Suponha que o filho de um grande médico encontre no caminho uma pedra que o faz cair e que, na queda, ele fratura um membro. O pai acorre imediatamente, levanta-o com amor, trata das suas feridas, empregando para tal todos os recursos da sua arte. Uma vez completamente curado, o filho testemunha-lhe o seu reconhecimento. Sem dúvida, esse filho tem muita razão para amar o pai! Mas vou fazer ainda outra suposição. Tendo o pai ciência que no caminho do filho havia uma pedra, apressa-se a ir à frente dele e retira-a, sem ser visto por ninguém. Certamente, este filho, objeto da sua previdente ternura, não sabendo a desgraça de que o pai o livrou, não lhe testemunhará o seu reconhecimento, e amá-lo-á menos do que se tivesse sido curado por ele… Mas, e se vier a saber o perigo do qual escapou, não o amará ainda mais? Pois bem, eu sou essa filha, objeto do amor previdente de um Pai que não enviou o seu Verbo para resgatar os justos, mas os pecadores. Quer que o ame, porque me perdoou, não muito, mas tudo. Não esperou que eu o amasse muito como Santa Madalena, mas quis que eu soubesse como me tinha amado com um amor de inefável previdência, para que agora o ame loucamente!'