A alma interior é elevada acima de si mesma, projetada não apenas além das suas faculdades sensíveis, mas também acima de suas faculdades intelectuais da inteligência e da vontade. Ela foi conduzida por Deus à plenitude, ao cume da vida espiritual, quase capaz de tocar o céu. Dali, calma, serena e silenciosamente, viva e amorosa, ela escuta a voz de seu Deus, a lhe sussurrar: 'Olha!'. Eis a hora da iluminação, das revelações íntimas, das confidências e dos segredos. Os olhos se abrem e a alma vê a terra como a vê do céu. E a alma vê o céu como o veríamos da terra se soubéssemos olhar. Contemplação que compreende tudo - céu e terra - em um único olhar de profundidade infinita.
Se o Senhor desejar fazer alguma confidência à alma, o momento é esse. E sem precisar de palavras, quase sem que a alma possa perceber, diz-lhe o que tem a dizer. Ao retornar à sua vida cotidiana, a alma retém dos fatos uma memória geral que, embora vaga, é muito real: foi tocada pela graça. Então, no momento certo, esse ensinamento escondido transparece claramente para ela de forma simples, sem esforço, como uma mensagem limpa, precisa, firme, segura e prática, que a surpreende e emociona. Sob a influência do Espírito da Verdade e do Amor, a misteriosa semente germinou e se abre docemente no instante oportuno. E embora o Verbo Divino tenha se contentado em tão somente se acercar da alma escolhida, por ser luz, inunda a alma de sua luz. Assim, quando a alma retorna aos seus afazeres normais, não vê mais as coisas com os mesmos olhos, não as interpreta mais do mesmo modo. Ela não é mais a mesma, e as coisas não são mais as coisas passadas.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)